Em Campo Grande, um negócio de impacto social resgata a cultura afro-brasileira e empodera mulheres
Por Maria Clara Matturo*
Resgatando a cultura afro-brasileira e impulsionando mulheres periféricas o coletivo e espaço cultural "As Josefinas Colab" está causando impacto em Campo Grande. Fundado pela moradora da região, Aira Nascimento, de 39 anos, o projeto nasceu da vontade de garantir novos lugares para mulheres periféricas no meio dos empreendimentos, e só foi reforçado quando Aira decidiu investir no próprio negócio e enfrentou um mercado preconceituoso e majoritariamente masculino.
"Em meados de 2018 fui a São Paulo em um evento do movimento blackmoney, unindo a terapia e orientação com a Tati Brandão, que trabalha com liderança negra. Lá conheci a ONG Asplande, que atua com mulheres empreendedoras da periferia. Hoje falo que a Asplande é um lar para mim, aprendo e troco com elas. Da Asplande surgiram muitas parcerias e, no início de 2019, nascia a ideia de montar um espaço para mulheres, onde elas pudessem colocar sua veia criativa para fora, sem medo de errar, podendo trazer seus filhos, e que também fosse de celebração de nossa cultura ainda marginalizada", conta a empreendedora.
Natural de Natal, no Rio Grande do Norte, Aira mora na Zona Oeste há 30 anos, tempo suficiente para ela não ter dúvidas de onde faria seu projeto acontecer: "Em uma madrugada acordei e lembrei da casa que estamos hoje, que foi cedida por familiares, e pensei 'minha Zona Oeste, é lá! Sempre foi lá! Quanta potência, quantas mulheres, o lugar mais populoso do Rio'. Quero mostrar ao mundo que aqui é local de mulheres potentes, que nossa maternidade não nos limita, que a violência que nos é imposta - seja física ou psicológica - é o medo de nos verem em lugares de liderança, pois nós temos a força de gerar e gerir vidas com equilíbrio, paz, sem fundamentalismo e sem exploração da mão de obra".
Motivação é uma palavra que não falta no vocabulário de Aira que, mesmo já tendo feito tanto, ainda almeja lugares mais altos. "Hoje somos uma rede com mais 100 mulheres, com a campanha #apoieumaempreendedoraperiferica, alcançamos diretamente mais de 5 mil pessoas e indiretamente 10 mil. Agora estamos indo para nossa próxima etapa: fortalecer parcerias, gerar trabalho e capacitação de cuidado emocional mútuo entre nós. Queremos fazer da Zona Oeste referência em negócios de impacto no Rio. Uma grande rede de mulheres gerando e gerindo novas formas de pensar o mundo", finaliza Aira.
Apoie uma mulher periférica
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Recentemente, As Josefinas foram responsáveis por uma ação em prol das mulheres periféricas. A coordenadora da campanha Karem Marmello, de 42 anos, contou como tudo começou: "Começamos no dia 23 de março a organizar o recebimento de cestas básicas e fazer uma logística de distribuição, tanto para a nossa rede de empreendedoras, quanto para cadastrar as mulheres da nossa rede de atuação. Nós não só assistimos na questão da alimentação, mas queríamos dar um norte para toda a produção e criatividade delas, o que fazer, por onde começar ou recomeçar, então pensamos em dar uma assistência contínua de mentoria, para ajudar essas mulheres a utilizarem as redes sociais e impulsionarem seus negócios, com oficinas de fotografia e escrita".
Mais do que impactar, Karem foi impactada pela vida de todas essas mulheres. "Eu sou uma mulher mais potente depois disso tudo, depois desse caminho que trilhamos juntas a nossa confiança ficou muito maior umas nas outras. Nosso carinho, nosso fazer, ficou mais forte. Eu, depois de todo esse processo, sou uma mulher diferente, empoderada, e sei que sozinha não estou. O que eu passo, outras mulheres passam. Essa unidade ameniza todo sofrimento", garante.
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Impacto mais que positivo
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Dona de uma loja de decoração africana, Alexia Sant'Anna, de 42 anos, é uma das empreendedoras impactadas por esse trabalho. "As Josefinas entraram para a mimos.nagô, que é a minha marca, de uma forma diferenciada na pandemia por conta do auxílio emergencial de cestas básicas. Quando nos vimos sem conseguir vender, fazer feiras e exposições, As Josefinas vieram com a salvação para muitas famílias de mulheres empreendedoras periféricas e eu fui uma delas", lembra.
Agora, restabelecida, ela pode dar uma atenção especial à sua loja, que pode ser encontrada no Instagram @mimosbantunago. "Eu faço peças que geram reconexão com a simbologia africana, trago toda uma pesquisa das culturas, minha arte tem direcionamento ancestral. Então busco gerar reconexão com os povos pretos e o entendimento dos povos não pretos de que a África é um continente pluriversal extremamente rico, que traz valores de sabedoria. Isso começou em 2017, não queria voltar para o mercado formal e resolvi ser uma empreendedora para ter um tempo flexível para criar o meu filho", finaliza.