Yago Lima  - Arquivo pessoal
Yago Lima Arquivo pessoal
Por LUANA BENEDITO
Rio - Joyce Brasil e Yago Lima não se conhecem, mas compartilham alguns dos mesmos sonhos: viajar, voltar a trabalhar, não sentir dor e, sobretudo, ter acesso ao remédio que lhes garante a vida. A educadora infantil, de 34 anos, e o técnico em enfermagem, de 24, tem a doença de Hodgkin, um tipo de câncer que se origina no sistema linfático, e os dois lutam na Justiça para conseguir o tratamento com o medicamento Nivolumabe, que custa cada caixa mais de R$ 10 mil, de forma gratuita.
Joyce - Reprodução Instagram
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A medicação é indicada para pacientes que já passaram por todos os outros métodos de tratamento, como cirurgia oncológica, radioterapia e quimioterapia. Joyce e Yago fizeram até transplante de medula óssea. “Todos os tratamentos que existe no SUS eu fiz”, comenta o técnico em enfermagem.
Ao O DIA, o Ministério da Saúde informou que o medicamento não está incorporado no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a pasta, o entanto, os hospitais credenciados e habilitados em oncologia são responsáveis pelo fornecimento dos medicamentos oncológicos podem adquirir e fornecer fármacos - pagos com os recursos de média e alta complexidade enviados aos estados e municípios pelo órgão.
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Yago foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin em 2013 e passou por diversos tratamentos, até quem em 2018 fez o uso da medicação por três meses durante um estudo do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e apresentou melhora significativa da doença. Os médicos recomendaram que o morador de Saquarema, na Região dos Lagos, continuasse com o remédio. Ele entrou na Justiça e teve as liminares favoráveis.
A Justiça Federal estabeleceu que a União, por meio do Inca, fornecesse o Nivolumabe para o jovem. “Eu vou lá de 15 em 15 dias, basicamente, para visitar o médico. O que vai me manter vivo é o remédio e não estão me fornecendo. O mais triste de tudo é ter conseguido esse direito na Justiça e ele não estar sendo respeitado”, desabafa Yago.
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Yago Lima - Arquivo pessoal
O técnico de enfermagem completa 25 anos na próxima semana e não esconde o seu desejo: “Levantar não sentir dor, porque esse remédio tira minhas dores, e eu vivo com a iminência da morte. Sonho em viajar e voltar a trabalhar. Fiz o meu curso porque amo cuidar de pessoas”.
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Joyce também passou pelo estudo do Inca e fez o uso do remédio por três meses em 2019. “Logo de início deu um bom efeito. O médico recomendou que continuasse, entrei na Justiça, mas não consegui uma decisão favorável”, conta.
“Esse tempo que estou sem a medicação eu passei acordar todo dia com medo. Como meu câncer atingiu o osso da lombar, eu tenho medo de tudo. O câncer é muito traiçoeiro. Em vários momentos eu estou bem, e do nada de um dia pro outro eu estou com dores insuportáveis”, lamenta a educadora.
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Sem acesso ao remédio pela Justiça, a moradora da Pavuna, Zona Norte do Rio, decidiu fazer uma vaquinha virtual. A meta é R$ 312 mil para que Joyce consiga fazer 12 ciclos sem interrupção, cada ciclo da educadora custa R$ 26 mil. A campanha está disponível no site: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/todos-pela-joyce-joyce-brasil.
Um médico do Inca, que preferiu não se identificar, falou sobre a importância da medicação em casos como o de Joyce e Yago. “Para o linfoma é uma droga muito eficaz. Isso já é comprovado em torno de dois anos. O Inca negar isso é desumano, pois sem o medicamento eles morrem. Não tem outro termo é condenar o paciente a morte. A uma morte precoce”.
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Joyce Brasil teve pedido negado - Reprodução Instagram
Procurado, o Inca informou que o Nivolumabe não faz parte do rol de medicamentos padronizados pelo SUS para tratamento oncológico. “O paciente Yago de Lima Pedro está em tratamento no Instituto desde 2013. Qualquer informação sobre o processo judicial do paciente cabe somente à Coordenação-Geral de Gestão de Demandas Judiciais em Saúde da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde responder”. Já a União, não havia respondido até a publicação desta reportagem.
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Em Paracambi, na Baixada, pacientes lutam para realizar tomografia
Moradores de Paracambi, na Baixada Fluminense, denunciam a falta de um tomógrafo. A jovem Camila Souza, 25 anos, conta que a mãe em tratamento no Hospital do Fundão, na Zona Norte do Rio, perdeu uma consulta no último dia 22 por não ter feito o exame.
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Meire Souza, de 50 anos, teve câncer de mama, se curou e precisa fazer tomografia a cada seis meses como forma de prevenção. A paciente também precisa fazer o exame de cintilografia que não foi autorizado ou realizado pela Secretaria de Saúde de Paracambi, segundo a filha.
“Esse tomógrafo foi inaugurado num dia e uma semana depois estava quebrado. Falam que tem tomógrafo aqui, mas ele fica mais quebrado que funcionando”, diz Camila. Procurada, a Prefeitura de Paracambi não havia se manifestado até a publicação.
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Alfredo Scaff, médico e consultor da Fundação do Câncer, alerta para a importância de investimentos na saúde pública brasileira. “O câncer é um grande problema de saúde pública, uma quantidade enorme de casos e mortalidade”.