Leonice, tia de Leônidas, diz que socorro ao menino teria demorado - Reginaldo Pimenta / Agência O Dia
Leonice, tia de Leônidas, diz que socorro ao menino teria demoradoReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Por Yuri Eiras e Lucas Cardoso
Rio - A lembrança da doçura de Leônidas Silva é o que vai ficar para a família: uma criança amável, flamenguista fanático, torcedor da Beija-Flor e fã do desenho animado Naruto. O menino de 12 anos, que morreu sexta-feira, após ser baleado na cabeça em frente a um supermercado na Avenida Brasil, será enterrado neste domingo, às 14h, no Cemitério de Inhaúma. Familiares apontam negligência da Polícia Militar no socorro.
Leônidas foi atingido na companhia da avó, a quem chamava de mãe. Eles iam a um supermercado na Avenida Brasil, na altura da Nova Holanda, na Maré, quando o jovem foi atingido na cabeça durante uma troca de tiros entre dois veículos. Uma viatura da Polícia Militar estava a poucos metros do local, mas, segundo os familiares, só prestou socorro após a pressão de populares. "Quando acabou o tiroteio, ela (a avó) pediu para colocarem ele no carro. Leo ainda estava falando. Mas demoraram uns 40 minutos para resgatá-lo. O pessoal na rua é quem fez pressão, gritando para os policiais: 'Leva! Leva!'", contou Leonice Silva, tia de Leônidas que também ajudou na criação do menino, que morava com o pai - a mãe biológica mora no Nordeste.
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Neste sábado, os parentes estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no Centro, para o reconhecimento do corpo. "Ela está debilitada, mas queria vir para enfatizar que eles não socorreram. Ela teve que gritar, jogar cadeiras na Avenida Brasil para chamar atenção. O médico (do Hospital Federal de Bonsucesso) falou que se tivessem chegado um pouco antes, poderia ter salvado".
Guilherme, primo de Leônidas, contou que a avó do jovem está "desamparada" e "com sentimento de culpa por ter deixado ele acompanhá-la no mercado. O familiar apontou omissão do Estado no socorro e questionou a política de segurança. "Quantos mais vamos ter que enterrar?".
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Criança 'pura', fã do Flamengo e da Beija-Flor
Muito abalado, o pai de Leônidas, Ancelmo Silva, lembrou dos momentos com o filho. "A gente assistia juntos todos os jogos do Flamengo. Ele sempre fazia a comemoração do Gabigol. Adorava ver Naruto e desfile de escola de samba, também. Imitava até o grito de guerra do Neguinho da Beija-Flor", lembrou. "A gente assiste na televisão e nunca acha que vai acontecer com a gente. Agora, estou aqui. Meu filho foi embora". A família é da igreja, principalmente a avó, que o criou, e a tia, que canta em corais. Ele dizia que tinha o sonho de cantar com ela quando crescesse. Em uma imagem, Leônidas participa de uma celebração com um microfone na mão.
Família conta que desde novo adolescente gostava de cantar na igreja - Arquivo Pessoal
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Em nota, a Polícia Militar informou queum motorista teria acionado uma patrulha do 22º BPM (Maré) informando que estava sendo perseguido por dois veículos. Ao passarem pela viatura, os ocupantes desses dois carros teriam disparado contra a viatura, baseada próxima ao local onde Leônidas foi atingido. Os PMs se abrigaram e não teriam reagido aos tiros. Os veículos seguiram na pista sentido Zona Oeste.

A informação é diferente da versão apresentada por testemunhas, que apontam o confronto entre o motorista de um veículo com os ocupantes de outros dois carros. Além de Leônidas, uma mulher também foi baleada no braço, passou por atendimento no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) e foi liberada ainda nesta sexta-feira. De acordo com a Polícia Civil, agentes da 21ª DP (Bonsucesso) realizam diligências para identificar os autores dos disparos que tiraram a vida do adolescente e balearam a mulher.
Vítimas da violência
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De acordo com a ONG Rio de Paz, com Leônidas, chega a dez o número de crianças vítimas de disparos de arma de fogo no Estado. A última vítima foi Maria Alice, de 4 anos, baleada em um confronto entre bandidos em Três Rios, no Vale do Paraíba, no dia 3 de julho. Ela chegou a ser internada no Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, mas não sobreviveu.
Suporte à família 

A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Alerj está prestando assistência a família de Leônidas. Uma representante da CDHC da Alerj esteve no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) ontem a noite para orientar a família em relação ao atendimento psicológico e jurídico.