Av Brasil, altura da favela da Nova Holanda - REPRODUÇÃO GOOGLE MAPS
Av Brasil, altura da favela da Nova HolandaREPRODUÇÃO GOOGLE MAPS
Por Yuri Eiras
Rio - Baleada no braço durante o tiroteio de sexta-feira, na Avenida Brasil, Neilany Martins afirmou que policiais militares negaram socorro duas vezes, mesmo cientes da gravidade dos ferimentos. Funcionária de logística de uma empresa da região, ela estava no ponto de ônibus quando criminosos em um carro dispararam contra um homem, que reagiu. Neilany tentou correr para dentro de um supermercado, mas foi atingida no braço esquerdo. Ela foi atendida no Hospital Federal de Bonsucesso (HFB) e liberada no mesmo dia. Leônidas Silva, de apenas 12 anos, morreu ao ser baleado na cabeça. Ele acompanhava a avó no supermercado.
O confronto ocorreu quando um homem era perseguido por criminosos em um carro. Ele parou em frente a um supermercado na altura da favela da Nova Holanda, na Maré, onde havia uma viatura policial. Nesse momento, os perseguidores dispararam contra ele, que reagiu. Na troca de tiros, Neilany foi baleada no braço e Leônidas na cabeça. Em contato com O DIA, Neilany afirmou que os PMs negaram ajuda duas vezes. Na primeira, a viatura que fica localizada em frente ao supermercado não a resgatou para o hospital. Depois, um outro veículo policial passou e também negou auxílio.
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"Eu estava no ponto de ônibus esperando para voltar para casa. Quando deu os tiros, corri em direção ao mercado, mas antes de chegar lá senti meu braço quente. Fui pedir ajuda para alguém, ninguém me ajudava. Aí falaram: 'vai falar com a polícia'. Os policiais me viram, mas não me atenderam. Disseram para eu ficar sentada e não me levaram para o hospital", contou. Minutos mais tarde, ela teria a ajuda negada mais uma vez. "Minha chefe mandou um carro da empresa para me socorrer. Nesse momento passou outra viatura. Um mototaxista pediu para me ajudarem, mas os PMs disseram: 'não podemos socorrer'".
A versão de Neilany é semelhante a das testemunhas. "Eu estava no ponto de ônibus esperando para poder ir para minha casa, quando veio um carro branco cantando pneu na direção do ponto de ônibus e entrou no estacionamento do supermercado. Já tinha uma viatura da polícia ali. Ele parou em frente à viatura, desceu do carro e começou a disprar na direção da pista". Em nota, a PM informou que "policiais militares foram acionados pelo motorista de um carro informando que outros dois carros estavam o perseguindo na pista sentido Zona Oeste. Neste momento, os carros citados passaram onde a viatura estava baseada e seus ocupantes fizeram disparos de arma de fogo. A equipe policial se abrigou e não reagiu ao ataque criminoso".
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Moradora de Belford Roxo, Neilany saiu mais cedo do trabalho quando o confronto ocorreu. "Estava indo buscar meu filho porque a gente ia viajar por conta do feriadão. Minha empresa, inclusive, liberou mais cedo".
PM diz que socorreu a vítima mais grave
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Em nota, a Polícia Militar defendeu que"a criança foi socorrida imediatamente após cessarem os disparos", e disse ainda que "no local havia apenas dois policiais, que priorizaram o socorro a vítima mais grave. Os militares acionaram apoio ao local. Posteriormente, equipes do 22ºBPM (Maré) localizaram um veículo abandonado na Av. Brasil com perfurações provocadas por disparos de arma de fogo. Possivelmente o carro teria participado da ação criminosa".
Jovem será enterrado hoje
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Leônidas Silva, jovem morto no confronto, será enterrado na tarde deste domingo, no Cemitério de Inhaúma. No sábado, familiares que foram ao Instituto Médico Legal (IML) para fazer a liberação do corpo apontaram omissão do Estado no episódio. "Quando acabou o tiroteio, ela (a avó) pediu para colocarem ele no carro. Leo ainda estava falando. Mas demoraram uns 40 minutos para resgatá-lo. O pessoal na rua é quem fez pressão, gritando para os policiais: 'Leva! Leva!'", contou Leonice Silva, tia de Leônidas.