Jogo desenvolvido por mulheres negras traz representatividade
"Nia: a jornada de uma jovem negra" conta a história de uma estudante periférica e bolsista de 15 anos até chegar à escola
Rio - O mercado do desenvolvimento de jogos ainda peca pela falta de representatividade, sobretudo de mulheres e pessoas negras. Levantamento do 2º Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais, realizado pela Secretaria Especial de Cultura em 2018, aponta que 20,7% dos sócios e funcionários de estúdios de games são mulheres e apenas 10% são negros. Para mudar a proeminência do protagonismo de homens brancos, uma equipe do Cinema Nosso composta inteiramente por mulheres negras desenvolveu o jogo de cartas analógico "NIA: a jornada de uma jovem negra".
O objetivo do jogo é fazer com que a protagonista Nia, garota periférica de 15 anos, consiga se deslocar de casa até a escola em que estuda como bolsista. No percurso, os jogadores devem responder questões e percorrer o tabuleiro até o final. Com classificação etária de 8 anos e duração média da partida em 30 minutos, as cartas do jogo se propõem a fomentar a discussão sobre a cultura brasileira como forma de reparação histórica.
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"Nós decidimos fazer cartas de perguntas e curiosidades sobre personalidades, movimentos e momentos importantes da cultura brasileira, mas que foram protagonizados por pessoas negras. Eu descobri muita coisa enquanto fazia as cartas, coisas que nem sequer comentaram na escola, que mudaram o rumo do Brasil”, define a estudante Clara Santos, uma das responsáveis pelo conteúdo do jogo.
Durante as atividades do jogo, as desenvolvedoras se preocuparam em passar conteúdos relevantes sobre culturas e história afro-brasileira, mas também se propõe a discutir e combater o racismo sem perder a linguagem lúdica do jogo, mas também apresentar a trajetória e o sucesso de pessoas negras. "Ao conhecer a trajetória de personalidades pretas que fizeram e fazem história no meu país, eu senti que posso fazer o que quiser também”, explica a publicitária e produtora audiovisual Ana Beatriz Ramos. Desde a conclusão do projeto, em setembro de 2020, a equipe procura parcerias para distribuição.
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A iniciativa começou em novembro de 2019, com a cooperação de mais de 60 jovens negras, mas, com a pandemia, adaptaram para o formato online, e a proposta mudou: fazer um jogo analógico. Apesar da alteração, o foco continua a ser jovens entre 13 e 15 anos, idade importante para a construção da autoestima e para a identificação.