Douglas Bellot estava perto de casa quando foi atingido, próximo à comunidade do Bateau Mouche - Reprodução / TV Globo
Douglas Bellot estava perto de casa quando foi atingido, próximo à comunidade do Bateau MoucheReprodução / TV Globo
Por Yuri Eiras
Rio - "Boa tarde para todos, família. Muita saúde, muita paz. Que Deus abençoe nossa família, não só agora, mas para todo o sempre". Os áudios de Douglas Bellot no grupo de Whatsapp serão as lembranças da família, agora despedaçada pela morte misteriosa do camelô de 36 anos. Pai de três filhos, todos com menos de oito anos, Douglas foi assassinado com tiros na cabeça e na barriga perto de casa, na parte alta da favela do Bateau Mouche, na Praça Seca. A esposa chegou a ouvir os disparos e sentir o cheiro da pólvora. Minutos antes, ela havia recebido uma mensagem do marido dizendo que já estava chegando.
A mochila de Douglas, com documentos, celular e carteira, foi roubada. A residência fica perto de uma área que serve de monitoramento da milícia que atua na região. Testemunhas acreditam que ele tenha sido morto pelos milicianos. A Delegacia de Homicídios investiga o caso.
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Familiares estiveram neste sábado (24) no Instituto Médico Legal (IML) para o reconhecimento do corpo. Douglas será enterrado no domingo, no Cemitério de Inhaúma. O velório deverá ter a presença de dezenas de camelôs que trabalhavam com 'DG' no BRT do Mercadão de Madureira. "No BRT, não tem um que fale mal do DG. Ele chamava a atenção de quem fazia algo errado dentro da estação, se sabia que tinha acontecido algo dava bronca, chamava os moleques. Era muito querido, um cara totalmente do bem", comentou um amigo que preferiu não se identificar.
Barraca de DG fazia sucesso
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Muito movimentada, a barraca de Douglas dentro da estação do BRT vendia de chocolates a cerveja e era o principal sustento da família. DG morava com a esposa e três filhos - de um, seis e oito anos -, e havia acabado de comprar ar-condicionado e televisão de 60 polegadas. "O DG do Mercadão era um cara humilde, pensava na família. Dava muitos conselhos para os sobrinhos, cunhados. Todo dia mandava mensagem, sempre perguntando se queria alguma coisa. Todo dia tinha mensagem dele: 'bom dia família, bom dia de trabalho, fiquem com Deus'. Tava conseguindo as coisinhas dele, reformando a casa. Trabalhava muito".
 
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Douglas Bellot estava perto de casa quando foi atingido, próximo à comunidade do Bateau Mouche - Reprodução / TV Globo
Douglas Bellot estava perto de casa quando foi atingido, próximo à comunidade do Bateau MoucheReprodução / TV Globo
Milícia pode ter envolvimento
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Milicianos podem ter envolvimento na morte de Douglas. A casa do vendedor ambulante fica perto de uma área de mata onde criminosos passam a madrugada monitorando a movimentação do morro. Segundo colegas, Douglas costumava subir avisando: "é o DG, morador". A morte ocorreu no início da madrugada de sexta-feira, mas testemunhas disseram que a perícia policial teve dificuldades para chegar até o local, justamente por conta de a região ser dominada pela milícia. Questionada pelo DIA, a Polícia Civil afirmou que "a perícia foi feita no local e o corpo da vítima foi encaminhado para identificação no Instituto Médico Legal (IML)/Centro". Em nota, informou ainda que "os agentes realizam diligências em busca de informações que ajudem a identificar a autoria do crime".
Guerra na Praça Seca
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A região da Praça Seca vem sendo disputada entre grupos de traficantes e milicianos. No dia 27 de julho, o jovem Caio de Jesus Barbosa, de 24 anos, foi morto durante um confronto entre criminosos. Ele estava com casamento marcado para setembro deste ano. Segundo moradores, bandidos do Comando Vermelho (CV) tentam voltar a controlar a região, que é dominada pela milícia.