Cidade - Construções irregulares sob estruturas do Metrô e viadutos. Na foto, Casas em triagem. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Cidade - Construções irregulares sob estruturas do Metrô e viadutos. Na foto, Casas em triagem.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Yuri Eiras
Rio - No Rio de Janeiro profundo, longe dos cartões-postais e da assistência do poder público, famílias cariocas batalham como podem por um teto. Centenas de moradias foram construídas debaixo de viadutos da cidade nos últimos anos, pondo em risco quem circula por cima e, principalmente, quem vive embaixo. Boa parte das casas são bem construídas, de alvenaria, com rede de água e luz. Na Avenida Dom Hélder Câmara, na altura de Benfica, um movimentado comércio foi instalado, há anos, sob o viaduto do metrô. Retratos de um desenvolvimento que parece custar a ser erguido.
Dezenas de casas foram construídas nos últimos anos debaixo do Viaduto Ana Néri, em Triagem, e também sob a linha do metrô que cruza o bairro. O local foi batizado como Vila Triagem. Os primeiros moradores chegaram ali há cerca de oito anos, pela promessa de um apartamento no conjunto popular Bairro Carioca. Sem vagas, famílias acabaram subindo casas no espaço, imprensadas sob as estruturas dos viadutos e pela linha do trem, que passa ao lado. "Se eu tivesse opção, não moraria", resumiu uma moradora que preferiu não se identificar.
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Casas e comércios também foram construídos sob a estrutura do metrô na Avenida Dom Hélder Câmara, em Benfica. Ali, habitações bem construídas se misturam a outras precárias, de plástico e papelão, que abrigam a população de rua que circula pela região.
Cidade - Construções irregulares sob estruturas do Metrô e viadutos. Na foto, Comércios e moradias no Jacaré. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Cidade - Construções irregulares sob estruturas do Metrô e viadutos. Na foto, Comércios e moradias no Jacaré.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
A Casa Fluminense, organização que propõe políticas públicas para o Rio de Janeiro, lançou há dois meses a 'Agenda Rio 2030', com propostas para o desenvolvimento da Região Metropolitana. "O incremento das desigualdades foi acentuado pela pandemia. Não foi apenas uma tragédia de saúde, mas mostrou onde estão as populações mais vulneráveis e que são mais vitimadas pela pandemia. Há problema com um tema que é pouco discutido, que é a assistência social. Temos dificuldade de ter uma construção de política de assistência que dê conta de trazer uma renda mínima para a populaçao em geral, não só em tempos de crise, como agora, na pandemia. Um projeto como uma renda básica municipal ia aumentar a efetividade", explica Vitor Mihessen, coordenador da Casa Fluminense e da publicação da 'Agenda Rio 2030'.
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O documento tem a habitação como tema central: duas das propostas são produzir uma base de informações públicas sobre o déficit habitacional na Região Metropolitana, e promover assistência técnica para melhorias habitacionais, principalmente em favelas e periferia.
"Há a necessidade de ampliar o número de CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) para dar conta dessas populações, de ampliar o cadastro das pessoas e torná-lo mais efetivo", afirma Mihessen. "Estar em moradias desse perfil, ou na rua, tem a ver com falta de acesso à cidade, falta direito ao transporte. É preciso aproximar a casa do trabalho, a casa da escola, a casa do hospital".
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Movimento popular: 'questão da moradia é resultado da desigualdade'
Coordenador do movimento União por Moradia Popular do Rio, o arquiteto e urbanista Felipe Nin denuncia que a cidade e o Brasil não têm políticas habitacionais suficientes. "Os governos estaduais e municipais abdicaram de ter um programa próprio", afirma.
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"A questão da moradia no Rio é resultado da desigualdade. Para ter acesso a esse direito fundamental, você tem que ter dinheiro. Se você não tiver dinheiro para comprar ou pagar aluguel, acaba em situações precárias, caso das favelas, do povo sem-teto e de quem mora em condições insalubres. É uma situação que entendemos como uma moradia que não é adequada. Eles merecem um projeto de política habitacional do estado e do governo federal", comenta o especialista. "Defendemos que essa população seja reconhecida como pessoas de direito, com desejos e vontades. É preciso entender a situação dessas famílias, de onde vieram".