A comunidade tem cerca de 100 anos de história - Acervo Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
A comunidade tem cerca de 100 anos de históriaAcervo Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz
Por RAI AQUINO
Rio - Com uma estimativa de 90 mil moradores, segundo a população local (36 mil de acordo com dados oficiais), o Jacarezinho é mais do que uma comunidade, já que virou bairro em 1992. E esse bairro da Zona Norte do Rio é marcado por jovens que têm uma grande capacidade criativa, já tendo, inclusive, uma cria de respeito, que deixou a região ainda cedo para brilhar nos campos de futebol mundo afora, o ex-jogador Romário.
Mas a mesma comunidade que produziu um talento como o Romário deixa de valorizar outros tantos que poderiam ter o mesmo sucesso. É o que acredita a pesquisadora Rachel Viana, doutora em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz (COC), da Fiocruz. Ela vê que a criatividade dos jovens do Jacarezinho está sendo "jogada fora".  
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"O Jacarezinho é um lugar muito produtivo, com jovens inteligentíssimos, que têm um potencial humano fantástico. E um potencial político também, porque tem organizações lá que são bastante antigas. Tem a própria escola de samba (Unidos do Jacarezinho), o bloco Não Tem Mosquito, além de várias associações de moradores", destaca a pesquisadora.
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Rachel conhece de perto a realidade do Jacarezinho, já que desde 2010 é professora de Sociologia do Colégio Estadual Compositor Luiz Carlos Da Vila, que fica na região. Ela vê o potencial econômico da comunidade como uma de suas características mais fortes.
"Se você olhar a quantidade de lojas que tem ali dentro. Vira e mexe quando eu vou tomar um cafezinho, eu vou lá dentro, e vejo um comércio abundante. No dia em que você tiver que comprar fruta, peixe ou carne, eu recomendo o Jacarezinho, porque lá tem aqueles aviários à moda antiga", sugere.
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100 ANOS DE HISTÓRIA
Os primeiros moradores do Jacarezinho foram se instalando na região na década de 1920, após a inauguração de várias fábricas no entorno. Dentre as grandes indústrias que estiveram por lá se destaca a gigante norte-americana General Eletric (GE), que ficava no bairro vizinho de Maria da Graça.
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"Antes, tudo era uma grande fazenda e tem a versão de que a ocupação teria começado a partir da estação de trem Vieira Fazenda (atual Jacarezinho) e depois foi intensificada com a esposa do Getúlio Vargas, dizendo para as pessoas ocuparem o local", conta a professora.
No interior da favela, inclusive, há uma rua em homenagem à esposa do ex-presidente, Darci Vargas. Já o nome da comunidade foi por causa do Rio Jacaré, que nasce no maciço da Tijuca e corta a região.
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DEMANDAS
Com 100 anos de história, o Jacarezinho vive a realidade de muitas comunidades do estado. Para a pesquisadora da Fiocruz faltam serviços básicos, que são deveres do Estado e direito dos moradores.
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"Falta saúde e educação, como sempre, e um problema que permeia todas as favelas do Rio de Janeiro, que é o saneamento básico. O saneamento é o grande, nó porque ele vai impactar diretamente na saúde dos moradores e também na educação. Se um aluno meu fica doente, ele não consegue ir para a escola, se não tem água, eu não consigo dar aula", aponta.
A professora apela para uma política voltada para os jovens, principalmente com opções de lazer. Afastada da sala de aula por causa da pandemia, ela faz questão de deixar um recado para os seus alunos.
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"Aviso à minha garotada que eu estou com saudade e que todos se protejam com álcool em gel e máscara, para em breve voltamos a nos ver", deixa claro.