Manifestantes da Barra da Tijuca usam cartazes para protestar contra morte de homem negro em um supermercado Carrefour de Porto Alegre - Lucas Cardoso
Manifestantes da Barra da Tijuca usam cartazes para protestar contra morte de homem negro em um supermercado Carrefour de Porto AlegreLucas Cardoso
Por Lucas Cardoso
Rio - Cerca de 200 manifestantes fizeram um protesto no Carrefour da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, após a morte de um homem negro, identificado como João Alberto Silveira Freitas, em uma unidade do supermercado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O ato, totalmente dispersado por volta das 18h50, terminou sem incidentes. A reportagem do DIA, que esteve no local, acompanhou os protestos dentro e fora do mercado, onde ativistas carregaram faixas, cartazes e entoaram cânticos antirracismo e contra racistas. O ato também teve a presença de personalidades negras e brancas. Um dos momentos de tensão, mais ao fim da manifestação, transcorreu quando os presentes organizavam a saída do local junto a funcionários e clientes, para evitar represálias da Polícia Militar. Os PMs escoltaram o grupo para fora do estacionamento e a dispersão foi pacífica.
A reportagem filmou o momento em que os presentes gritaram "racistas não passarão", enquanto carregavam cartazes com dizeres como "sem luta, sem paz", "Carrefour assassino" e outros frases contra o mercado e de cunho antirracista. O protesto consistiu em lotar carrinhos com produtos variados e bloquear os caixas. Uma cliente do supermercado chegou a ligar para a polícia por não conseguir passar as compras e foi aplaudida com ironia pelos protestantes. Os seguranças do estabelecimento observaram a movimentação, antes da chegada dos policiais miliatares. Alguns manifestantes aproveitaram equipamentos de som à venda no mercado para repetir mensagem "não comprem, não colaborem com um mercado racista". Em um dado momento, os protestantes colocaram para tocar a música "Olho de Tigre", do rapper mineiro Djonga, conhecido canção antirracismo.
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Por volta das 18h10, os manifestantes pediram a liberação dos funcionários do estabelecimento. Após um breve momento de tensão envolvendo o gerente do Carrefour Barra, que pediu aos funcionários que arrumassem a loja antes da dispensa, o que foi recusado pelos manifestantes, o homem cedeu e concordou em dispensar a equipe na parte de trás da loja, onde há o relógio de ponto.
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Os manifestantes negociaram a saída junto ao gerente, para evitar represálias. A Polícia Militar acompanha o ato com cinco viaturas e homens da cavalaria da corporação. Os ativistas combinaram que o gerente deixaria o local primeiro e, após, clientes brancos e os ativistas, todos em blocos. Pessoas brancas formaram um cordão, de mãos dados, em frente à polícia, para proteger os negros. Às 18h35, o protesto seguiu no estacionamento da loja. Os manifestantes exibiram cartazes e faixas, como haviam feito mais cedo no início do ato.
A reportagem também flagrou PMs filmando os ativistas, que se dispersaram em duplas e trios com medo de repressão dos policiais. Eles seguiram entoando cânticos contra o racismo e outros com xingamentos ao presidente Jair Bolsonaro. Logo depois, o ato foi totalmente dispersado.
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No local, também estiveram artistas como Tico Santa Cruz, Patrícia Pillar, o rapper 'BK', Pretinho da Serrinha e Nego do Borel.  
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O ativista dos Direitos Humanos, Raull Santiago, morador do Complexo do Alemão também esteve no Carrefour. "A gente está aqui para dizer que basta. Isso só vai mudar de verdade se todo mundo trouxer a responsabilidade para si. Esse país é racista, é desigual, violento e precisa de uma mudança agora", disse Raull.
Ricardo Fernandes, estudante e ativista também falou durante o protesto. "A gente está cansado de ser resistente. Só queríamos ter a oportunidade de viver. Não nos gera orgulho ser resistente. Nós queremos ter a experiência de simplesmente pessoas, seres humanos".
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Histórico desfavorável
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O supermercado Carrefour já protagonizou outros escândalos antes de morte de João Alberto. Em agosto deste ano, um homem de 53 anos morreu enquanto trabalhava em uma loja da rede em Recife. Para não impactar as vendas, os funcionários da loja cobriram seu corpo com guarda-sóis e tapumes e só o retiraram quando o movimento da loja diminuiu, mantendo as vendas como se nada tivesse acontecido.
Um caso ocorrido em outubro de 2018 - mas que só veio à tona com imagens de segurança divulgadas em março de 2019 - também chamou a atenção pelo uso desproporcional de força direcionado a um negro - e que também era deficiente físico.
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Luís Carlos Gomes abriu uma latinha de cerveja dentro de uma unidade da rede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, e, ao ser questionado por funcionários da loja, disse que pagaria pelo produto. Em seguida, o homem, negro e deficiente físico, foi perseguido por um gerente da loja e por um segurança, encurralado e agredido dentro do banheiro da unidade.
No final de 2018, um segurança de uma unidade em Osasco agrediu e matou um cachorro com uma barra de ferro. Na ocasião, nenhum funcionário da loja socorreu o animal, que foi levado a uma clínica veterinária por uma pessoa que estava passando, e não sobreviveu. Manchinha, como era conhecido, era dócil e e abandonado e circulava pelo estacionamento do supermercado.
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