Tribunal Especial Mista julga processo de impeachment do governador afastado Wilson Witzel. Durante depoimento em vídeo, o Pastor Everaldo, chorou. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Tribunal Especial Mista julga processo de impeachment do governador afastado Wilson Witzel. Durante depoimento em vídeo, o Pastor Everaldo, chorou.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Yuri Eiras
Rio - Everaldo Dias Pereira, o Pastor Everaldo, preso desde agosto em operação que apurou desvios na Saúde do estado, ficou em silêncio durante depoimento nesta quinta-feira, quando o Tribunal Especial Misto e o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) ouvem testemunhas do caso que julga o impeachment do governador afastado Wilson Witzel. O ex-presidente nacional do PSC, partido de Witzel, foi ouvido por videoconferência do Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio.
O pastor Everaldo argumentou que é réu no Superior Tribunal de Justiça em outro processo sobre o mesmo episodio, e não poderia prejudicar sua defesa. Em determinado momento, houve bate-boca com o presidente do TJ, Cláudio de Mello Tavares. Everaldo chorou ao lembrar que o filho está internado com Covid, mas ouviu respostas firmes do desembargador.

"Tenho o maior respeito por esse tribunal, mas não estou em condições de prestar nenhum depoimento. Peço perdão, clemência, misericórdia. Sou réu perante o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) pelos mesmos fatos que são apurados nesse processo. Meu foco é me defender. Estou preso há 112 dias no meu ponto de vista indevidamente. Não tive oportunidade de ver meu filho, que está com covid. É uma situação muito difícil. Peço perdão aos senhores, mas não posso responder às perguntas", disse Everaldo. 

"Eu compreendo o senhor, entendo o estado de saúde, assim como o de parte da população, muitos inclusive sem assistência médica por tudo o que aconteceu no nosso estado. O senhor fala muito em misericórdia. Mas queria que o senhor respondesse com misericórdia às perguntas feitas. Peço desculpas, mas o senhor está lendo a mesma coisa: 'não respondo, peço misericórdia'. Se o senhor está preso, é porque a Justiça entendeu que o senhor deve estar preso. Aqui o senhor está para responder às perguntas, como testemunha", respondeu o desembargador.
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Silêncio e versículos bíblicos
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Membro do Tribunal Especial Misto, o deputado estadual Carlos Macedo (Republicanos), que é bispo licenciado da Igreja Universal, usou um versículo bíblico para convencer Everaldo a responder. "Está em Mateus 5:37. 'Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna'". Everaldo respondeu também com frases do Evangelho, reiterando ter o direito de ficar calado.

O advogado de Pastor Everaldo chegou a pedir a palavra para avisar que seu cliente não iria responder às perguntas, mas foi advertido pelo presidente do Tribunal por não poder tutelá-lo durante o depoimento.

O deputado estadual Luiz Paulo (Cidadania), que compõe o Tribunal Misto, listou as perguntas em voz alta, apesar do silêncio de Everaldo. "Quanto foi arrecadado na área da Saúde e quanto pretendiam arrecadar com a chegada da Covid? Qual percentual era destinado a Witzel? Quem indicou o nome de Gabriell Neves para a secretaria de Saúde? Quanto era a participação de Witzel na caixinha da propina da Iabas?".
Defesa diz ter recebido documentos com atraso e se disse incapaz de ouvir testemunhas
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Antes do início das oitivas, o advogado de defesa de Wilson Witzel no processo de impeachment, Roberto Podval, debateu com o presidente do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) Cláudio Mello Tavares, para adiar a sessão que ouviu testemunhas de acusação e defesa do caso. Podval argumentou que não teria condições de fazer questionamentos às testemunhas porque a defesa recebeu documentos anexados ao processo apenas às 17h de ontem, em arquivo com 124 pastas.

"A defesa não tem capacidade. São mais de 20 horas de gravações, 124 pastas, vários gigabytes. A defesa não tem condições de ouvir hoje. O governador não será ouvido amanhã. Seria leviano da nossa parte seguir com a defesa de faz-de-conta", disse Podval.

O presidente do Tribunal, Cláudio Mello Tavares, argumentou que não ter lido os documentos não impossibilita a audição das testemunhas. O debate foi a voto e os membros do Tribunal Especial Misto decidiram pela manutenção da programação marcada para esta quinta-feira, de ouvir as testemunhas.
Ao todo, 27 testemunhas foram convocadas, mas quatro dispensadas por não terem sido encontradas. Das 23 restantes, algumas prestaram depoimentos de dentro do Complexo de Gericinó - casos do ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Lucas Tristão, e do ex-presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo. Antes da sessão, o advogado de Luiz Roberto Martins, uma das testemunhas, afirmou que seu cliente não teria como prestar depoimento por cumprir prisão domiciliar e ser proibido de ter qualquer aparelho eletrônico dentro de casa. A Justiça, no entanto, conseguiu ouvi-lo, mas ele não respondeu à maioria das perguntas.
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Ex-secretário de Desenvolvimento Econômico diz se considerar inimigo de Witzel, mas não explica por questões de 'foró íntimo'
O ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Witzel, Lucas Tristão, atualmente preso em Bangu, afirmou em depoimento ao Tribunal Especial Misto que é considerado inimigo do governador afastado, mas que, "por motivo de foro íntimo", preferia não revelar o motivo.
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Tristão negou ter visto qualquer irregularidade no caso da Unir, organização social que fechou contratos com a secretaria de Saúde durante dois anos, entre 2018 e 2019, mas considerada desqualificada pelo estado logo depois. "Eu nunca fui intermediário de quem quer se seja, garoto de recado. Nunca participei de qualquer negócio espúrio do governador", disse Tristão.
O ex-secretário, que foi aluno de Witzel, revelou desgaste com o governador afastado durante a gestão da secretaria de Desenvolvimento. Segundo ele, havia disputas internas entre as secretarias. "Não foram casos relacionados ao governo que gerou inimizade. Mas com os secretários. A imprensa me chamava de "braço direto", "homem de confiança", parecia que as pessoas ao redor do governador ficavam questionando: 'tão mandando mais que você'", afirmou.