Delegado aposentado Fernando Moraes ao lado do atual prefeito Marcello Crivella, em 2016
Delegado aposentado Fernando Moraes ao lado do atual prefeito Marcello Crivella, em 2016Reprodução do Facebook
Por Bruna Fantti
Rio - O delegado de Polícia Civil Fernando Moraes, um dos presos na operação sobre o chamado 'QG da Propina', chegou a cobrar propina com "chutes, coronhadas e arma em punho". É o que disse um médico e executivo do grupo Assim, que fez colaboração premiada com o Ministério Público. Moraes foi preso na mesma operação deflagrada na manhã desta terça-feira, dia 22, que prendeu o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos). 
De acordo com o colaborador, Moraes tinha uma longa amizade com presidente do conselho de administração do grupo Assim Saúde, Aziz Chidid Neto, que faleceu no dia 16 de novembro. Aziz teria dito ao colaborar que, em 2017, Moraes o chamou para um almoço na Barra da Tijuca e se prontificou a facilitar a renovação dos contratos do grupo com o município já que teria "grande influência perante a nova administração municipal". Na ocasião, Aziz disse que rechaçou a proposta. Estavam presentes nesse encontro, ainda segundo o colaborador, o ex-senador da república Eduardo Lopes,  e os empresários Adenor Gonçalves e Magdiel Unglab.
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Ao tomar conhecimento dos pagamentos feito pela Assim, no entanto, direcionados a somente uma parte dos membros dos denunciados (Cristiano Stockler, Rafael Alves, Mauro Macedo, Licínio Bastos e Eduardo Lopes), Moraes teria "ficado indignado".  Segundo trecho da denúncia, o delegado "passou a pressionar para que tais pagamentos fossem direcionados a todos os membros da malta, razão pela qual o falecido Aziz Chidid Neto determinou  (que o colaborador) encontrasse  uma forma de contemplar aquele pedido, sem aumentar as despesas com propina".
Uma reunião foi marcada em maio de 2018, na sede do grupo Assim Saúde, no centro do Rio, ocasião em que Moraes pediu para ter acesso a "todos os contratos simulados que haviam sido firmados para pulverizar o pagamento da propina mensal, além de fotografar os mesmos". 
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Em reunião marcada dias depois, Moraes e Adenor "passaram a exigir que todos os pagamentos de propina fossem interrompidos, de forma que, ou todos se beneficiariam, ou ninguém ganharia, oportunidade em que foram informados impossibilidade de atender tal pedido em razão da existência dos contratos simulados em vigor, sendo certo que tal medida poderia expor a empresa a inúmeras ações judiciais".
Com o impasse, uma reunião foi marcada com o colaborar e outro diretor do grupo Assim Saúde, no escritório de Adenor. "Moraes chegou ao local com a reunião já em andamento e visivelmente alterado, apontando sua arma de fogo em direção ao colaborador (....) e proferindo ameaças e agressões físicas (chutes e coronhadas) contra ambos os funcionários do grupo Assim Saúde para que viabilizassem os pagamentos anteriormente solicitados 'de uma forma ou de outra'".
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Por ordem de Aziz houve a interrupção temporária dos pagamentos de propina até que o grupo se organizasse internamente. Logo depois, "foi apresentado um novo rol de empresas que deveriam ser contratadas de forma fictícia para viabilizar os pagamentos de propina decorrentes do contrato da Prefeitura, dessa vez, acomodando os interesses de todos os ora denunciados", diz trecho da denúncia. 
Segundo o Ministério Público, a propina da empresa Assim Saúde foi de R$ 52 milhões ao grupo; os colaboradores se comprometeram a ressarcir os cofres públicos com esse montante. 
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A defesa do delegado Fernando Moraes, famoso por seu trabalho frente à Delegacia Anti-Sequestro e por ter namorado a modelo e atriz Luma de Oliveira, não foi encontrado pela reportagem. Nas redes sociais, o delegado, que também é ex-vereador, e já atuou como vice e presidente do Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Detro) e como vice-presidente e conselheiro da Agetransp, ostentava uma vida de luxo.