Prefeitura do Rio atrasa repasses e corta verba de creches conveniadas
Associação das Creches mostra preocupação para início de 2021 com falta de dinheiro
Prefeitura do Rio encerra gestão com dívida com creches conveniadasDivulgação
Por HUGO PERRUSO
Rio - A poucos dias do fim da gestão, a Prefeitura do Rio acumula uma dívida de três meses com 203 creches conveniadas, que atendem a aproximadamente 22 mil crianças. Além disso, um termo aditivo publicado no Diário Oficial de segunda-feira (28) oficializou uma redução de 25% dos repasses nos contratos, retroativo de julho a dezembro, que impactam nos valores devidos.
Segundo a Associação das Creches e Pré-escolas Conveniadas do Município do Rio (Acreperj), o atraso nos meses de outubro, novembro e dezembro gira em torno de R$ 45 milhões. Entretanto, com os descontos retroativos desde julho, as creches calculam receber apenas R$ 23 milhões. O que gera preocupação para pagamento de funcionários, que chegam a cinco mil, e outras contas.
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"A Prefeitura alega que falta dinheiro. Calculamos que haverá um desconto próximo a R$ 22 milhões. De onde vem esse valor que fica faltando? Das próprias creches, que estão pagando esse resto. A preocupação para ano que vem é real, não tem dinheiro para janeiro, fevereiro e março. Se continuar assim as cestas básicas mensais não terão como ser entregues às crianças. E se houver necessidade de redução de pessoal, vagas e turmas serão fechadas. Tentamos de tudo no diálogo, mas não conseguimos. Aguardamos a virada do ano e a nova gestão", afirmou o cofundador e vice-presidente da Acreperj, Guilherme Maltaroli.
Guilherme, que também é conselheiro de direito do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA-Rio), órgão fiscalizador de políticas municipais para a área, destacou que a redução de 25% fora acordada pelas creches em junho, após a Prefeitura pressionar por diminuição em 50%. Entretanto, o valor integral foi pago até setembro e, agora, a redução em meio a atrasos impacta em um momento crítico para pagamento de 13º salário e outros vencimentos.
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Ele também ressaltou que o atraso no repasse da Prefeitura não é de hoje e que acontece desde a mudança do pagamento trimestral para mensal, há cerca de dois anos. Ainda segundo o representante da Acreperj, o repasse às creches conveniadas é de R$ 650 por criança e havia a promessa desde o meio do ano de reajuste para R$ 680, com uma cota berçário de R$ 204 (para os locais que recebem bebês). Entretanto, o aumento foi de apenas R$ 5 e a cota ficou em R$ 200, publicado este mês.
Em nota, o CMDCA-Rio criticou o atraso no pagamento às creches conveniadas e também a pressão da Prefeitura para reduzir os repasses que estão em contrato, o que considerou "clara demonstração de desrespeito ao que preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)". E completou: "É imprescindível lembrar que 'criança tem absoluta prioridade', segundo artigo 227 da Constituição Federal e Artigo 4º do ECA."
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Tanto CMDCA-Rio quanto Acreperj esperam que a próxima gestão, que assume no dia 1º de janeiro, cumpra com o compromisso e pague o valor atrasado, mesmo que seja parcelado.
"É inadmissível deixar a primeira infância desvalida de ações da Prefeitura. O Conselho precisa exigir e cobrar que o novo prefeito respeite os contratos e acreditamos que ele vai cumprir com o compromisso. Em janeiro esperamos abrir o diálogo para que essa dívida seja paga", disse Bianca Lessa, conselheira de direito do CMDCA-Rio como representante do Instituto Brasileiro Pró-Educação, Trabalho e Desenvolvimento (Isbet).
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Procurada, a Secretaria Municipal de Educação ainda não respondeu.