Porta da Clínica da Família da Penha, onde o senhor Gilson Lopes não teve atendimento e morreu atropelado - Estefan Radovicz / Agência O Dia
Porta da Clínica da Família da Penha, onde o senhor Gilson Lopes não teve atendimento e morreu atropeladoEstefan Radovicz / Agência O Dia
Por Anderson Justino
Rio – Um buraco aqui, outro ali. Um carro estacionado irregularmente ou até mesmo um pedaço de madeira ou ferro jogado na calçada se torna uma grande armadilha para a população carioca. A morte do autônomo Gilson de Souza Lopes, de 57 anos, na última terça-feira (5), atropelado por um ônibus após tropeçar em um desnível da calçada e cair na rua, expôs uma série de problemas enfrentados pela população que são debatidos há anos.

As dificuldades que a atual gestão municipal irá enfrentar são listadas pelos cariocas. Depois da segurança, a falta de conservação e fiscalização nas calçadas são as principais.

"Quem caminha pelas ruas do Rio sabe os problemas que enfrentam. São buracos nas calçadas, lixo e carros estacionados. Tudo isso se torna um risco para o pedestre. Pessoas mais velhas sofrem ainda mais", alerta Cristiane Luiza, de 35 anos, moradora de Bangu, na Zona Oeste e trabalha em Irajá.

Há pouco mais de um mês, por pouco o aposentado Estevão Aurélio Pereira, de 82 anos, não passou a fazer parte do número de pedestres atropelados no Rio por não conseguir andar pela calçada. Ele conta que caminhava pela Avenida Brás de Pina, mesmo local em que o Gilson de Souza foi atropelado, quando precisou ir para o meio da rua por conta dos carros que estavam parados na calçada.

"É uma vergonha o pedestre ter que sair da calçada e ter que caminhar pela rua. Isso é um absurdo. Todo dia é a mesma coisa e ninguém faz nada para trazer melhoria. Eu quase sofri uma fratura no braço por conta de ter que ir para o meio da rua e desviar dos carros parados na calçada", disse o aposentado.

As principais áreas de reclamações na cidade são os bairros do subúrbio. Em pontos comerciais, além das irregularidades o comércio acaba ocupando boa parte da calçada. As dificuldades se tornam maiores para um cadeirante ou para uma mãe com o filho no carrinho de bebê.

"É totalmente complicada essa situação. As pessoas não conseguem encontrar uma forma de se locomover. Quando as calçadas não estão quebradas e com buracos, o comércio ocupa tudo. Morar no subúrbio é enfrentar esses problemas", reclama a dona de casa Luciana Assis dos Santos.

A responsabilidade das calçadas no Rio é dividida; em uma área pública, como uma praça, quem cuida da conservação é a Prefeitura. Se a calçada estiver em frente a um comércio, empresa ou condomínio, a responsabilidade é do proprietário. No entanto, o dever de fiscalizar é da Prefeitura.

A Prefeitura do Rio foi procurada e questionada sobre um plano de fiscalização e combate à desordem urbana na cidade. Em nota, a atual gestão municipal disse que "a nova gestão da Prefeitura do Rio informa que está realizando levantamento e mapeando esse tipo de ocorrência em toda a cidade, a fim de coibir tais práticas com a maior brevidade possível".
Usuários de drogas ocupam a Brasil

Na Avenida Brasil, principal via de ligação entre a Região Central e a Zona Oeste, o problema é ainda maior. A reclamação não apenas pela falta de conservação ou a invasão de carros nas calçadas.

Na altura da Nova Holanda, no Complexo da Maré, por exemplo, dezenas de usuários de crack ocupam os canteiros da pista central. A maioria se abriga em barracos de madeira construídos por eles. Muitos deles esquecem do perigo e se arriscam atravessando a via em meio aos carros que passam em alta velocidade.

Em nota a Prefeitura do Rio informou que a secretária municipal de Assistência Social, Laura Carneiro, já montou grupo de trabalho intersetorial para tratar a questão de usuários de crack no Rio de Janeiro, em áreas como o Parque União, em Bonsucesso, Avenida Brasil, e em Benfica.

A Coordenadoria de Drogas integrava a Secretaria Municipal de Ordem Pública e passou a fazer parte da Secretaria Municipal de Assistência Social na semana passada, mas sua documentação e histórico ainda estão sendo enviados. “Estamos no processo de transição para receber a Coordenadoria de Drogas, mas esse é um assunto grave e não podemos esperar. Já estamos trabalhando”, afirmou Laura Carneiro.