O chef teve o primeiro contato com a cozinha durante o serviço militar na Marinha - Lucas Landau / Divulgação
O chef teve o primeiro contato com a cozinha durante o serviço militar na MarinhaLucas Landau / Divulgação
Por RAI AQUINO
Rio - Com apenas 29 anos, João Diamante já tem uma longa história de sucesso na gastronomia. O cria da favela Nova Divineia, no Complexo do Andaraí, na Zona Norte do Rio, já trabalhou em um restaurante da Torre Eiffel, em Paris, foi chef do Museu do Amanhã, na Zona Portuária, e comandou o cardápio da delegação espanhola nos Jogos Olímpicos do Rio.
Mais recentemente, João acabou de aparecer na lista da revista Forbes dos jovens mais promissores do país. Ele está do lado de nomes como o da cantora Manu Gavassi (28), do cantor Pedro Sampaio (23), do ator Enzo Celulari (23) e do jogador Richarlison (23). 
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"Logicamente a gente fica feliz de estar em um lugar como esse. É importante ter um preto, pobre e favelado em uma revista como essa e que a gente mostre para as pessoas da onde eu vim que é possível. A gente precisa batalhar, lutar três vezes mais, mas é possível", comemora.
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Há três anos, João é sócio do Grupo JD, prestando serviços de consultoria para o setor de bebidas e alimentos. A empresa, que ele mantém com um amigo e a esposa, também é responsável por gerir sua carreira.
"A gente faz consultoria para restaurantes, desde gerenciamento do negócio ao cardápio, dependendo do que o estabelecimento precisa. Além disso, dou palestras, contando a minha história e falando de motivação e de empreendedorismo", conta.
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COZINHEIRO DA MARINHA
João trabalha desde muito pequeno, quando via a mãe deixar os filhos em casa e passar o dia na rua por causa do emprego de auxiliar de serviços gerais. Aos três anos, ele ajudava na cozinha de uma padaria vizinha à casa da família.
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"Trabalhei em vários outros lugares, como ajudante de pedreiro, em casa de família, vendendo cloro, carregando compras, em feiras... trabalhei muito na infância", relembra, dizendo que conseguiu o primeiro emprego "oficial" aos 14 anos, quando virou jovem aprendiz de uma empresa de engenharia.
Mas o contato com a culinária veio aos 18 anos, quando João começou a prestar serviço militar na Marinha. Nos cinco anos que passou nas Forças Armadas teve a oportunidade de descobrir e desenvolver seu dom.
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"Comecei a fazer os primeiros trabalhos na cozinha ali e me apaixonei por aquilo. Vi que a gastronomia podia mudar a vida das pessoas, além de matar a fome", resume.
Enquanto estava na Marinha, o cria do Andaraí fez cursos, estágio no Iate Clube da Urca até que começou a cursar gastronomia. E foi graças ao bom desempenho que teve na faculdade, inclusive, que foi convidado para morar na França, para estagiar em um restaurante localizado na Torre Eiffel, por três meses.
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"Foi mágico. Em um momento você está morando em uma comunidade, com tiro, porrada, bomba e desigualdade e no dia seguinte, através da arte, cultura e educação, você está morando em um dos países mais desenvolvidos do mundo, em um dos metros quadrados mais caros do planeta, trabalhando na Torre Eiffel", elogia.
PROJETOS SOCIAIS
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A volta da França reservou outros momentos de consagração para o chef de cozinha. Nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, ele foi o responsável pela alimentação da delegação espanhola que veio competir na capital fluminense. Pouco tempo depois, assumiu o restaurante do Museu do Amanhã, onde ficou por dois anos.
"Quando você fala de Olimpíada, você fala de mundo, não só do Brasil. Você tem o mundo no seu país, você faz o seu trabalho ser referencial ao mundo. Já o Museu do Amanhã está de cara para o mundo, vem gente do mundo inteiro. Foi um desafio muito bacana, que fiquei muito feliz de participar", anima-se.
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Foi depois da experiência no Museu do Amanhã que João criou o Grupo JD. Paralelamente ao próprio negócio, ele já vinha desenvolvendo dois projetos sociais: o Diamante na Cozinha e o Na Minha Casa.
No primeiro, ele oferece cursos para pessoas carentes, para que elas aprendam todo o ciclo da gastronomia, desde o plantio até a confecção de um prato. Já o Na Minha Casa trata-se de uma cozinha itinerante, onde a pessoa paga o que puder, mesmo que essa quantia seja nada.
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"O Diamante é voltado para pessoas de vulnerabilidade social. São pessoas empreendedores, que tem um pequeno comercio, vendem doce, bala... temos um viés para que eles aprendam e outro para que empreendam", detalha.
Por causa da pandemia, as aulas presenciais do projeto tiveram que ser suspensas, mas o empreendedor já fechou uma parceria com a plataforma de cursos online Curseria para ter 50 vagas por mês para oferecer a seus alunos. As vagas serão direcionadas para moradores de comunidades, começando pelo Complexo do Alemão agora em janeiro.
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"É muito importante fazer a roda girar, tentar fazer um mundo mais igualitário. É fundamental que as pessoas que alcançam o sucesso possam retornar de alguma forma o que conseguiram para a sociedade. Eu não cheguei aqui sozinho. O que estou fazendo é apenas contribuir com o que eu ganhei em algum momento. Essa é a missão de vida, tanto minha, quanto da minha família inteira", defende.
'ESPERO UM MUNDO MAIS IGUAL'
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Nascido no pequeno município de Terra Nova, na Bahia, vindo para o Rio com apenas três meses de idade e chegando a morar e trabalhar na França, João se diz realizado na vida. Perguntado sobre o que espera mais em sua vida, ele diz que tem que agradecer e continuar trabalhando para ajudar as pessoas.
"Sou muito feliz do jeito que estou, como sou e do que consegui conquistar. Espero um mundo mais igual e é para isso que trabalho. Eu não vou conseguir mudar o mundo sozinho, vou ser um dos agentes que vai carregar o tijolo para essa direção", avisa.