Comunidade da Muzema, Jacarepagua. Região é dominada pela milícia - Ricardo Cassiano/Arquivo/Agência O Dia
Comunidade da Muzema, Jacarepagua. Região é dominada pela milíciaRicardo Cassiano/Arquivo/Agência O Dia
Por O Dia
Rio - A milícia, formada por agentes públicos de segurança como policiais, bombeiros, militares do Exército, guardas municipais e etc – e também civis, já é o maior grupo armado da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e, atualmente, está presente em 6% de toda a região. De acordo com o Fogo Cruzado, dos 2.020 tiroteios e disparos registrados pela plataforma em 2020, somente 198 ocorreram em áreas com a existência de paramilitares, que não conta com a presença do estado. A quantidade de tiroteios só não foi menor que a da facção Amigos dos Amigos.
O Fogo Cruzado aponta que o grupo, que inicialmente começou como uma alternativa para conter os avanços do tráfico, atualmente age na política e em todas as esferas criminosas. Eles estão no serviço de TV a cabo, gás, internet, na segurança particular nos bairros e também, graças a um dos mais mais expoentes integrantes – Wellington da Silva Braga, o Ecko –, traficando. Apesar disso, parte de seu apoio vem da venda da ideia de proteção e combate ao tráfico. 

O levantamento também mostrou que dos 198 tiroteios que ocorreram em áreas de milícias 103 pessoas foram vitimadas: 67 delas morreram. Entre os baleados, 121 eram agentes de segurança (7 morreram); 2 pessoas ficaram feridas por balas perdidas; e houve 4 chacinas que deixaram 23 mortos no total. Entre os casos, uma operação policial no Km 32, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, terminou com 5 mortos no dia 14 de outubro.
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Levantamento do Fogo Cruzado aponta baixo registro de tiroteios em regiões dominadas pela milícia - Divulgação / Fogo Cruzado
Levantamento do Fogo Cruzado aponta baixo registro de tiroteios em regiões dominadas pela milíciaDivulgação / Fogo Cruzado
Ainda segundo o Fogo Cruzado, parte do Rio de Janeiro tem dono. Dos 950 bairros e distritos do Grande Rio, 513 contam com a presença de alguma alguma facção. Divididos em Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro, Amigos dos Amigos e Milícias, eles estão presentes de alguma forma nessas regiões.  Nestas áreas mapeadas pelo Pista News em 2020, houve 2.020 tiroteios/disparos de arma de fogo registrados pelo Fogo Cruzado, o que representa 44% do total de tiroteios no ano. Em 2019, a porcentagem de tiroteios em áreas com presença de grupos armados era de 36% – segundo dados levantados pelo Fogo Cruzado em parceria com o Disque Denúncia, NEV-USP, Pista News e Geni-UFF.

COMANDO VERMELHO
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Batizado inicialmente como Falange Vermelha, o Comando Vermelho (CV), como é conhecido hoje, foi criado dentro dos presídios em 1979, durante a ditadura civil militar. A segunda maior facção do país é também a maior facção do estado do Rio de Janeiro, estando presente em 4% da Região Metropolitana do Rio. Nestas áreas houve 1.350 tiroteios em 2020, o que equivale 67% dos registros em regiões com a presença de grupos armados.
Entre estas centenas de baleados, 19 eram agentes de segurança (3 deles morreram); 42 pessoas foram atingidas por balas perdidas (7 morreram); e houve 11 chacinas, que deixaram 37 mortos.

TERCEIRO COMANDO PURO
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Atualmente, o maior rival do Comando Vermelho. Conhecido inicialmente como Terceiro Comando, a facção surgiu na década de 90. Presente em 1% da região metropolitana do estado, o TCP concentrou 21% do total de tiroteios mapeados em regiões sob influência de algum grupo armado: foram 432 tiros em 2020.

Em 2020, 128 pessoas foram baleadas em áreas com a presença do TCP: 58 delas morreram. Entre os baleados, 9 eram agentes de segurança (3 deles mortos), 8 pessoas foram vítimas de balas perdidas (metade morreu). E houve ainda 7 chacinas, que deixaram 21 mortos no total.

AMIGOS DOS AMIGOS
Cada dia mais enfraquecida, a facção Amigos dos Amigos (ADA) foi fundada na década de 90, após Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, ser expulso do Comando Vermelho por planejar e executar a morte do traficante Orlando da Conceição, o Orlando Jogador. O grupo foi criado por Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém e outros traficantes, dentro do presídio de Ilha Grande.

A facção, que no passado teve como um de seus principais nomes Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, está presente em menos de 1% da área total do Grande Rio, e em 2020, concentrou somente 2% dos tiroteios em áreas sob seu domínio. Foram 40.

Em relação ao impacto na vida cotidiana, seus números se destacam por serem inferiores aos demais grupos armados, assim como sua extensão, mas ainda preocupantes: 14 pessoas foram baleadas em áreas com ADA em 2020: 2 delas morreram. Entre os mortos, 1 era agente de segurança, o policial militar Luiz Henrique Sardote Ventura, de 34 anos. O agente foi encontrado morto próximo à favela Minha Deusa, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, no dia 10 de abril.
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TIROTEIOS COM A PARTICIPAÇÃO DE AGENTES
Ainda segundo a plataforma, mais da metade dos tiroteios em regiões dominadas pelos grupos armados com a participação de agentes aconteceu em áreas do Comando Vermelho: foram 385, representando 66% em relação ao total de tiroteios em áreas com influência de grupos armados com presença de agentes. Em seguida, vieram Terceiro Comando Puro, com 144 registros (25%); áreas comandadas por milícias, com 48 registros (8%); e Amigos dos Amigos, com 10 registros (2%).

Procurada pelo DIA, a Polícia Militar informou que o planejamento das ações de policiamento é baseado em dados de inteligência combinados às estatísticas de instituições oficiais, sobretudo as registradas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), em uma estratégia atrelada às análises das manchas criminais locais.
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Ainda segundo a corporação, a atuação segue protocolos técnicos, tendo como preocupação central a preservação de vidas - da população e de policiais militares envolvidos na ação -, assim como as determinações estabelecidas pela legislação vigente e por decisões judiciais. 
Confira a nota na íntegra:
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A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que o planejamento das ações de policiamento se baseia em dados de inteligência combinados às estatísticas de instituições oficiais, sobretudo as registradas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), em uma estratégia atrelada às análises das manchas criminais locais. A atuação da corporação segue protocolos técnicos, tendo como preocupação central a preservação de vidas - da população e de policiais militares envolvidos na ação -, assim como as determinações estabelecidas pela legislação vigente e por decisões judiciais.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) direciona esforços regularmente em conjunto com órgãos municipais em ações para coibir crimes identificados com a atuação de milícias - entre os quais construções irregulares em solo não edificável e exploração de areais. Por parte da PMERJ, o Comando de Polícia Ambiental (CPAm) age com afinco na repressão a este tipo de delito: 63% das ações da unidade ocorrem em áreas onde são localizados esses grupos de criminosos, incluindo Jacarepaguá e Rio das Pedras, na Zona Oeste; e municípios vizinhos como Seropédica, Nova Iguaçu, Queimados.
Os referidos grupos criminosos possuem peculiaridades de atuação que dificultam a identificação dos atos ilícitos em flagrante. Boa parte de sua atuação é pautada por uma articulação que envolve crimes análogos, de aporte financeiro, extorsão e exploração de serviços de maneira arbitrária. Tais condutas são desencadeadas sempre diante da oportunidade e de maneira velada, tornando assim as atividades obscuras e de difícil intervenção imediata. Ainda assim, a Polícia Militar segue combatendo a atuação destes grupos, realizando prisões e apreendendo armas em posse de seus integrantes.
Na segunda-feira (11/01), policiais do 24ºBPM (Queimados) foram mobilizados por informações reunidas pela Seção de Inteligência sobre extorsão a comerciantes na Reta dos Quinhentos, em Seropédica. Na ação, dois indivíduos foram abordados e conduzidos à 50ºDP. Com eles foram apreendidos uma pistola calibre .9mm, R$ 10 mil em espécie e um automóvel.
A participação da população é determinante para o combate a essa modalidade criminosa. É através dos dados recebidos por denúncias diversas, assim como pelos registros feitos em delegacias, que os trabalhos investigativos podem culminar com a identificação e a detecção do paradeiro dos envolvidos, assim como, junto à Justiça, com a expedição de mandados de prisão direcionados aos referidos.
Em 2020, de 1º de janeiro até 28 de dezembro, as ações da Polícia Militar resultaram em 31.410 prisões; 4.579 adolescentes apreendidos; 6.138 armas apreendidas, dentre as quais, 251 fuzis.