Incêndio destrói favela dentro de condomínio em Santa Cruz. Na foto, o local onde ficavam os barracos.  - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Incêndio destrói favela dentro de condomínio em Santa Cruz. Na foto, o local onde ficavam os barracos. Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Por Yuri Eiras
Rio - Em 2017, o casal Adriana e Elias vivia debaixo do viaduto de Campo Grande quando soube, através de um líder comunitário, da ocupação 'Unidos Venceremos' que ganhava forma dentro de um condomínio Minha Casa, Minha Vida em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio. Para lá foram e por ali moraram nos últimos três anos, junto com cinco filhos, em uma casa de madeiras. Na última quinta-feira, um incêndio destruiu os barracos das 252 famílias do local. Ninguém morreu, mas a maior parte saiu só com a roupa do corpo. A vida, agora, recomeça do zero.
O fogo começou pouco depois das 19h e rapidamente espalhou pelos barracos. A versão dos moradores é de que a explosão de um botijão pode ter iniciado o incêndio. Outra hipótese é a de um curto-circuito em um ventilador. A Polícia Civil solicitou perícia e convocou testemunhas, e a investigação está em andamento na 36ª DP (Santa Cruz). Mais de 150 pessoas foram abrigadas no complexo esportivo Miécimo da Silva, em Campo Grande, e depois realocadas em galpões em Santa Cruz. As famílias precisam de doações de roupas de cama, roupas infantis e de adultos. Os donativos são recebidos na Unidade Municipal de Reinserção Social Rio Acolhedor, na Rua Herminio Aurélio Sampaio, nº 105, em Santa Cruz (Referência: antigo SENAI Rua Cesário de Melo). 
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A ocupação 'Unidos Venceremos' ficava exatamente no meio da unidade 'Minha Casa, Minha Vida' de Santa Cruz, um complexo de 1.343 apartamentos construído em 2012. Cinco anos depois, chegaram os moradores da ocupação. Levantaram barracos, quase sempre de tábuas e pallets, uma espécie de estrado de madeira comumente usado para transporte de cargas. A condição sanitária do local era desumana.
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"Você vê rato mordendo criança, mexendo nas panelas, barata, lagarto. De noite, você ouve o barulho dos ratos andando pelos pallets. Veja quantos moradores de rua têm em Santa Cruz. É muito abandono", comentou Elias da Matta, que foi com a esposa Adriana por falta de opção: ou era lá, ou era a rua.
Em maio de 2020, O DIA esteve no local para acompanhar a sanitização, organizada pelos próprios moradores - Luciano Belford/Agência O Dia
Em maio de 2020, O DIA esteve no local para acompanhar a sanitização, organizada pelos próprios moradoresLuciano Belford/Agência O Dia
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"A gente morava em casa de família, às vezes passávamos um tempo debaixo do viaduto de Campo Grande. Tinha gente que morava só na rua. Falaram que tinha a ocupação do Unidos Venceremos, abriram um barraquinho e nós ficamos", relembra Adriana Castro, mãe de cinco filhos.
Incêndio destrói favela dentro de condomínio em Santa Cruz. Na foto, donativos chegam e são separados em salas do Ginásio Miéssimo da Silva, em Campo Grande onde os moradores estão abrigados. - Estefan Radovicz / Agencia O Dia
Incêndio destrói favela dentro de condomínio em Santa Cruz. Na foto, donativos chegam e são separados em salas do Ginásio Miéssimo da Silva, em Campo Grande onde os moradores estão abrigados.Estefan Radovicz / Agencia O Dia
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No momento do incêndio, a vendedora ambulante voltava do trabalho e enxergou, ainda da rua, o incêndio tomar grandes proporções - "o fogo era muito, muito alto", contou. Foi o pai dela quem abriu a porta do barraco para retirar as cinco crianças, entre elas uma filha de apenas um ano. "Se não fosse meu pai, não sei o que seria", completa. Um morador, que preferiu não se identificar, disse que perdeu "tudo o que tinha para salvar os dos outros". Ele tem problemas de locomoção, mas foi rápido ao arrombar as portas dos barracos para salvar as crianças.
Os moradores são como o nome sugere. Na 'Unidos Venceremos' tudo é comunitário: desde o banheiro até a bica para lavar as mãos. A água é cedida por parte dos moradores do condomínio vizinho - outra parte não concorda com a ocupação, mas também evita atritos. Lusitânia Maria, 52, é moradora do Minha Casa, Minha Vida e se tornou umas das líderes comunitárias da ocupação. "O condomínio cedia água para o pessoal. As pessoas nunca estão satisfeitas, uns tratavam mal, outros bem, mas todo mundo sempre viveu normal. Está todo mundo abalado", afirma Lusitânia.
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A Secretaria Municipal de Assistência Social acompanha as famílias, e a prefeitura negocia com os atingidos vagas em abrigos da cidade, ou aluguel social, um pedido dos moradores. O caixa vazio do município é um obtáculo. "A gente tem três anos de ocupação, foram três anos de promessas, passamos por três incêndios. A ocupação é Unidos Venceremos, então vamos ficar aqui até solucionar", garantiu Adriana.