Cria do Catarina fez uma residência artística no Museu do Ingá, em Niterói - Arquivo Pessoal
Cria do Catarina fez uma residência artística no Museu do Ingá, em NiteróiArquivo Pessoal
Por RAI AQUINO
Rio - Foi graças às peças com cerâmica que faz que Gabriella Marinho, de 27 anos, conseguiu ultrapassar as fronteiras do país e praticamente ir parar nos Estados Unidos. A cria do Jardim Catarina, em São Gonçalo, foi citada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) dentre vários artistas plásticos que não são norte-americanos.
"A princípio eu fiquei muito chocada e emocionada. Depois que entendi de fato a importância e a representação disso, me senti mais preparada para encarar as coisas. É muito importante a gente ocupar esses espaços independente de quais sejam", comemora Gabriella, sobre a citação que aconteceu no perfil do Instagram do MoMA, no fim de novembro.
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Poucos meses antes, ela havia sido convidada para fazer um trabalho para o DJ Rennan da Penha. Foi por causa do lançamento do DVD "Segue o Baile", que o músico gravou assim que deixou a prisão. Na ocasião, Rennan chamou oitos artistas moradores de favela para ilustrar as músicas do álbum para o Spotify. A cria do Catarina ficou com "Saudades da Gaiola", gravada em parceria com o MC TH.
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"Nem preciso falar da importância que é estar de alguma forma vinculada à trajetória do Rennan. Ele faz e fez uma diferença muito grande no funk do Brasil. Foi muito importante para a minha trajetória e para que a gente consiga enxergar uma luz do fim do túnel", celebra.
ATELIÊ EM CASA
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Formada em Jornalismo, além das obras em cerâmica, Gabriela também pinta, escreve e trabalha com audiovisual. A cria do Catarina conta que o primeiro contato com a arte foi na adolescência, quando ajudava a mãe a fazer biscuit e maxi colar para vender.
"Quando eu era criança, desenhava cartões, mas era algo bem despretensioso. Essa coisa da moldagem 3D foi com os biscuits", relembra.
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Depois de se formar em Jornalismo, Gabriella fez uma residência artística no Museu do Ingá, em Niterói. Mas o curso durou pouco tempo porque ela não tinha condições financeiras de se manter nele. Foi nessa época que a Cria do Catarina começou a fazer suas obras e abriu seu ateliê, que ocupa um dos cômodos de sua casa.
"Meu foco é a cerâmica preta, os símbolos pretos e africanos, que constituem a minha formação enquanto mulher preta. Retrato muito as mulheres e uso símbolos como espada de São Jorge e cabelos africanos. É importante a gente registrar a nossa identidade e deixar as pessoas a absorverem. É uma forma de manter uma história a partir de um ponto de vista que é individual, mas também coletivo", detalha.
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CURSOS
Além das obras, Gabriella também chegou a dar cursos tanto em seu ateliê, quanto em escolas públicas. Mas a pandemia a obrigou a manter o distanciamento de seus alunos. Ela diz que o seu público é majoritariamente feminino.
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"São mulheres negras, que se interessam por arte e pessoas que querem ter peças em casa, montar conjuntos, enxoval, coisas do tipo", conta.
A cria do Catarina vê com o seu trabalho uma forma de tornar mais relevante sua própria existência. Ela descarta o rótulo de que faz artesanato, entendendo que a arte é universal.
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"Em um mundo em que a gente sempre pensa em dividir, nós artistas estamos aqui para mostrar que o universal não é necessariamente branco e contemporâneo, no sentindo desses moldes modernos olhando sempre para o futuro. A gente pode olhar para o passado e trazer novas formas de ver as coisas a partir da interpretação que a gente tem do nossos antepassados", defende.