Ricardo vestiu-se de bate-bola e ficou na porta de onde seria o encontro para avisar as pessoas do adiamento - Luciano Belford/Agencia O Dia
Ricardo vestiu-se de bate-bola e ficou na porta de onde seria o encontro para avisar as pessoas do adiamentoLuciano Belford/Agencia O Dia
Por Thuany Dossares

Rio - Mesmo com a pandemia de covid-19 e as regras sanitárias para evitar a propagação do vírus, a cultura do Carnaval resistiu na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Apesar das restrições impostas pelas prefeituras, alguns grupos de bate-bolas colocaram seus blocos na rua e foram brincar.

Os encontros estavam sendo divulgados nas redes sociais, e alguns presidentes de turmas de bate-bola faziam até vídeos convocando as pessoas a comparecerem no bloco.

O DIA apurou que, pelo menos, seis eventos de bateboleiros aconteceram entre sexta-feira e domingo, só na capital fluminense. A reunião das turmas aconteceu em Campo Grande, Realengo, Guadalupe, Rocha Miranda, Cavalcante e Irajá.

Os foliões fantasiados também se reuniram em São Gonçalo, na Região Metropolitana, e em Queimados, na Baixada Fluminense.

Para atrair o público, os organizadores da festa prometiam bebidas a preço baixo, equipes de som, pula-pula para crianças e até queima de fogos.

Na cidade do Rio, a prefeitura determinou restrições sanitárias contra aglomerações. Entretanto, em um vídeo publicado no Facebook de uma página de bate-bola, o rapaz que está fantasiado com emblema de um grupo de Realengo, na Zona Oeste, e o outro que filma e narra debocham das regras e até mesmo do prefeito Eduardo Paes.

"O bebê, é o BDR aí, 2021. Falaram que a gente não ia para a pista. Tá aí, quem não vai para pista? Pode divulgar, por**, tá maluco. Olha aí a tropa" (sic), falava o bateboleiro.

"Alô Eduardo Paes, não tem como parar o bloco. Quatro anos na pista", completou o homem que gravava as imagens.

 

Temendo fiscalização e represálias, turmas também cancelaram blocos
Enquanto alguns grupos realizavam seus eventos, outros optaram por cancelá-los. O mecânico Ricardo Andrade tem 43 anos e 23 deles são dedicados ao Carnaval e grupo de bate-bolas. Mesmo com o amor no peito, fantasia pronta e a festa preparada, ele, que é presidente da turma Família Real, de Bangu, achou melhor cancelar o grande encontro de bateboleiros das zonas Oeste e Norte e da Baixada Fluminense, que ia acontecer às 14h de domingo, em Bangu.
"A previsão era que viessem umas 60 turmas, um evento grande. Mas fiquei com medo de fazer e a polícia chegar, mandar acabar com tudo, gerar alguma confusão ou multas também. Sabemos que em outros lugares a PM proibiu o som tocando as marchinhas aglomerações. Então ficamos inibidos de sair", explicou.
Mesmo sem a realização do encontro, Ricardo foi para o ponto de encontro, na Avenida Engenheiro Pires Rebelo, com a sua fantasia.
"Há mais de 20 anos eu sou envolvido com turmas de bate-bola, sou um dos cabeças. E bem antes de me dedicar a isso, quando criança eu sempre gostei da cultura, da fantasia e saía junto com alguns grupos, era o mascote. Trabalho o ano todo separando um dinheiro para fazer a roupa, que pode custar aí uns R$ 2,8 mil", contou.
O mecânico afirma que entende as ações de fiscalização para evitar aglomerações, mas questiona elas serem feitas em alguns lugares e outros não.
"O governo está fazendo a sua parte, fiscalizando e correndo atrás de vacina para a população. Mas eles proíbem os nossos encontros, e deixam diversos bares e casas noturnas funcionarem com aglomeração, isso antes mesmo do Carnaval", finalizou.
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Fiscalizações
Para evitar aglomerações e o desrespeito às normas sanitárias, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) tem realizado ações de fiscalização, alguma delas, com o apoio da Polícia Militar. O que se tem visto desde a sexta-feira de Carnaval, são diversos flagras de locais lotados e pessoas sem máscaras de proteção.
As fiscalizações tem acontecido em bares e casas noturnas, principalmente. No entanto, segundo a Seop, a Guarda Municipal do Rio não registrou nenhuma ação em blocos e encontros de bate-bolas, até o final da tarde de domingo.
A Polícia Militar também foi procurada para falar de atuações nesses eventos de Carnaval. Segundo a corporação, eles vêm desenvolvendo ações conjuntas com órgãos fiscalizadores com o objetivo de coibir a realização de eventos não autorizados.
"A atuação da corporação enquanto órgão de segurança pública segue protocolos técnicos, tendo como preocupação central a preservação de vidas, assim como as determinações estabelecidas pela legislação vigente e por decisões judiciais", informou, em nota.
Questionada, a PM não chegou a informar quantas ações de fiscalização foram feitas em encontros de bate-bolas. Em suas redes sociais, a corporação divulgou uma operação em um encontro de turmas, em Campo Grande, na Zona Oeste, no sábado.
De acordo com eles, após receber denúncias de que milicianos estariam infiltrados em um grupo de bate-bolas, policiais do 40º BPM foram ao local e prenderam um homem em flagrante, portando uma pistola, na Avenida Mariana.
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