Desenho feito por Maique em um 
de seus clientes
Desenho feito por Maique em um de seus clientes Arquivo pessoal
Por Bruna Fernandes*

Desde bem jovem, Maique Santos, de 28 anos, cortava cabelos em casa. No início, não cobrava nada. Depois, passou a cobrar um valor simbólico. E foi assim que o artista do cabelo começou sua empreitada. Porém, o que ele não sabia é que seria muito bem-sucedido, como sempre sonhou.

"Corto cabelo desde que eu tinha 15 anos, cortava no quintal da minha mãe. Colocava a cadeirinha no quintal, pegava a máquina que era da minha mãe, que é cabeleireira e é profissional, e cortava o cabelo dos senhores e das crianças sem cobrar. Depois, passei a cobrar um valor pequeno, na época era três reais, cinco reais, não passava disso. Cortava dos familiares quando não tinha cliente. Após isso, como eu tinha o sonho de ser jogador, corri atrás da carreira, mas infelizmente parei fui procurar emprego. Trabalhei durante dois anos num hospital. Foi quando casei e fui morar com a minha esposa", lembra ele.

E foi só depois de ter o primeiro filho que ele entendeu que seu destino era cortar cabelos. "Um dia, fui levar meu filho numa barbearia e o rapaz estava cortando com muita dificuldade, falei para ele que podia deixar do jeito que tava, que eu terminava de cortar. Levei meu filho pra casa, cortei, fiz o pé, fiz uma listra e voltei com uma foto pra ele (o cabeleireiro do salão) ver como tinha ficado. Então, ele me convidou para trabalhar com ele e fiquei trabalhando uns três anos lá, aí tomei coragem e abri minha própria barbearia", afirma ele, que hoje é dono da Resenha Barber Shop, em Campo Grande.

E tudo estava indo muito bem, até que um imprevisto familiar fez com Maique tivesse que se mudar de cidade e recomeçar do zero.

"Abri minha primeira barbearia, fiquei durante um ano conquistando clientela, correndo atrás, trabalhando. Meu foco era sustentar minha família, ganhar dinheiro, ter uma vida normal, boa, assim como qualquer trabalhador. Até que consegui me estabelecer no local onde eu tava, era bem perto da minha casa, em Campo Grande. Estava ganhando um bom dinheiro. Pra mim, estava bom do jeito que tava, até que eu tive um problema familiar e fui obrigado a sair de onde morava. Nos mudamos para Paraty e lá não tinha nenhuma opção de trabalho, a população de lá era muito pequena, não tinha como eu montar uma barbearia lá. Eu já estava desistindo da profissão. Até que consegui emprego em uma barbearia, em Angra dos Reis. Foi onde fiquei durante um ano trabalhando. De dia eu trabalhava na barbearia e quando não tinha cliente trabalhava num bar, que era ao lado da barbearia."

Quando sua esposa engravidou novamente e eles tiveram que retornar ao Rio, Maique viu na loja vazia que ficava ao lado do negócio do tio de sua esposa: era a oportunidade de reabrir a barbearia e dar continuidade a seu sonho.

"Aí, fui repensando e bolando uma estratégia para voltar e crescer na profissão. Foi quando comecei a fazer desenhos no meu filho. Primeiro, fiz o Batman, ficou muito legal, o pessoal da barbearia elogiou, minha esposa me deu força, falou que eu tinha potencial para ir longe, que não era para eu desistir, fui treinando no meu filho. Então, fui chegando nos artistas mandando mensagens, contando a minha história, a minha situação. Eu desenho desde criancinha, tinha facilidade de desenhar rostos, pessoas. Desenhos no cabelo, comecei ano passado. A torcida do Babu Santana estava muito grande (no BBB), e resolvi fazer uma desenho na cabeça de um colega. O objetivo era fazer fama dentro do bairro, pro pessoal conhecer o meu trabalho, até que estourou, viralizou, foi parar nas redes sociais e teve algumas matérias de sites."

Sonhador, o rapaz revela que sua inspiração vem de pessoas que venceram através de trabalho. "A minha inspiração é minha força, minha família. Tenho inspirações, que são alguns barbeiros que venceram, gente que saiu de baixo, tanto na profissão de barbeiro como em outras profissões. Pessoas que conquistaram seu espaço."

Falando de futuro, o barbeiro quer abrir mais barbearias. Mas diz que precisa, antes de tudo, atualizar seu material e técnica.

"Preciso, primeiro, ajeitar a que eu tenho. É um lugarzinho aconchegante, onde as pessoas se identificam com o nosso jeito de ser, com nossa energia. Pretendo investir no meu trabalho, no aprimoramento, pretendo fazer um curso de desenho, atualizar meu material. Mas, pretendo sim, crescer na profissão", finaliza Maique, que controla o Instagram da loja: @resenhacgbarbershop.

*Estagiária sob supervisão de Karina Fernandes

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