O desembargador Marcos Pinto da Cruz é apontado pelo MPF como chefe do grupo criminoso
O desembargador Marcos Pinto da Cruz é apontado pelo MPF como chefe do grupo criminosoEstefan Radovicz / Agencia O Dia
Por O Dia
Uma das negociatas também reveladas na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) que levou À prisão de quatro desembargadores e outras sete pessoas, nesta terça-feira, envolve as principais empresas de ônibus do Rio. Segundo a investigação, quatro consórcios e das empresas de ônibus pagaram pouco mais de R$ 3 milhões em propina ao grupo liderado pelos magistrados Marcos Pinto da Cruz, Fernando Zorzenon e Antonio Carlos de Azevedo entre agosto de 2018 e agosto do ano passado em troca de vantagens na Justiça Trabalhista.

De acordo com o texto da denúncia, os valores eram pagos pelas empresas Consórcio Transcarioca Transportes, Consórcio Santa Cruz, Consórcio Internorte, Consórcio Intersul a Transportes Barra LTDA e a Viação Redentor. Em troca, o grupo liderado pelos desembargadores emitiu decisões favoráveis às empresas no programa de execução da Justiça do Trabalho, além de ter facilitado a regularização de débitos trabalhistas.
Na maioria das ações, os valores eram repassados ao escritório de advocacia Cruz e Advogados Associados, de Eduarda Pinto da Cruz, irmã do desembargador Marcos Pinto. Além dela, também participaram dos esquemas Leila Maria Gregory, esposa do desembargador Antônio Carlos de Azevedo, e advogado das empresas de ônibus Pedro D'Alcântara.

O primeiro esquema envolvendo as empresas retratado na denúncia apresenta provas de que o grupo formado por Consórcio Transcarioca Transportes, a Transportes Barra LTDA e a Viação Redentor, pagou R$ 1.229.435 ao grupo. Sendo R$ 576 mil destinado ao desembargador Marcos Pinto da Cruz, R$ 118 mil para Leila Maria Gregory e R$ 430 mil para Pedro D’Alcântara.

Feito em 2020, o segundo acordo envolvia mais uma vez o consórcio Transcarioca e os consórcios Internorte, Intersul e Santa Cruz. Nessa ocasião, as decisões favoráveis às empresas custaram R$ 1.8 milhão.

Em todas as negociações do grupo, a circulação dos valores de propina foi feita sempre por transferências bancárias e saques em dinheiro. Uma das transações que chama a atenção no documento foi feita pelo desembargador Marcos Pinto, que teria sacado R$ 650 mil em dinheiro da sua conta.
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A investigação foi amparada por amplo material obtido pelo MPF através da apreensão dos aparelhos celular dos envolvidos na Operação Tris In Idem, deflagrada em agosto do ano passado, que culminou no afastamento do governador Wilson Witzel. Nos aparelhos,  áudios, fotos e comprovantes de transações bancários foram obtidos.
"As mensagens de áudio são estarrecedoras e evidenciam atuação conjunta do grupo e sua força em conseguir decisões judiciais favoráveis e desfavoráveis às empresas de ônibus, conforme seus interesses", disse a Subprocuradora-geral da República, Lindôra Maria de Araujo, ao revelar trechos de conversas entre os integrantes do grupo.
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Por meio de nota, os consórcios — Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca — afirmam que "a centralização é uma alternativa jurídica disponível na legislação, utilizada para equilibrar pagamentos de débitos trabalhistas, preservar vagas de trabalho e manter a operacionalidade do sistema de transporte de passageiros por ônibus. Os consórcios aderiram ao sistema de forma legal, através da contratação de advogados, desconhecendo qualquer possibilidade de existência de irregularidades"