"Nossos nomes ganharam até um novo batismo, acompanhados do @. Emojis agora dizem mais do que mil palavras"
"Nossos nomes ganharam até um novo batismo, acompanhados do @. Emojis agora dizem mais do que mil palavras"Arte: Kiko
Por ANA CARLA GOMES
Uma reviravolta na minha casa aconteceu desde que a pandemia chegou, anunciando tempos de incerteza e angústia para todos nós. Decretei, mesmo instintivamente, uma caça aos meus guardados e, assim, achei bilhetes, fotos, postais, lembrancinhas de viagens...
Atribuo ao meu lado de canceriana essa vontade de não me desfazer de relíquias e de revisitar o passado. Tenho duas máquinas de escrever, que não são remanescentes dos meus tempos de datilografia, mas que ganhei de presente. Uma, inclusive, é herança do saudoso pai da minha amiga Tainara. Ainda guardo fitas VHS, aquelas que nos remetem diretamente aos tempos das locadoras de filmes e à preocupação de ter que rebobiná-las para não pagar multa na devolução. CDs, disquetes, fotos em papel, negativos: são marcas de uma época bem vivida.
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A nostalgia costuma nos acompanhar quando fazemos esse vaivém de memórias. Ao recordarmos ícones da nossa trajetória, nos damos conta do avanço da tecnologia. O tempo nos acena com lembranças e atualidades. Hoje, por exemplo, tudo é instantaneamente fácil. O clique da foto, o "match" no aplicativo de paquera, as curtidas, as reações com emojis. Nossos nomes ganharam até um novo batismo, acompanhados do @. Emojis agora dizem mais do que mil palavras. E letras também, vejam só. Um 'S' é sim. Um 'N' é não. Nesse novo código, temos ainda as figurinhas, usadas nas mais diversas situações como marcas registradas nos bate-papos virtuais.
Enfim, a modernidade puxou seu assento e já se acomodou na nossa casa. E como não se render? Meu pai, aos 70 anos, faz uma lista de compras para o supermercado num pedaço de papel. No meu caminho até lá, já pipocam no celular mensagens pelo Whatsapp de algum item que ele esqueceu. Num desses dias, mando foto do bacalhau para a Páscoa, como ele havia me pedido. E, quando eu rapidamente faço o telefonema à moda antiga, eis que ele atende e me responde: "Já disse sim na mensagem". Bom mesmo é saber olhar para o que já vivemos e conviver bem com o presente, não é?