Grupo da Polícia Civil, criado pelo governador em exercício do Rio, Cláudio Castro, usa inteligência e asfixia finanças dos criminosos
Por Thuany Dossares
Mais de 600 pessoas apontadas por integrar milícias foram presas pela Polícia Civil, nos últimos seis meses. O resultado foi possível graças a uma força-tarefa criada por determinação do governador em exercício, Cláudio Castro, para impedir crimes durante o período eleitoral. Mesmo com o fim das eleições, o Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), com o delegado Felipe Curi, continuou com os trabalhos que objetivam não só prender, mas asfixiar financeiramente os criminosos. Até agora, os milicianos já tiveram R$ 1,5 bilhão de prejuízo com as 84 operações, de acordo com o levantamento que O DIA teve acesso, com exclusividade.
"Temos que combater todo tipo de crime. A milícia é um deles. Mas, aqui no Rio, foram quase dez anos sem uma política de estado contra o avanço desses grupos. Não é possível pensar em segurança pública no Rio sem usar a inteligência contra os milicianos, como estamos fazendo. Criamos uma força-tarefa na Polícia Civil para atuar no núcleo das quadrilhas e asfixiar o poderio financeiro delas. A população já sente os efeitos com as prisões", afirmou Castro à reportagem.
Além dos capturados, 23 paramilitares morreram em confronto com os agentes. Em breve, a polícia pretende chegar aos principais procurados: Danilo Dias Lima, o Tandera; Edmilson Gomes Menezes, o Macaquinho; e Wellington da Silva Braga, o Ecko. "O cerco está se fechando, a gente está asfixiando eles. Cada operação que fazemos conseguimos ter uma quantidade de informações de inteligência absurdas. Temos percebido que isso tem incomodado muito eles e o recado é que a gente vai continuar, vai incrementar a força-tarefa ainda mais, até que o oxigênio deles acabe. Vão ficar sufocados, sem ter como respirar", disse Curi, diretor do DGPE.
Segundo dados de inteligência da Polícia Civil, a organização criminosa tem grandes pontos de atuação, principalmente, na Zona Oeste do Rio e na Baixada Fluminense, nos municípios de Belford Roxo, Nova Iguaçu, Seropédica, Duque de Caxias e Itaguaí. Mas investigações também demonstram que os milicianos tem se estendido para o Quitungo, na Zona Norte do Rio, cidades de São Gonçalo e Maricá, na Região Metropolitana, e Mangaratiba, na Costa Verde.
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Operações já deram prejuízo bilionário a milícia
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Dez delegacias do DGPE, com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), realizaram 84 operações da força-tarefa, desde 14 de outubro. As ações geraram um prejuízo bilionário aos milicianos Ecko, Tandera e Macaquinho.
Desde sua criação, a milícia costuma trabalhar com táticas de extorsão de comerciantes e moradores da região onde atuam. Mas, durante as investigações da força-tarefa, as especializadas se surpreenderam com novas atividades da organização criminosa, além das já tradicionais, como a exploração do transporte alternativo, provedores de internet e TV a cabo, e venda de gás e água.
"Começamos a nos deparar com algumas coisas mais inusitadas, como empresas que instalam GNV em veículos, desmanches de vans, onde eles pegam peças de vans de outros segmentos que são roubadas e usam para manutenção da frota que circula na Zona Oeste do Rio", disse Curi.
O delegado ainda citou outras novas atividades que os paramilitares cometem para aumentar sua fonte de renda.
"Eles também têm fábrica clandestina de bebidas, onde falsificam e adulteram, depois vendem nos estabelecimentos da área da milícia, nos bares e restaurantes, que são obrigados a comprar com eles e ainda tem que pagar a taxa de segurança para funcionar. A milícia também está se aproveitando de venda de cigarros clandestinos, eles contrabandeiam e colocam para vender nos locais que exploram", explicou.
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Mirando às construções clandestinas da milícia, quatro obras de prédios, na Zona Oeste do Rio, foram interditadas, o que causou um débito de R$ 45 milhões. Os milicianos exploravam, inclusive, areais e pedreiras, segundo a polícia.
"Claro que é importante prender. Mas não adianta você só tirar essas pessoas de circulação, e deixar o cara com dinheiro, a organização continuar a pleno vapor com sua atividade financeira, temos que bater onde ele ganha dinheiro, eles trabalham como uma empresa", falou o diretor do DGPE.
Outro grande prejuízo foi dado com a apreensão de 620 unidades de TV Box. "Além de vender os aparelhos, que são pontos de TV a cabo, eles ainda lucravam com a mensalidade cobrada ilegalmente para se ter acesso ao conteúdo dos canais fechados. Só essas apreensões geraram um prejuízo para a milícia de cerca de R$ 800 milhões", garantiu Felipe Curi.
Prisões de matadores da milícia e puxadores de guerras
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Criada para reprimir homicídios e tentativas de homicídios na Baixada Fluminense, durante o período pré-eleitoral, principalmente cometidos pelos milicianos, e apurar a relação de candidatos com organizações criminosas, a força-tarefa da Polícia Civil se estendeu até conseguir capturar os principais matadores da milícia.
Das 604 prisões, o delegado Felipe Curi pontuou que uma das mais importantes foi a do irmão de Macaquinho, Michel Gomes Menezes, o Chechel, em novembro. Na ocasião, ele e mais cinco criminosos se preparavam para invadir comunidades controladas por traficantes do Comando Vermelho (CV).
Apontado como o principal matador do grupo liderado por Ecko, Gil Jorge Santos de Aquino Júnior, conhecido como Da Cova, também foi capturado pela força-tarefa, assim como o segurança do chefão da milícia, Alexandre Felipe Mendes, o Taz.
Entre os 23 mortos em confronto com os policiais civis, está o ex-PM Anderson de Souza Oliveira, o Mugão. As investigações apontaram que ele era integrante do grupo de matadores de aluguel 'Escritório do Crime', além de ser diretamente ligado ao miliciano Macaquinho.
"Nesse trabalho de você prender o miliciano, você está agindo diretamente no combate aos homicídios. Prendemos pessoas que eram responsáveis diretas pelas execuções da milícia, que a gente chama de matador da milícia, pessoas que eram do escritório do crime, que puxam guerra com o tráfico, e isso gera homicídios. Tiramos essas pessoas de circulação", finalizou Curi.
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