Uma manhã na Rua Ator Paulo Gustavo comprova a força da arte
"Há, sim, resistência no sorriso e nos jovens músicos que resgatam Pixinguinha e João de Barro numa calçada em Niterói. Há também poesia ecoando entre os carros da cidade grande..."
Atravessei a ponte rumo a Niterói, numa dessas belas manhãs de outono, por conta de um compromisso. Meu destino era a Rua Ator Paulo Gustavo. Ao virar a esquina e entrar no endereço recém-batizado em homenagem ao humorista que nos deixou neste mês, vítima de complicações da covid-19, o trânsito passou a ficar mais lento, naquele 'anda e para' constante. E assim consegui notar o vaivém de máscaras pelas calçadas e registrar duas cenas que me chamaram a atenção antes de estacionar o carro.
À minha esquerda, avistei a padaria Beira-Mar, frequentada por Paulo Gustavo e sua mãe, Déa. Devido à vagareza do trânsito, pude perceber um menino posando para foto embaixo de uma das novas placas da rua. Esta, especificamente, traz a seguinte frase do comediante: "Rir é um ato de resistência".
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Dei um leve sorriso dentro do carro e segui em frente. Antes de chegar ao estacionamento, ainda consegui ver, em outra esquina, um grupo de meninos carregando instrumentos musicais. Eles posavam para uma selfie com outra placa da rua ao fundo. Lá estavam o nome de Paulo Gustavo e outra mensagem dele: "O humor salva, transforma, alivia, cura, traz esperança pra vida da gente".
Fiquei na expectativa para descer do carro e conferir tudo de pertinho. Para minha sorte, lá estavam os garotos tocando belas melodias. O som de motores e buzinas até tentava se impor em alguns momentos, mas não era páreo para os acordes daqueles meninos, que desfilavam seu talento bem pertinho da placa que eterniza um símbolo do humor e da arte. No celular, gravei um trecho de 'Carinhoso': "Vem, vem, vem, vem/Vem sentir o calor dos lábios meus...".
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O estojo de um dos instrumentos, com a tampa aberta, revelava o contato da garotada. Ali mesmo, na calçada, acessei o perfil no Instagram (@orquestrapopular.nit) e conferi a descrição: "um grupo formado por oito músicos vindos das comunidades de Niterói". Ainda tive tempo de conferir outra placa, com mais uma mensagem de Paulo Gustavo: "Ame na prática, na ação, amar é ação, amar é arte".
Esses episódios seguem como notas harmoniosas no meu coração. Tanto que, dias depois, mandei mensagem para um dos meninos dos belos sons: Rafael de Almeida Marinho, de 18 anos, encontrou na flauta doce o caminho para chegar à suavidade do violino. E me disse: "Arte é o combustível para a vida, não sei viver sem ela".
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A retrospectiva das cenas daquela manhã até a minha conversa com o Rafael dá ainda mais vivacidade às frases de Paulo Gustavo. Há, sim, resistência no sorriso e nos jovens músicos que resgatam Pixinguinha e João de Barro numa calçada em Niterói. Há também poesia ecoando entre os carros da cidade grande, mesmo com a dureza dos tempos atuais. E haverá sempre a arte, o nosso respiro de todos os dias.
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