Operação apura fraudes na venda de vacinas
Operação apura fraudes na venda de vacinasDIVULGAÇÃO POLÍCIA CIVIL
Por LUISA BERTOLA E YURI EIRAS
Rio - A Polícia Civil infiltrou um agente durante uma reunião entre a prefeitura de Barra do Piraí, no Sul Fluminense, e uma empresa que afirmava vender doses da vacina de Oxford/AstraZeneca. Sócios da Monserrat Consultoria, localizada em Recife, são alvos de busca e apreensão na manhã desta quinta-feira (22), fruto da investigação que aponta que a companhia oferecia a municípios brasileiros 'vacinas fantasmas' que jamais chegariam.
Foi o prefeito de Barra do Piraí, Mario Reis Esteves (Rep), quem percebeu a suposta fraude e acionou a polícia. "A Justiça deu uma autorização para que um agente participasse da reunião junto com o prefeito de Barra do Piraí. Essa reunião foi gravada, com autorização judicial, para infiltrar o agente", explicou o delegado Thales Nogueira, titular da Delegacia de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (DCC-LD), à frente da operação 'Sine Die', com apoio da Polícia Civil de Pernambuco e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
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A dinâmica da fraude, de acordo com a polícia, acontecia da seguinte forma: a empresa Monserrat Consultoria, localizada no Recife, se colocava como intermediária da Ecosafe Solutions, companhia da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e entrava em contato com municípios de pequeno e médio porte para oferecer vacinas da Oxford. A oferta era de cada dose da vacina a 7,90 dólares (R$ 44). 
A companhia argumentava que participou das pesquisas de produção da vacina e que, por isso, teria direito a meio bilhão de doses. Mas em nota, a Oxford/AstraZeneca informou que "todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado ou para governos municipais e estaduais no Brasil".
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A empresa que dizia vender vacinas pedia que as prefeituras realizassem o pagamento antecipado via 'swift' - um tipo de remessa bancária internacional simples -, ou em carta de crédito no momento da suposta postagem das doses em Londres, Inglaterra.Chamou a atenção dos agentes o fato da Ecosafe Solutions, além de ser recém criada, utilizar como endereço um escritório de co-working (salas onde funcionários de empresas diferentes compartilham o mesmo espaço) e, ainda, ocultar os dados de registro de seu site. Os contatos, segundo o delegado Thales Nogueira, eram feitos virtualmente, por e-mail ou Whatsapp.
A polícia aponta que os empresários ofereceram vacinas a pelo menos 20 municípios brasileiros, entre eles Barra do Piraí e Duque de Caxias, ambos no estado do Rio. Ainda não há certeza se alguma prefeitura efetuou o depósito. "Até o momento não temos informação de nenhuma prefeitura que tenha efetuado o pagamento. O prefeito de Porto Velho (RO) vai esclarecer se houve o pagamento lá", comentou o delegado.
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A ação tem como objetivo apreender telefone celular, computadores, contratos e outros documentos relacionados ao crime. Os envolvidos responderão pelos crimes de organização criminosa e estelionato contra a administração pública.
"Foram oito mandados, sete em Recife e um em um resort de luxo em Muro Alto (famosa praia pernambucana próxima a Porto de Galinhas). Dos sete mandados de Recife foram cumpridos quatro. Os outros investigados tinham muitos endereços, em vários deles foram verificados que não moravam mais no local", afirmou Nogueira.
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Em nota, a prefeitura de Duque de Caxias esclareceu que "que tenta negociar a compra de vacinas contra a COVID-19, em caráter de urgência, para atender a toda a população do município. A PMDC abriu negociação com a referida empresa mas, percebendo que não havia garantias, abortou a operação e suspendeu a compra. Cabe acrescentar que nenhuma quantia foi repassada à empresa e que a Prefeitura continua em busca da compra dos imunizantes".