Idosa de 63 anos que viveu sob trabalho escravo por quatro décadas voltou a morar com sua família
Idosa de 63 anos que viveu sob trabalho escravo por quatro décadas voltou a morar com sua famíliaDivulgação/Prefeitura do Rio
Por O Dia
Rio - A idosa de 63 anos que viveu sob trabalho escravo por quatro décadas voltou a morar com sua família. Depois de dois meses de acolhimento num abrigo da Prefeitura, nesta semana, Carmen (nome fictício) abraçou parentes queridos que perdera de vista. Ela foi resgatada por uma força-tarefa da Auditoria Fiscal do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho.
A idosa passou a receber atendimento médico, nutricional, psicológico e jurídico de profissionais da Secretaria Municipal de Assistência Social, que trabalharam na sua reinserção. "Tínhamos que mantê-la em segurança enquanto procurávamos a família. E tínhamos que garantir que ela passasse a ter renda", explicou a secretária Laura Carneiro.
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Por 41 anos, Carmen cuidou de uma família de oito pessoas e, nos últimos tempos, de seis cachorros, sem receber remuneração pelo serviço. Criou cinco crianças e acompanhou dois idosos até eles falecerem. Além disso, diariamente, depois de todas as tarefas domésticas, tinha que catar latinhas na rua para vendê-las e entregar o dinheiro na mão da dona da casa.
Agora, a idosa está inscrita no CadÚnico (Cadastro Único do governo federal) e tem direito ao saque do seguro-desemprego. "Ela chegou aqui amedrontada, arisca, emagrecida", descreveu a diretora do abrigo onde Carmen ficou por dois meses. Por determinação judicial, os nomes e os locais serão preservados.
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"A violação de direitos foi substituída no abrigo por vivência comunitária, fortalecendo os vínculos sociais da idosa para a sua reinserção", disse a assistente social que acompanhou-a nos últimos dois meses. Depois que a família foi encontrada, a vivência com os parentes foi sendo restabelecida até que ela passasse a morar com eles.
Foi emocionante a despedida de Carmen das profissionais que cuidaram dela no abrigo. Ela declarou que “agora sentia-se entre amigos”. Com sorrisos tímidos – ela é tão doce e suave que ainda tem dificuldade em perceber que esteve escravizada – Carmen fez questão de abraçar a todas antes de partir. No local onde trabalhou por tanto tempo, dormia num cômodo sem luz elétrica, num colchão precário, envolta por paredes carcomidas, e nunca teve a chance de casar-se, ter filhos ou comprar uma roupa ou um simples perfume na farmácia mais próxima.