João Gouveia
João Gouveia Divulgação
Por Yuri Eiras
Rio - Após 15 anos na gestão das operações da Supervia, concessionária que administra os trens urbanos, o engenheiro mecânico João Gouveia Ferrão assumiu na última semana a presidência do Rio Ônibus, o sindicato das empresas de ônibus da capital. A missão é mitigar a crise do setor, agravada pela pandemia - a entidade calcula que a média diária de passageiros caiu de 3,5 milhões para 1,8 milhão no último ano, e boa parte das 30 empresas de ônibus têm futuro incerto. Em entrevista ao DIA, Gouveia avalia que a solução é um novo modelo de financiamento, subsidiado pelo poder público. "O problema que vivemos no Rio é clássico de estrutura. O sistema inteiro está colapsado".
O DIA: Você passou 15 anos na gestão das operações da Supervia. Há algo que o sistema rodoviário possa aprender com o sistema ferroviário?
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Gouveia: Cheguei na Supervia em 2005, com um serviço degradado. Fui responsável pela parte de operação e recuperação do sistema. Quando cheguei, ainda tinha o surfista de trem, um sistema totalmente obsoleto, e a gente caminhou pra fazer uma modernização. Traçamos um plano bem feito. Embora haja similaridade nas questões conceituais, minha prioridade agora é realmente buscar uma equalização na relação econômico-financeira. Sem resolver a questão econômica do setor, a gente não tem como aspirar melhoria. 
OD: Qual a solução para atenuar essa crise econômica? Existe uma fonte de financiamento para construir um modelo mais saudável? O subsídio é a saída? 
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A lei 12.587/2012 é clara: diz que municípios e estados têm que privilegiar o transporte público coletivo. Se você for ver, isso faz todo sentido. É importante subsidiar. O problema que vivemos no Rio é clássico de estrutura. O sistema inteiro está colapsado, e a sociedade não pode pagar a conta. É uma judiação, uma pena vermos um transporte tão fundamental e estrutural na vida do carioca dessa forma.
Outra proposta nossa é ter um fundo garantidor para mobilidade. É preciso investir. Toda a sociedade se beneficia do transporte público coletivo. 
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OD: A tarifa de ônibus no Rio segue R$ 4,05 há dois anos. Há intenção, ou expectativa de aumento? 
G: O sistema está totalmente desequilibrado, e estamos há um tempo sem esse reequilíbrio. Essas soluções passam por essa conversa junto ao poder concedente, iremos buscar uma saída. Pode ser o aumento da tarifa, ou o pode ter outra solução, de repente um apoio no óleo diesel, que já subiu mais de 42%.
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Desde 2015, nós perdemos 16 empresas, 21 mil empregados foram demitidos. O contrato que rege essa relação dos concessionários precisa ser melhorado. A tarifa é R$ 4,05, mas o ticket médio é R$ 2,84, porque há o Bilhete Único. Em até 2h30, o usuário paga uma passagem só. A nossa proposta é você ter uma tarifa publica e outra de remuneração no contrato. Há hoje dispositivos de divisão de lucros e prejuízos com o poder público, por exemplo. Não tem como o transporte público parar em pé se não tiver esse apoio.
OD: No último mês, a viação Acari anunciou o encerramento das atividades, e outras companhias sobrevivem com dificuldades. Qual o panorama da situação dos empresários? Há risco de fechamento de outras viações?
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G: As empresas têm enormes dificuldades. Temos três empresas em recuperação judicial. Essa é a nossa preocupação. Em torno de 2015, a vida útil dos nossos carros era em torno de 3 anos. Hoje, está em 6.44 anos. O capital está sendo dilapidado. Vi, ao assumir o Rio Ônibus, a vontade dos empresários e rodoviários de fazer dar certo. Todos têm amor pela camisa. São verdadeiros heróis da pandemia: não deixaram de descumprir um minuto sequer atribuições. Equalizar essa situação financeira é fundamental para a vida das 30 empresas. A minha missão é ter celeridade.