Bolsonaro sobe em trio elétrico para falar com apoiadores em evento de motociclistas no Rio
Bolsonaro sobe em trio elétrico para falar com apoiadores em evento de motociclistas no RioReprodução de vídeo
Por Jorge Costa*
Rio - Intensas aglomerações foram registradas em diferentes pontos do Rio de Janeiro após Jair Bolsonaro (sem partido) participar de um passeio de moto na manhã deste domingo (23). Sem máscara, o presidente subiu em um carro de som para discursar e provocou mais aglomerações. A presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, condenou o acontecimento e classificou o episódio como ‘absurdo’, ‘desrespeito’ e ‘retrocesso’ em relação ao combate à covid-19 no estado.

“Eu não consigo entender qual é a motivação para fazer um encontro desses, em um momento em que não temos o controle da pandemia, em momento nenhum nós ficamos sem casos. O Rio teve uma pequena baixa do número de casos essa semana. Eu não consigo entender o que eles estão comemorando. O que eles estão comemorando? Os quase 50 mil mortos no estado? Não entendo essa manifestação, eu acho simplesmente um desrespeito, um absurdo e um retrocesso”, afirmou Tânia Vergara sobre as aglomerações.

Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Dr. Alberto Chebabo, a cidade do Rio sofre o risco de ter novo aumento no número de casos por causa das aglomerações registradas neste domingo.

“Os riscos são enormes. Pode ocorrer uma disseminação ainda maior em um momento que estamos preocupados com uma próxima onda da doença, pois não sabemos se os casos vão aumentar e esse tipo de manifestação não ajuda em absolutamente nada, muito pelo contrário. Só estimula mais aglomerações, aumenta o risco de disseminação da doença, o número de casos, para essas pessoas que estão participando e outras com quem elas estiverem contato”, disse.

A capital fluminense registrou neste domingo 25.920 mortos. No estado do Rio de Janeiro, o número é de 49.438 casos contabilizados na tarde de sábado (22). A taxa de ocupação dos leitos de UTI tanto estadual quanto municipal estão em níveis considerados ‘zona de alerta’, de acordo com os boletins epidemiológicos produzidos pela Fiocruz. Tania Vergara mencionou que a cobertura de vacinação da cidade ainda é pequena, lembrando que apenas 29% da população carioca recebeu o imunizante, por fim, ela disse que as manifestações políticas poderiam ser feita de maneira segura, sem a necessidade de um evento presencial.

“Qualquer forma de manifestação política não deveria ser presencial, nossa cobertura vacinal ainda é baixa, o Rio de Janeiro é a cidade no meio de inúmeras cidades satélites, então ainda mais em um domingo, que somos visitados por todas as pessoas que moram no grande Rio, então não deveria ser feita essa manifestação presencial. [Isso] é inominável”, disse.

Bolsonaro (sem partido), fez duras críticas ao que ele classificou como ‘lockdown’ promovido por governantes durante discurso para apoiadores.Ele se referiu como ditadura a iniciativa dos governantes para frear a pandemia de covid-19, que já matou mais de 450 mil pessoas. Tânia Vergara ressaltou que no Rio de Janeiro não adotou nenhum tipo de ação como as mencionadas por Bolsonaro, mas que deveria ter feito.

“Nós nunca tivemos medidas rígidas, jamais. Não houve em momento nenhum medidas rígidas como houve na Europa, ou nos Estados Unidos, apenas diminuímos a circulação de pessoas. Não houve multa para quem estivesse nas ruas, não teve nada dessas medidas rígidas que deveriam ter acontecido no país inteiro, então, essa afirmativa, infelizmente, não é verdadeira”.

Tania Vergara também destacou a questão de responsabilidade do presidente pelas aglomerações e disse não ser possível que Bolsonaro não soubesse dos riscos.

“Não é possível que ele não soubesse que a ‘motociata’ seria acompanhada pelos seguidores dele que não tem motocicleta de forma presencial? É só olhar o que está acontecendo. As pessoas estão na rua, aglomeradas, sem máscara. Então [essa justificativa] é uma cortina de fumaça”, concluiu.

CPI da Covid-19 vai pedir esclarecimentos à prefeitura do Rio e ao governo

O senador e vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que a comissão vai pedir informações ao governo e à prefeitura do Rio pelas aglomerações provocadas por Bolsonaro.

A Prefeitura do Rio mantém proibida a realização de eventos em áreas públicas. A medida vale até o dia 31 de maio. O uso de máscara é obrigatório na cidade. Na semana passada, no Maranhão, Bolsonaro foi multado pelo governo por provocar aglomerações e não usar máscara em meio à pandemia.
Estagiário sob supervisão de Gustavo Ribeiro