Especial 70 Anos Jornal O DIA. Luarlindo Ernesto, repórter do Jornal O DIA.Daniel Castelo Branco

Por O Dia
O dia 13 de agosto de 1949 é uma data importante para o jornalismo brasileiro. Foi quando nasceu Luarlindo Ernesto da Silva, carinhosamente chamado de Luar pelos amigos e colegas de profissão. "Meus pais me sacanearam. Nasci numa enchente na Praça da Bandeira. Não tinha nenhum luar lindo naquele dia", revela o bem-humorado repórter.
Aos 78 anos, ele coleciona histórias curiosas dos bastidores do jornalismo. Começou sua carreira aos 14, com direito a três passagens pelo DIA. Desde 1992 ininterruptamente na casa, Luar já trabalhou em todos os horários da redação. Foi pauteiro, chegando às 3h para garimpar os acontecimentos da madrugada, passou pela escuta, captando as frequências de rádio da polícia e de hospitais, e cansou de ir para a rua atrás da notícia, seu momento preferido. Tudo isso dividindo a atenção com outros empregos, como o de funcionário do Detran, por exemplo.
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"Não tinha hora para acordar, para dormir e nem para ir pra casa. No porta-malas do meu carro sempre tinha sapato, meia, cueca, calça, camisa e paletó. Sempre era bom ter uma reserva, caso eu precisasse estender", conta.
Apesar de já estar aposentado, Luarlindo se mantém ativo e conta que o prazer na profissão é um dos grandes responsáveis por fazer com que permaneça da mesma forma como começou em 1958, cheio ânimo e disposição para trabalhar. "Desde os meus 72 anos, eu tô amarrado dentro de casa, de tornozeleira aqui no meu cativeiro. Eu já tinha feito de tudo num jornal, menos trabalhar em casa. Mas mesmo assim eu não consegui me domesticar. Começo às 5h30 da manhã e vou até 20h todo dia, incluindo sábado, domingo e feriado. Não tenho nada para fazer, eu tô preso em casa! E a mulher sempre reclamando que eu começo de madrugada e só paro de noite", relata Luar.
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Nos 70 anos do DIA, ele destaca sua ligação íntima com o jornal. "O DIA me dá muita alegria. Isso tudo é trabalho, dedicação e amor à profissão. Vi muita modificação da maneira de se trabalhar e de escrever, já que você tem que acompanhar o tipo de leitor que você reporta. O intuito é sempre agradar aos leitores, mas sem fugir das verdades".
'FURO É A MELHOR COISA DO MUNDO'
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Em seu extenso currículo, Luar conta com três prêmios Esso (o importante voltado para os profissionais da imprensa no Brasil). A experiência tornou o jornalista especialista de "clínica geral", já que topa o tema que vier, como ele define. Há dois anos, ele escreve crônicas que são publicadas aos sábados. São as 'Histórias do Luar'.
Realizado na profissão, o veterano ensina o segredo para se conseguir uma matéria exclusiva. "O furo é a melhor coisa do mundo, mas é fruto de muito trabalho. Às vezes a sorte ajuda, mas a dedicação é um pilar importantíssimo para conseguir sucesso na carreira. Para isso nunca podemos descartar nenhum personagem, ouvindo porteiros, zeladores e até os bêbados de plantão, para poder trazer uma história, de preferência exclusiva". Palavras do mestre.
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MOMENTOS MARCANTES
Luarlindo Ernesto cita as coberturas das chacinas da Candelária e de Vigário Geral como alguns dos momentos mais marcantes de sua carreira. A primeira aconteceu na noite de 23 de julho de 1993, perto da Igreja da Candelária, no Centro, quando oito jovens foram assassinados. Já a Chacina de Vigário Geral foi na madrugada de 29 de agosto do mesmo ano. Naquela ocasião, a comunidade foi invadida por um grupo de extermínio formado por cerca de 35 homens encapuzados e armados, que arrombaram casas e executaram 21 pessoas.
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"Eu lembro até hoje que essas chacinas tiveram um intervalo muito pequeno e ambas envolveram muita tensão. Conseguimos fazer nossas coberturas, mas a de Vigário Geral, por ter acontecido no interior da comunidade, foi um grande desafio logístico", relembra.