Especialistas alertam para riscos de não tomar a segunda doseDaniel Castelo Branco

Por Jorge Costa*
Rio - Faltando oito dias para os jogos da Copa América na capital do Rio de Janeiro, o governador Cláudio Castro disse que o estado se prepara para a possibilidade de uma quarta onda da covid-19. A Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou, em nota, que está atualizando um plano de contingência para ampliar o número de leitos e alertou para o risco de que pessoas "atrasadas" para receber a vacina possam se infectar com a covid-19.

Ainda existe uma grande parte da população prioritária, em especial a carioca, que não está protegida em relação ao coronavírus. Segundo o UOL, a prefeitura do Rio teria realizado uma estimativa mostrando que, até o último sábado (29), cerca de 35% dos grupos prioritários, em maior parte de pessoas com comorbidades, sequer compareceram para receber a primeira dose da vacina, o que equivale ao número de 750 mil pessoas que possuem riscos maiores do que as pessoas em geral.

Outros 16,9 mil idosos acima de 60 anos na capital também não compareceram para receber a vacina contra a covid-19. Cerca de 416,8 mil idosos tomaram apenas a primeira dose da vacina e estão aguardando o prazo previsto na caderneta para completar a proteção.
Especialistas ouvidas pelo DIA reforçaram que quem recebeu apenas a primeira dose não está totalmente protegido contra a covid-19 e deve manter os cuidados para evitar o contágio pela doença, e que ainda existe o risco de ainda se ter um caso grave de infecção. Mesmo após receber a segunda dose, as medidas de segurança ainda devem ser tomadas.

Para acelerar a vacinação dos "atrasados", a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou, em nota, que está realizando a busca ativa das pessoas que não retornaram aos postos para tomar a segunda dose no tempo correto e reforçou que é necessário completar o esquema vacinal com as duas doses para garantir a eficácia da imunização. A orientação da SMS é que quem está em situação de atraso deve retornar ao local de vacinação onde tomou a primeira aplicação, o quanto antes, para completar a proteção contra a covid-19.

Muitos motivos podem levar ao "atraso" da vacinação. Os profissionais mencionaram que entre os principais fatores estão a desinformação, a própria infecção pela covid-19 durante a primeira e segunda vacina, o que atrasa em trinta dias o prazo para receber o imunizante, bem como a falta de conhecimento sobre a campanha e até mesmo a timidez em função de ter perdido o prazo.

O Rio enfrentou entre abril e maio um período turbulento com a falta de disponibilidade da CoronaVac para a segunda dose, mas a oferta de imunizantes foi estabilizada após a chegada de remessas do IFA vindos da China para a fabricação da vacina produzida pelo Instituto Butantan e a prevalência da aplicação com a Oxford/AstraZeneca. Na sexta-feira (4), a Fiocruz entregou mais um lote com 134 mil doses destinadas a todos os municípios fluminenses.
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O Estado do Rio se mantém em bandeira laranja, ou seja, com risco moderado de contrair a doença. Entretanto, a capital apresenta risco alto. Quem estiver em situação de atraso com a segunda dose deve comparecer “o mais rápido possível” no posto em que foi vacinado pela primeira vez para completar a sua proteção. Para os grupos prioritários, a prefeitura do Rio está realizando repescagem todos os sábados e quem se encontrar nesta categoria também poderá ser imunizado antes da chegada de uma possível quarta onda da covid-19.

Especialistas recomendam que população 'atrasada' se vacine logo

Para que a pandemia de covid-19 seja controlada, a vacinação precisa ser feita em pelo menos 70% da população carioca e fluminense. Todo esse contingente precisa receber a primeira e segunda doses da vacina. A presidente da Sociedade de Infectologia do Rio de Janeiro, Tania Vergara, citou alguns motivos que levam ao "atraso", mencionando a desinformação como um fator que prejudica a vacinação.
"Muitas razões podem ser responsáveis por essa abstenção. Talvez alguns tenham tido covid-19 entre uma e outra dose e estejam completando o prazo de 30 dias pós-covid. Outros não têm conhecimento de que, se por alguma razão faltaram na data agendada, poderiam ir depois. Outro problema é a inundação de notícias falsas ou sensacionalistas largamente distribuídas, levando a evitar a vacina por medo de eventos adversos. Não existe nenhuma vacina com maior risco que a própria covid-19. Há os que querem esperar certa vacina porque mostrou-se superior, e essa pessoa se esquece que não há nenhuma que protege 100%, nem que não tenha risco de efeitos adversos", disse.

A pesquisadora em saúde pela UFRJ, Chrystina Barros, explicou que atrasar a segunda dose pode comprometer a eficácia máxima de todas as vacinas em que são recomendadas duas aplicações. Christyna alertou sobre os riscos de uma pessoa receber a primeira dose e ter uma falsa sensação de segurança, se expondo de maneira mais direta a riscos de contaminação, e reforçou que existe uma possibilidade real de infecção nestas circunstâncias.
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"O que acontece quando a pessoa atrasa sua vacina é que ela compromete a eficácia máxima da vacina, tanto para a CoronaVac quanto AstraZeneca. Com a segunda dose é que se chega ao melhor nível de proteção das formas graves e de óbito. Sempre lembrando que o imunizante não evita que a pessoa possa ter a doença, mas sem dúvida nenhuma a eficiência fica comprometida", finaliza.
*Estagiário sob supervisão de Thiago Antunes