Rio - O Ministério Público do Rio (MPRJ) apresentou denúncia à Justiça do Rio contra o homem apontado como autor do furto de uma bicicleta elétrica de um casal de namorados, no dia 12 de junho, no Leblon, Zona Sul do Rio. O episódio gerou grande repercussão, porque as vítimas do furto abordaram um jovem negro, instrutor de surfe, que estava com outra bicicleta elétrica, para averiguar se era ele quem tinha cometido o crime. A abordagem foi filmada por Matheus Ribeiro, o rapaz acusado injustamente, que chama a dupla de racista. Igor Martins Pinheiro, de 22 anos, que tem a pele branca, foi denunciado pelo MPRJ na quinta-feira, por meio da 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial da área Zona Sul e Barra da Tijuca do Núcleo Rio de Janeiro. Ele foi preso em seu apartamento em Botafogo, na Zona Sul, na noite de quarta-feira por policiais da 14ª DP (Leblon). O furto da bicicleta aconteceu na Avenida Afrânio de Melo Franco, no mesmo bairro. Igor foi identificado com base nas câmeras de segurança que flagraram o crime. Na casa dele, os policiais encontraram a bermuda que ele utilizava no momento do furto e a ferramenta usada para soltar o cadeado da bicicleta. \"O denunciado, no dia dos fatos, ao passar pela calçada movimentada onde a bicicleta estava estacionada em um bicicletário, logrou romper a corrente e o cadeado que travavam o veículo e, em seguida, evadiu-se do local. Policiais civis abordaram o denunciado e seu irmão, em via pública, no dia 16, deste mês, momento em que, durante revista pessoal, encontraram dentro da mochila do irmão de Igor um alicate de pressão de 18 polegadas, devidamente apreendido\", relata trecho da denúncia. A denúncia foi apresentada junto à 40ª Vara Criminal da Capital. Igor foi denunciado pelo artigo 155 do Código Penal (subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel), com pena inicial de reclusão de dois a oito anos, e multa, podendo ser agravada. Igor já tinha 28 anotações criminais, sendo 14 delas por furto de bicicleta. Matheus Ribeiro, de 22 anos foi acusado de furtar a bicicleta elétrica enquanto aguardava a namorada, em frente ao Shopping Leblon. Ele foi abordado por Mariana Spinelli e seu companheiro, Tomás Oliveira, que diziam a bicicleta não era dele. O rapaz que o acusava pegou o cadeado da bicicleta e tentou abrir, mas não conseguiu. Em um vídeo gravado por Matheus e publicado em suas redes sociais, ele diz que não o acusou do crime \"e só estava perguntando\". \"Isso não foi um desespero de quem foi furtado, isso é o desespero do racista quando vê a gente perto. Ela não tem ideia de quem levou sua bicicleta, mas a primeira coisa que vem a sua cabeça é que algum neguinho levou. E para você, que é pretin igual eu, seja cuidadoso ao andar em lugares assim. Eles vão te culpar, para depois verem o que aconteceu\", concluiu Matheus. Ladrão de bicicleta teve pedido de prisão preventiva negado por outro roubo em Ipanema No mesmo dia em que Igor Martins Pinheiro, de 22 anos, foi preso pelo furto da bicicleta elétrica em frente ao shopping Leblon, a juíza Simone de Araújo Rolim, da 29ª Vara Criminal do Rio, negou um pedido para prisão preventiva de Igor feito pelo MPRJ também pelo furto de uma bicicleta, dessa vez, no dia 4 de março deste ano, em Ipanema. Na decisão, a magistrada alega que o crime não foi praticado mediante violência ou grave ameaça. A juíza ainda argumenta que não é possível fazer uma identificação precisa do jovem nas imagens coletadas, já que elas têm baixa qualidade técnica e o \"suposto autor do fato aparece utilizando-se de máscara e óculos escuros\", Dessa forma, Rolim entendeu que o reconhecimento feito pelos policiais poderia ser enganoso. \"O reconhecimento em questão foi feito por policial civil que investiga crimes da mesma natureza praticados no bairro, através de imagens captadas pelas câmeras de segurança de prédios vizinhos ao local em que a bicicleta se encontrava estacionada, ocorre que as imagens possuem baixa qualidade técnica e o suposto autor do fato aparece utilizando-se de máscara e óculos escuros, o que dificulta a fidelidade de sua identificação\", decidiu a juíza, que afirmou ainda que “não há \"indícios suficientes de autoria\" suporte probatório mínimo\" para assegurar a conversão da prisão. Casal vai responder apenas por calúnia Mariana Spinelli e Tomás Oliveira irão responder por calúnia por terem sugerido que o professor de surfe Matheus Ribeiro teria roubado uma bicicleta elétrica. O casal foi ouvido pela delegada Natacha Alves de Oliveira, da 14ª DP (Leblon), na quarta-feira. O advogado criminalista Bruno Cândido, que irá acompanhar o processo de Matheus Ribeiro, disse que irá buscar a tipificação de racismo no caso do instrutor de surfe. O objetivo, segundo Cândido, é encaminhar a ocorrência para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). \"Queremos que o caso seja investigado pela especializada exatamente pela incapacidade da delegacia local conceber que aquele foi um crime racial. Segundo, queremos sustentar a legislação que obriga que a entidade policial registre a ocorrência como racismo quando a vítima afirmar que é racismo, de acordo com a lei 2235/1994\", explicou. Casal de brancos acusou jovem negro de furtar bicicletaReprodução Após a polêmica por acusação de racismo, a empresa Papel Craft demitiu Tomás Oliveira de seu quadro de funcionários. A informação foi publicada nos comentários do Instagram da loja após diversos internautas pedirem um posicionamento oficial sobre o ocorrido. O estúdio de dança onde Mariana Ribeiro Spinelli trabalhava também emitiu um comunicando informando que a jovem foi demitida.