Novo lote foi entregue na noite desta terça-feira, 27, e será distribuído entre os estados Divulgação / Celso Ávila

Rio - Diante da circulação das variantes do coronavírus, as análises em torno da aplicação de uma dose de reforço das vacinas contra a covid-19 ganham força entre especialistas, órgãos de governo e empresas farmacêuticas. Porém, o Ministério da Saúde informou, nesta terça-feira, que, até o momento, não há evidência científica que confirme a necessidade de doses adicionais das vacinas contra a covid-19.

Nesta segunda-feira, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, abordou o tema em resposta a uma postagem do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, numa rede social. Paes escreveu: "Tá na hora de avançar também na decisão de, em setembro, aplicar a terceira dose nos idosos". O comentário fazia referência à mensagem de Queiroga, anunciando que as grávidas vacinadas com a AstraZeneca poderiam receber a segunda dose da Pfizer ou de CoronaVac.

Segundo a Secretaria municipal de Saúde do Rio (SMS), a possibilidade de inclusão de uma dose de reforço para idosos tem sido tema constante de discussões na pasta e no comitê científico de enfrentamento à covid-19 que assessora a prefeitura.

"Uma eventual terceira dose só será aplicada diante de recomendação científica, liberação da Anvisa e após toda a população carioca estar imunizada. Mais informações serão divulgadas oportunamente", diz a nota da SMS.

Já a Anvisa informou que autorizou a realização de três estudos clínicos, solicitados formalmente pelas empresas AstraZeneca e Pfizer/BioNTech, com o objetivo de testar as doses de reforço.

Segundo o infectologista e pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, até o momento não há nenhum dado em todo o mundo que demonstre a necessidade de revacinação ou aplicação de terceira dose. Ele explica que alguns estudos estão sendo feitos para saber se os níveis de anticorpos aumentam após a aplicação de uma dose de reforço da vacina.

"O que está acontecendo são estudos para avaliar se as vacinas induzem ou não memória imunológica. Esses estudos avaliam se a aplicação de uma dose de reforço após o esquema primário de vacinação aumenta os níveis de anticorpos, confirmando o efeito memória que essas vacinas trazem. Esses estudos são clássicos em vacinação. Mas não há, até o momento, nenhuma indicação de revacinação ou de aplicação de terceira dose. Não há nenhum dado ainda, no mundo, de duração de proteção ou de falha vacinal", explica Kfouri.

De acordo com ele, ainda não se sabe o período de proteção de cada vacina contra a covid-19 em relação a diferentes grupos populacionais:

"Qualquer anúncio de revacinação hoje é pura especulação sem nenhuma evidência científica".

Estudo das empresas

O estudo da Pfizer/BioNTech, autorizado pela Anvisa, investiga os efeitos, a segurança e o benefício de uma dose de reforço da sua vacina em pessoas que receberam as duas doses do imunizante há pelo menos seis meses.

Segundo a Pfizer/BioNTech, os dados do estudo inicial demonstram que uma dose de reforço administrada seis meses após a segunda dose gera altos índices de anticorpos neutralizantes contra o vírus do tipo selvagem e a variante Beta.

"Esses índices chegam a ser cinco a 10 vezes maiores do que aqueles encontrados após as duas doses primárias do esquema vacinal", diz a nota da Pfizer/BioNTech.

Já em relação à variante Delta, as empresas Pfizer e BioNTech afirmam que dados de um artigo recente da Nature demonstram que os soros dos pacientes imunizados, obtidos logo após a segunda dose da vacina Pfizer/BioNTech, têm fortes índices de neutralização contra a variante Delta. As empresas afirmam que preveem que uma terceira dose aumentará ainda mais os índices de anticorpos.

Já o estudo da AstraZeneca busca avaliar a segurança, a eficácia e a imunogenicidade de uma terceira dose da versão original da sua vacina. O público que está sendo testado é o grupo que fez parte dos estudos iniciais para aprovação do imunizante no Brasil, e que tomaram as duas doses da vacina com um intervalo de quatro semanas.

Outro estudo da AstraZeneca autorizado pela Anvisa se refere a uma segunda versão da vacina que está em uso no país, buscando a imunização contra a variante B.1.351, que apareceu originalmente na África do Sul.
A Janssen informou que, até o momento, não há dados que indiquem a necessidade de reforço da vacina com novas doses. A vacina da Janssen é de dose única. Segundo a empresa, estudos recentes apontaram que as respostas imunes se mostraram fortes e estáveis durante oito meses após a imunização: o período de tempo que pôde ser avaliado até o momento.
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Procurado também, o Instituto Butantan disse que estão em andamento estudos sobre a necessidade de um reforço anual da CoronaVac. Além deste, há outro em andamento que busca fazer com que a ButanVac, ainda em desenvolvimento, seja uma vacina 2.0, capaz de imunizar contra a covid-19 e a gripe ao mesmo tempo.