Nos últimos dias, praias do Rio ficaram lotadas e tiveram aglomeraçãoCléber Mendes/Agência O Dia

Rio - Uma nota técnica do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicada nesta terça-feira (31) apontou uma tendência de crescimento dos casos de covid-19 no município do Rio, enquanto as análises mais recentes aplicadas no Brasil mostram recuo no número absoluto de casos e óbitos no país.

Ao considerar o período entre a Semana Epidemiológica 10 de 2020, quando houve a notificação do primeiro caso na cidade do Rio, e a 33 de 2021, que se encerrou em 21 de agosto de 2021, a nota aponta uma interrupção de queda do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e sugere uma possível retomada do crescimento nas últimas semanas.

"O município do Rio de Janeiro apresenta reversão da tendência de queda de casos, e o estado do Rio de Janeiro, por sua vez, apresenta oito municípios com taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 em 100%, reacendendo um sinal de alerta para a atual situação da pandemia na cidade", destacam os pesquisadores do Observatório. "É oportuno, então, verificar a série histórica, na tentativa de compreender a nova dinâmica que se anuncia, para que possamos prever cenários e adotar medidas adequadas e oportunas para impedir o crescimento sustentado de casos e, consequentemente, de mortes".

O documento ressalta que nesta fase, a pandemia reúne características semelhantes ao início do período, quando havia intensa circulação do vírus e baixa adesão às medidas de distanciamento físico, com taxas de ocupação de leitos próximas a 100% em todos os estados brasileiros.
Segundo o estudo, a explosão do número de casos da doença pode ser resultado de um atraso da notificação de casos maior que a de óbitos, em cenário que revela problemas do fluxo de investigação, notificação e desfecho dos casos, comprometendo a qualidade da vigilância.
Os pesquisadores alertam que a fase atual é de declínio dos óbitos e crescimento dos casos. A pesquisa também indica que há uma correlação entre o número de casos e óbitos, e este padrão possivelmente tem relação com a progressão da cobertura vacinal. Com a proteção da vacina, o aumento do número de casos não determina necessariamente aumento proporcional de óbitos.

"Há ainda intensa circulação do vírus, e alta transmissão comunitária. É possível dizer que, na impossibilidade de conter novamente este crescimento de casos, e preparo adequado da rede de serviços de saúde, o horizonte a respeito de novo crescimento das mortes é previsível", afirma a nota.

Recomendações

A nota técnica descreve a atual pandemia como o maior desafio sanitário do século, até o momento. Para os pesquisadores, ainda é cedo para garantir que a queda observada pelo Brasil para casos e óbitos seja sustentada, e a situação do município do Rio é um alerta para o Brasil como um todo, devido ao fato de que a pandemia ainda está longe de ser considerada controlada, e para que medidas sejam tomadas para que outros locais não vivam a mesma reversão da tendência.

"O contexto atual ainda é preocupante. Apesar de estarmos vivendo uma queda de óbitos, o indicativo de reversão da tendência para casos, com novo aumento, é cada vez mais claro. Temos condições mais favoráveis ao diagnóstico adequado, como um aumento nas testagens. Infelizmente, este não parece ser o único fator a explicar o novo cenário".

O estudo mostra que o perfil heterogêneo da população, as condições demográficas, econômicas e sociais, igualmente distintas, são fatores que dificultam o enfrentamento à pandemia. A baixa cobertura vacinal e a baixa adesão ao distanciamento físico, favorecendo a rápida disseminação da doença, e a circulação da variante Delta, contribuem para deixar a capital em um contexto desfavorável.

"A cidade do Rio de Janeiro possui uma dinâmica econômica e social de alta conectividade com outros centros urbanos, além de ter uma das maiores concentrações de aglomerados subnormais do país, o que favorece a disseminação da doença no território", afirmam os pesquisadores.

Com base nos resultados, a nota considera adequada a medida de adiamento, por tempo indeterminado, do início do plano de retomada gradual das atividades. Além disso, os pesquisadores reforçam que as medidas precisam ser adotadas não apenas pela cidade do Rio de Janeiro, mas por toda a região metropolitana.

A Fiocruz afirma que a uniformidade das medidas não-farmacológicas, especialmente as relativas à restrição de circulação, e dos calendários de vacinação, devem ser pensadas na lógica das redes de atenção em saúde, e não de limites políticos administrativos, sobretudo, os municipais. Para a Fundação, a gestão da pandemia deve ser realizada de forma regionalizada e pactuada.

"O aumento dos casos é o indicador mais sensível, muitas vezes o prenúncio do aumento de outros indicadores, como hospitalizações, taxa de ocupação de leitos e óbitos. Qualquer decisão de redução de restrições sobre a circulação de pessoas deve ser tomada a partir de uma tendência de queda de indicadores de forma sustentada no tempo. O momento é, portanto, de alerta", concluem.