Circulação do ramal Japeri e da extensão Paracambi são suspensas nesta terça-feiraCleber Mendes

Rio - Depois de o número de furtos de cabos de energia no primeiro semestre ter superado as ocorrências de todo o ano passado, a SuperVia informou que está iniciando um convênio com a Polícia Militar por meio do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis). Nele, policiais militares serão contratados para reforçar o patrulhamento no sistema ferroviário em seus dias de folga. Além disso, a concessionária disse que está ampliando ações de inteligência e trocou a empresa que fornece os agentes de controle. Eles fazem rondas em todo o sistema, mas não têm poder de polícia para atuar.

Nesta terça-feira, a circulação no ramal de Japeri e da extensão Paracambi foi interrompida às 16h para reparos. Segundo a concessionária, foram mais de 200 metros de cabos de sinalização furtados nas regiões de Nova Iguaçu e Queimados. Foram registrados, ainda, atos de vandalismo contra equipamentos que auxiliam no sistema de sinalização em Edson Passos.

No dia anterior, houve interrupções e atrasos, também no ramal de Japeri, devido a furtos de cabos. O intervalo entre os trens chegou a uma hora, o que gerou aglomerações em estações e no interior das composições. O problema foi sanado depois de sete horas. Foram furtados seis relés: peças que garantem fechamento e abertura automática de sinais para os trens de todo o ramal.

Às 16h desta terça-feira, a SuperVia decidiu interromper a circulação durante os reparos, para evitar concentração de pessoas no sistema.

"A suspensão temporária do ramal será mais uma vez necessária já que, com esses danos, os trens precisariam ser licenciados via rádio (ou seja, de forma manual, não automática) por um grande trecho de onze estações, entre Anchieta e Engenheiro Pedreira, já próximo a Japeri. Com a necessidade de licenciamento dos trens por contato via rádio – entre o Centro de Controle da SuperVia e os maquinistas -, os intervalos teriam que ser aumentados para 30 minutos, o que inviabilizaria a operação e causaria uma lotação de estações e trens além da taxa máxima permitida pela legislação em vigor", diz a SuperVia em nota.
Segundo a SuperVia, os furtos no primeiro semestre deste ano, além de prejudicar a prestação de serviço para os passageiros, geraram prejuízos de R$1 milhão para a concessionária: foram 14 mil metros de cabos furtados em 364 ocorrências de furtos. No ano passado inteiro, foram 355 ocorrências.
"E nos preocupa muito o fato de os furtos serem praticados numa velocidade muito maior do que a capacidade da SuperVia em fazer a reposição dos materiais, problema que já vem ocorrendo desde o início deste ano. Como se tratam de áreas de forte e crônicos problemas de insegurança pública, algumas dominadas pelo poder paralelo, o trabalho de reparação e troca de cabos normalmente precisa ser feito apenas durante o dia", explica Marcelo Feitoza, diretor de operação da SuperVia.
De acordo com ele, o ramal de Japeri é o mais afetado pelos furtos: 
"Neste primeiro semestre o ramal Japeri foi o mais afetado, e as estações com mais ocorrências foram Japeri, Engenheiro Pedreira, Queimados, Comendador Soares e Bangu. Destas, quatro ficam no ramal Japeri".
Equipes de manutenção são assaltadas 
Além dos furtos dos equipamentos do sistema ferroviário, que costumam ocorrer nos períodos de noite e madrugada, equipes de manutenção da SuperVia tem sofrido ataques em plena luz do dia enquanto realizam realizam reparos para normalizar a circulação de trens. Segundo a concessionária, somente na semana passada foram registrados três casos. 
"Esses crimes vêm acontecendo em áreas de fortes e crônicos problemas de insegurança pública, algumas regiões sob o domínio de facções criminosas. Por isso, o trabalho de reparação e troca de cabos normalmente só pode ser executado durante o dia e, mesmo assim, há riscos. Na terça-feira (24/08), por exemplo, duas equipes de técnicos de sinalização se deslocavam para fazer reparos do sistema, no ramal Japeri, e tiveram seus carros roubados, além de objetos pessoais e uma escada de manutenção. Esses roubos às nossas equipes se repetiram na quinta (26/08) e sexta-feira (27/08) também", acrescenta Feitoza. 
Segundo a Secretaria de Estado Polícia Civil (Sepol), há uma investigação em curso para apurar a ação de criminosos no sistema ferroviário. Na última operação, informa a Sepol, foram presos donos de ferro-velho, empresários de recicladoras e das indústrias que adquiriam material reciclado da organização, além de ter sido coletados documentos e equipamentos eletrônicos com dados para futuras operações da investigação em andamento. 
Já a Polícia Militar informou que, entre os meses de janeiro e julho de 2021, foram detidas 54 pessoas em situações de furto ou dano à concessionária. Segundo a PM, o patrulhamento é feito pelo Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer), que atua em mais de 270 quilômetros de malha ferroviária fluminense. A área compreende mais de 100 estações de passageiros distribuídas em doze municípios do Estado do Rio. A PM acrescenta que, ao longo dessa extensão, os batalhões de área patrulham o perímetro externo, assim como o entorno das estações.