Polícia Civil faz operação contra grupo de agiotagem. Ao todo, 65 mandados de prisão e 63 de busca e apreensão foram cumpridosReginaldo Pimenta / Agencia O Dia

Rio - "Estou vivendo um verdadeiro terror psicológico. Inclusive, precisei me mudar para outra cidade para ter um pouco de paz, já que em razão da cobrança dessa dívida eu não tinha mais sossego". Esse foi o relato de uma mulher que precisou pegar R$ 300 emprestado com agiotas e 10 anos depois, já com a dívida quitada, voltou a ser cobrada. Em dezembro do ano passado uma ligação comunicou que agora ela teria que pagar mais de R$ 5 mil aos criminosos.
Ela foi uma das mais de duas mil vítimas que um grupo de agiotas fez nos últimos 11 meses. A quadrilha foi alvo da Operação Ábaco, deflagrada pela 76ª DP (Niterói), na manhã desta quinta-feira. Segundo a polícia, neste período a organização criminosa movimentou mais de R$ 70 milhões.

Entre os presos está Bruno da Silva Pinheiro Mendes, o Verano. Ele é apontado como um dos líderes da organização criminosa e foi capturado em Juazeiro, no Estado do Ceará.

Segundo a mulher, Verano foi o responsável por ameaçar ela e a sua família. Em depoimento, ela conta que ele teve acesso a seus dados pessoais, localizou seus familiares e passou a ameaça-los para conseguir ter o dinheiro.

"Em dezembro de 2020 um homem ligou para minha ex-sogra, se identificou como Verano e estaria cobrando uma dívida da declarante no valor de R$ 5.180,00 que teria sido contraída em outubro de 2017, em um escritório em Cabo Frio. Ele então ameaçou ela, começou a xingar muito e disso que pegaria o CPF dela também e que ainda viria me cobrar a dívida pessoalmente. Ele também disse que teria dados de vários outros parentes meus. Temi um mal maior a eles, fiquei apavorada, com muito medo", narrou aos agentes.

A vítima explicou que por necessidades financeiras acabou procurando um escritório de agiotagem e pegou um empréstimo de R$ 300. Essa dívida teria sido quitada, entretanto, mesmo assim, os criminosos mantiveram um cadastro com o nome dela e resolveram voltar a cobra-la, como se a dívida fosse recontada a partir de 2017. Sob ameaças, ela acabou cedendo e acordando um novo pagamento.

"Aceitei pagar R$ 500,00 num primeiro pagamento e fiz um depósito em uma conta da Caixa Econômica, indicada pelo Verano, no dia 30 de dezembro. Combinamos depois de parcelar a dívida em prestações de R$ 300 mensais, que seriam pagas todo dia 30", contou em depoimento.

O dono da conta bancária que recebeu os depósitos é Ricardo Alexandre Inácio. De acordo com as investigações, ele seria o laranja de Verano. Ele também foi preso nesta quinta-feira, em Santa Catarina.

Perfil violento

Segundo investigadores, os agiotas eram extremamente violentos ao cobrarem as dívidas. "Eles chegavam armados para fazer as cobranças e agrediam as pessoas, os familiares. Teve até um caso que eles chegaram a atirar contra o estabelecimento de uma das vítimas, em São Gonçalo", contou um agente.

A polícia apurou ainda que os criminosos mantinham o banco de dados dos seus devedores cadastrados por mais de 10 anos, para que dessa maneira, sempre cobrassem as vítimas, mesmo depois que elas quitassem o empréstimo.

"O cadastro é eterno, ficam em listas. E por esses dados, eles vão sempre atualizando as informações pessoais das vítimas e também pesquisam dados pessoais dos familiares delas. Com isso, eles faziam as cobranças aos parentes e os ameaçavam também. Dizem que a pessoa não pagou a dívida na íntegra, multiplicam o juros e com medo as pessoas acabam pagando, mesmo sem novos empréstimos", disse o investigador.