Rio - A Anvisa decretou, nesta quarta-feira, o recolhimento das doses de CoronaVac interditadas no último dia 4 de setembro por falhas no processo de fabricação. O comunicado engloba também os 1.206 imunizantes aplicados pela rede municipal do Rio, no mesmo dia da interdição, destinadas aos cariocas com segunda dose atrasada. À época, o Butantan comentou que não havia risco no uso do imunizante, mas especialistas ouvidos pelo DIA explicam quais as preocupações envolvem o processo de envase.
"Produtos, ainda mais injetáveis, que é o caso das vacinas, que você não tem segurança quanto a área de envase. Não tem o certificado de boas práticas de fabricação. Impõe sim ao produto um risco. Impõe a quem vai tomar esse tipo de produto um risco desnecessário. O importante é que você utilize um produto injetável com segurança quanto ao processo de fabricação. Não é algo irrelevante", explica o doutor e professor em doenças infecciosas da UFRJ Edmilson Migowisk.
Segundo o infectologista, a fase de envase é importante porque nela o material utilizado na produção dos imunizantes pode sofrer contaminações e trazer riscos para quem utilize o medicamento. "A preocupação de contaminação com bactérias, fungos e etc. Assim como também o risco de contaminação com outras impurezas, como as partículas que ficam em suspensão no ar. Tudo isso é controlado em uma área de injetáveis. Nesses locais você costuma ter o controle de partículas, filtros e compressão positiva. Nessas salas, você tem uma série de cuidados para evitar riscos", explica o especialista.
O médico ainda compara os riscos diferentes do uso de medicamentos contaminados tópicos e orais, em relação às vacinas. "Qualquer coisa contaminada sendo aplicada por via intramuscular e subcutânea acaba tendo maior gravidade que uma coisa tópica ou via oral", pontua.
A médica psiquiatra e geriatra Roberta França fala sobre a necessidade de acompanhamento dos cariocas que receberam o imunizante que faz parte do lote com problemas. Segundo ela, as doses podem ter uma capacidade diferente de neutralização do vírus, uma vez que não foram fabricadas respeitando um processo considerado seguro.
"Isso é um problema e, apesar de até agora as notas terem sido emitidas no sentido de que a vacina é segura. É preciso saber se de fato essas doses estão compatíveis com a capacidade neutralizadora que as vacinas precisão ter. Fica um questionamento sobre a importância desses pacientes serem reavaliados para uma possível necessidade de revacinação", questionou a especialista.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) foi questionada sobre a necessidade da revacinação dos cariocas que receberam as doses parte do lote bloqueado pela Anvisa. Em nota, a pasta explicou que aguarda posicionamento do Ministério da Saúde e da Anvisa sobre a aplicação de uma nova dose nessas 1.206 pessoas que receberam vacinas do lote 202108113H usado pela cidade.
A Prefeitura do Rio foi questionada sobre as unidades de saúde que aplicaram as doses, mas não respondeu até o fechamento desta matéria. Pelo cronograma de vacinação, a maior parte delas pode ter sido aplicada em pessoas entre 28 e 31 anos, que estavam programadas para receber a segunda dose da CoronaVac entre os dias 1 e 3 de setembro.
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