João Vitor Santiago tinha 17 anos Reprodução

Rio - Apontado como principal testemunha no caso da morte de João Vitor de Oliveira Santiago, de 17 anos, atingido com tiros nas costas enquanto voltava de uma pescaria no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no mês passado, o amigo que estava na moto diz ter certeza que os tiros partiram de policiais que estavam escondidos em uma área de mata. O rapaz, que teve o nome preservado, ficou internado por alguns dias, mas recebeu alta e está com a família. Em entrevista à TV Globo, ele detalhou os momentos do ataque. 
No dia, João Vitor chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), no bairro Colubânde. Os amigos estavam na região conhecida como Itaoca, dentro da comunidade, e foram abordados por dois policiais que estavam no caminho. Os dois foram baleados por tiros de fuzil. 
O rapaz revelou que não havia confronto no momento em que João Vitor e ele foram baleados. Ele afirmou que dois policiais militares, usando fardas camufladas, ficaram desesperados ao perceberem que o jovem estava em estado grave. 
"Não tinha nenhuma operação, não tinha tiros, não tinha caveirão, não tinha helicóptero, não havia nada que alarmasse uma situação de risco pra gente. A gente estava com uma sacola de refrigerante, uma bolsinha de pesca, linha e a gente tava devagar na estrada, conversando e rindo", diz o rapaz, que segue dando detalhes. 
"E, numa das estradas a gente voltava pra casa, onde havia mato de um lado e do outro, dois policiais que estavam de roupas camufladas e eles gritaram para que a gente pudesse parar. Eu tirei a mão do acelerador, levantei a mão e ao mesmo tampo fui freando, mas antes que a gente pudesse parar, eles.. pessoas atrás atiraram na gente".
A testemunha revela que após os dois serem atingidos os disparos cessaram. Segundo ele, os disparos vieram pelas costas, não dos policiais que pediram para eles pararem na estrada. "Eu sei que foi a polícia e sei que eles fizeram injustiça. O grande fator é que não havia confronto'. 
A testemunha ainda afirma que alguns policiais ficaram nervosos ao perceberem que os dois rapazes haviam sido atingidos. Ele confirma que todos que saíram do mato entraram no veículo blindado da polícia. 
Uma segunda testemunha, que socorreu João Vitor, confirmou a mesma versão do amigo da vítima. "Eles passaram de moto, mais uns 300 metros na frente eu escutei os tiros e eles caíram. Aí eu olhei e 'saiu' dois policiais de dentro do mato e foram até eles". Ele ainda afirma que viu quando policiais catando as cápsulas que estavam pelo chão. 
Coação
João Vitor e o amigo foram socorridos para o Heat. No hospital, testemunhas disseram que os policiais estavam preocupados com os depoimentos. Duas testemunhas ainda estranharam a abordagem dos PMs que insistiam que elas não poderiam sair do local sem conversar com eles. 
O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. A polícia ainda não concluiu o inquérito e não revelou de onde partiram os disparos que mataram João Vitor e deixaram o amigo ferido. 
O que dizem a PM e a Polícia Civil
Em nota, a Polícia Civil disse que as investigações continuam na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSG). "A principal linha de investigação indica que os tiros partiram de traficantes. As armas dos policiais militares que participaram da ação foram apreendidas para perícia. Os agentes coletaram depoimentos, que foram colocados em sigilo para que testemunhas não sejam ameaçadas".
A Polícia Militar voltou a dizer que equipes do 7º BPM (São Gonçalo) foram atacadas por criminosos armados armados. Na ocasião, duas pessoas acabaram baleadas e foram socorridas. As armas dos policiais foram apreendidas e encaminhadas para perícia.