Rio lança projeto para distribuir absorventes nas escolas municipaisDivulgação
Prefeitura do Rio espera ajudar 100 mil alunas com projeto de distribuição de absorventes nas escolas municipais
Objetivo do 'Livres para Estudar' é reduzir a evasão escolar das alunas por causa da falta do item de higiene pessoal
Rio - O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, lançaram, na manhã desta quarta-feira, o "Livres para Estudar", um programa de combate à pobreza menstrual e à evasão escolar de meninas nas escolas da rede municipal de ensino por falta de absorventes. A expectativa é que a iniciativa impacte cerca de 100 mil estudantes da rede municipal e que sejam distribuídos, gratuitamente, oito milhões de absorventes íntimos por ano para as adolescentes, meninos trans e pessoas não-binárias.
A distribuição vai começar a partir da próxima segunda-feira (18), quando terá início a nova fase do ensino presencial, em que 100% dos alunos poderão ir todos os dias para a escola.
O programa faz parte de uma política pública para diminuir o índice de evasão entre as alunas do Ensino Fundamental II, em média entre 11 e 14 anos. Segundo Ferreirinha, uma em cada quatro meninas, cerca de 43 mil alunas, já deixou de frequentar a escola por falta do item de higiene pessoal.
"Não pode ser normal que uma menina deixe de ir à escola simplesmente por não conseguir comprar um absorvente. O que estamos fazendo aqui é dar o mínimo, dar dignidade para nossas alunas estudarem decentemente e não largarem a escola. Aqui no Rio elas serão livres para estudar", disse Ferreirinha.
A secretária de Política e Proteção da Mulher, Joyce Trindade, afirmou que o acolhimento, a formação e a mobilização são pilares estratégicos desse programa, que também vai ajudar no desenvolvimento feminino para que as meninas cheguem ao Ensino Médio mais empoderadas.
"Essa parceria vai nos ajudar a não pensar apenas na questão da pobreza menstrual, mas também no autoconhecimento das adolescentes, desde o ensino básico. Vamos fazer rodas de conversa com os adolescentes e ações educacionais junto a professores e diretores para garantir às meninas, meninos trans e pessoas não-binárias o acesso a esse direito básico, que é o absorvente íntimo".
Eduardo Paes disse que uma parte da compra de absorventes realizada pela administração municipal já está em depósitos e deve ser distribuída para as escolas. Segundo o prefeito, jovens lideranças devem estimular o diálogo sobre a pobreza menstrual.
"A escola é o espaço em que atingimos as pessoas que mais precisam. Temos que superar esses tabus, menstruação é algo normal, acontece com todas as mulheres. Defendemos a dignidade de gênero, temos que preservar e proteger as nossas meninas, esse é o objetivo da prefeitura. Vamos distribuir absorventes para todas as nossas meninas do segundo segmento da rede pública municipal, que é a maior da América Latina. Que alegria poder colocar o Rio mais uma vez na vanguarda", declarou.
O prefeito também se manifestou sobre a polêmica decisão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de vetar a distribuição gratuita de absorventes e de outros cuidados básicos de saúde menstrual pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a estudantes de baixa renda de escolas públicas e mulheres em situação de rua ou de vulnerabilidade extrema.
"Quando eu vi o veto na semana passada, e eu não estou falando de política, de eleição, de partido A ou de partido B, ou de partido C. Mas a gente, como figuras públicas do Brasil, precisa se manifestar de forma mais enfática. E a gente faz isso. Quando está na oposição, nos compete gritar, já fui tantas vezes oposição. Mas, quando a gente é governo, a melhor resposta que a gente dá, é poder implementar uma política pública que é absolutamente viável", afirmou Paes ao portal G1.
O evento também contou com a presença da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que é uma das mais críticas à condução do governo federal na política para mulheres. As autoridades entregaram, simbolicamente, os primeiros pacotes de absorventes para representantes da direção da Escola Municipal Vicente Licinio Cardoso.
O "Livres para Estudar" conta com a parceria do Tribunal de Justiça, da Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e dos grupos Girl Up e Elas na Escola.
Universidade também está engajada na distribuição de absorventes
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) anunciou que também vai distribuir gratuitamente absorventes para as estudantes. Os kits de higiene serão entregues por meio da Pró-reitoria de Assistência e Políticas Estudantis, com a ajuda das unidades acadêmicas. Alunas da educação básica, da graduação e pós-graduação poderão receber.
"A Uerj vem desenvolvendo ações específicas para a solução de problemas que contribuam para o bem estar da coletividade e para o desenvolvimento econômico social", afirmou o reitor da universidade, Ricardo Lodi.
E as escolas estaduais?
Em setembro, o governador Cláudio Castro (PL) sancionou a Lei 9.404/21, que autoriza o Poder Executivo a distribuir gratuitamente absorventes nas escolas estaduais. Até o dia 20 de outubro, o Governo do Rio pretende transferir os recursos para viabilizar a compra dos itens.
De acordo com o texto, a distribuição dos absorventes será realizada na secretaria ou coordenadoria das escolas e, preferencialmente, por um funcionária mulher. A direção da unidade escolar deverá colocar cartazes informando da disponibilidade dos kits higiênicos femininos em suas secretarias.
Veto e ameaças de Jair Bolsonaro
Neste domingo, em entrevista à imprensa no Guarujá (SP), onde passou o feriado prolongado, o presidente da República disse que se o veto for derrubado pelo Congresso, os recursos terão que sair das áreas da Saúde ou da Educação.
"Faltam meios até para o ‘auxílio-modess’, né? Se eu pudesse, eu assinaria, sancionaria. Não posso fazer demagogia no tocante a isso. Lamento quem tem dificuldade para comprar isso. Se o Congresso derrubar o veto, a gente vai tirar da saúde ou da educação. De um dos dois vai tirar e vai ser bem mais de R$ 100 milhões", declarou Bolsonaro.
"Espero que não falem que estou tirando da Saúde ou da Educação. Eu estou tirando para o 'auxílio-modess' ali, vamos assim dizer. Até porque, realmente, entendo a situação de dificuldade de muitas crianças e mulheres que vivem na linha da pobreza", continuou.
Como justificativa para o veto, Bolsonaro alegou que o texto do projeto não estabeleceu as fontes que o financiariam. O veto foi publicado na edição desta quinta-feira (7) do Diário Oficial da União.
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