Paes chama Light de ‘vagabunda’ após empresa suspender energia de unidades da prefeituraReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - O prefeito Eduardo Paes chamou a Light de "vagabunda" após a empresa suspender, nesta quinta-feira, o fornecimento de energia elétrica de 66 unidades administrativas da Prefeitura do Rio. O corte aconteceu por conta da inadimplência da administração municipal, que tem uma dívida com a concessionária de R$ 261 milhões, sendo R$ 68 milhões somente este ano.
"A Light é uma empresa vagabunda. Passaram anos aliviando a barra do governo anterior. Agora querem receber na base do lobby e da chantagem. Eles terão as mesmas condições de recebimento de todos os fornecedores que têm crédito conosco! Não adianta nem forçar! Não passarão", escreveu Paes em sua conta oficial do Twitter.
De acordo com a companhia, a suspensão ocorreu apenas em instalações cadastradas na empresa como serviços não essenciais. As unidades de saúde municipais não foram afetadas. A Light ressaltou que realizou diversas tentativas de acordo com a prefeitura para regularizar os débitos e disse que a notificou previamente com aviso de corte, conforme a legislação.
Durante a apresentação do 41° boletim epidemiológico da covid-19, nesta sexta-feira, o prefeito voltou a se pronunciar sobre o assunto e disse que os débitos serão parcelados.
"Que há uma dívida da prefeitura com a Light, ninguém duvida. Já na fase de transição do nosso governo, falamos do montante de algo em torno de R$ 6 bilhões de restos a pagar, serviços não pagos pelo governo anterior. O que acontece no Brasil? Os amigos do rei, aqueles que acessam as autoridades, acabam sempre sendo os primeiros a receber. E nós, aqui, resolvemos estabelecer uma regra republicana para pagamento das nossas dívidas. Reconhecemos as dívidas, não negamos as dívidas, não somos irresponsáveis e pagaremos todos, mas resolvemos estabelecer uma regra aprovada em lei municipal em primeira discussão na Câmara. Iremos parcelar essas dívidas e provavelmente faremos aquilo que se chama de leilão reverso: quem oferecer maior desconto, será pago primeiro", disse o prefeito.
Eduardo Paes ainda criticou a forma como a Light conduziu a situação e afirmou que a empresa "comprou uma briga desnecessária com a prefeitura".
"As empresas maiores, poderosas, como a Light, acham que mandam um WhatsApp para o prefeito, para o secretário, e que vão resolver o problema na frente dos outros. Mas aqui tratamos o pequeno fornecedor como tratamos o grande. A regra tem que ser para todos. Ou só porque o sujeito é presidente da Light acha que vai ter privilégios? Eles não podem achar que por isso vão ter privilégios", afirmou Paes, que acrescentou:

"Além de não aceitar lobby, não aceito chantagem. A maneira como a Light procedeu é quase como uma estratégia de guerra. Eles escolhem alvos certeiros para dar um aviso ao município: uma escola aqui, um centro olímpico ali, o Parque Madureira acolá. Mas aqui ela não vai funcionar. Acho que a Light comprou uma briga desnecessária com a prefeitura".
Por fim, Paes disse que a Light não terá privilégios na prefeitura e rechaçou qualquer tipo de chantagem. "Também posso escolher alvos estratégicos. Uma empresa que não cumpre com as regras de tempo de pagamento, não poda as árvores da cidade em áreas de fiação, não respeita as regras de desligamento. O recado para a Light é muito claro. Eles têm um contrato de concessão e não vão ter privilégios na prefeitura. Nenhum fornecedor da Prefeitura do Rio receberá diferente de qualquer outro, não vão achar que vão dar uma de malandro conosco. Isso é chantagem, vagabundagem, desrespeito. Arrumaram uma confusão grande".
Antes da declaração do prefeito no Twitter, a Secretaria de Fazenda e Planejamento havia informado que "as contas da Light de 2021 estão em dia, salvo algumas da Saúde, em fase final de liquidação".

“É bom lembrar que os valores ainda em aberto estão previstos no orçamento, e a empresa sabe disso. Portanto, a iniciativa da Light não trata de débitos de 2021, e sim dos passivos acumulados pela gestão anterior, que não são pequenos. Para estes, após uma longa e minuciosa auditoria — já em fase final —, será feito um parcelamento anual, seguindo rigorosamente critérios determinados em lei municipal, de forma isonômica, institucional e transparente, para todos os credores, sem exceções e sem furar fila", disse a pasta em nota.
Procurada pela reportagem de O DIA, a Light afirmou que não vai comentar as declarações de Paes. No entanto, a empresa disse que foi procurada na manhã desta sexta-feira pela Secretaria Municipal de Esportes para retomar o processo de negociação de sua dívida. 
"A Secretaria de Esportes informou que já realizou nota de empenho para pagamento e a companhia está enviando equipes aos locais para efetuar as religações, entre elas as da Arena Carioca e da Nave do Conhecimento da Penha".

A Light ainda reforçou que desde fevereiro vem realizando diversas reuniões com a Prefeitura do Rio. "A empresa apresentou uma proposta de negociação da dívida no dia 28 de maio. Todas as unidades da prefeitura que têm débitos com a companhia receberam aviso de corte em suas faturas. Adicionalmente, foi feito um reaviso de corte via carta protocolada na Prefeitura no dia 15 de setembro de 2021".