Arlete Foureaux, de 71 anos, não é a favor da flexibilização do uso da máscara no RioMarcos Porto

Rio - A proximidade da flexibilização do uso de máscaras na cidade do Rio tem provocado polêmica entre os moradores. Nesta quinta-feira, o prefeito Eduardo Paes disse que o plano de liberar o item de proteção até novembro está mantido. No entanto, cariocas ouvidos pelo DIA nesta sexta-feira são unânimes ao afirmarem que ainda não se sentem seguros sem a máscara. Segundo eles, a maior preocupação é conviver com a constante dúvida se a pessoa que está ao seu lado na rua está ou não contaminada pela covid-19.
Como deliberado pelo Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19 (CEEC) e publicado em Diário Oficial, o município espera liberar o uso obrigatório do equipamento de proteção individual (EPI) quando 80% da população adulta e 65% da população total carioca estiverem com o esquema vacinal completo. Nessa conjuntura, uso de máscaras estará suspenso em locais abertos sem aglomeração. De acordo com a atualização de 12h38 do Painel Rio COVID-19, a cidade registra 81,1% dos cariocas adultos com as duas doses ou dose única e 63,4% da população completamente vacinada.
Mais adiante, quando 90% dos cariocas adultos e 70% de toda a população estiver totalmente vacinada, fica livre a circulação das pessoas, sem restrição de capacidade ou distanciamento. O uso de máscaras será obrigatório apenas em ambientes hospitalares e transportes públicos. Esta terceira etapa está prevista para entrar em vigor no dia 15 de novembro.
O operador de telemarketing, José da Silva Marques, de 37 anos, disse que a máscara ainda deve fazer parte da rotina da população mesmo em lugares abertos. "Mesmo que os números de casos estejam diminuindo, me sinto muito mais seguro usando máscara. Porque não tem como sair na rua e saber quem está ou não contaminado. Na dúvida, o melhor é usar a máscara. É chato, incomoda, mas é preciso ter responsabilidade com a vida".
Já Sorany Ferreira, de 58 anos, foi além e fez um alerta: "Enquanto não tiver mais de 80% da população imunizada, máscara e vacina é essencial. Ainda pode acontecer uma nova onda da doença e não temos cobertura para isso".
Arlete Foureaux, de 71 anos, falou que só é a favor da liberação do item de proteção quando os casos da doença estiverem bem baixo.

"Ainda estamos numa pandemia e a nós que trabalhamos em praça pública temos que continuar usando álcool e máscara. O dia que os números estiverem bem baixos, aí sim será justo não usá-la mais nos lugares, mas ainda é muito cedo para isso. Eu já tomei a terceira dose da vacina, mas quero continuar usando a máscara".
Vale destacar que o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou, na noite desta quinta-feira, em seu perfil oficial no Twitter, que o município do Rio registrou o menor número de casos da covid-19 desde o início da pandemia, em 2020. Além disso, ele ressaltou que de 100 testes realizados hoje, apenas quatro foram positivos para a doença.
Soranz enfatizou que a queda é resultado da vacinação. "Já podemos dizer que neste momento temos a covid-19 controlada na cidade do Rio, devido a alta adesão dos cariocas à vacina".
O que dizem os especialistas
O presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri, é contrário a desobrigação do uso de máscara. Segundo o médico, essa deveria ser a última medida a ser flexibilizada.
"O uso de máscara durante toda a pandemia se demonstrou uma das medidas mais eficazes no controle da doença, já que boa parte da transmissão dos casos se deu por pessoas assintomáticas. A barreira física protege, porque todos podem ser considerados potencialmente infectados mesmo os vacinados. As vacinas são excelentes para prevenir doenças, as formas graves delas, mas não são tão boas para prevenir infecção e transmissão", disse Kfouri, que acrescentou:
"O melhor indicador para flexibilizar medidas como essa deveriam ser as taxas de transmissão. Quando você tem muito vírus circulando, é muito arriscado liberar o uso de máscara. Mas quando você tem baixa transmissão do vírus esse risco é menor. Enquanto a gente está registrando no país 15 mil casos, 300 mortes diárias ainda são taxas elevadas. O benefício de tirar a máscara é muito pequeno, porque não estamos falando de recuperar uma atividade suspensa a tanto tempo, escolas, artes, cinemas, teatros e até jogos de futebol. Estamos falando de tirar máscaras que não traz nenhum grande benefício para população, que inclusive já está acostumada, a gente tanto lutou para que se usasse máscara. Ao meu ver, é um benefício pequeno para um risco ainda grande e uma discussão desnecessária nesse momento. A máscara deveria ser a última medida a ser flexibilizada".
A Presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, Tânia Vergara, é a favor da liberação do uso da máscara, mas com ressalvas. "Em relação a liberação de uso de máscaras em locais abertos, contanto que as pessoas tenham o bom senso de saber que, se estão muito próximas umas das outras a ponto de suas secreções ao falar, tossir, espirrar, cantar, possam atingir diretamente boca, nariz e olhos do seu vizinho, não vejo maiores problemas. Digo isso levando em consideração o percentual de vacinados na cidade do Rio de Janeiro. Não posso generalizar para o Estado do Rio, no qual há enormes diferenças entre cidades", disse a médica, que completou:
"Então, pensemos na seguinte situação: você vem andando pela rua, mas vai ter que ficar num ponto de ônibus que está lotado e você está praticamente colado no outro. Mesmo que seja em lugar aberto, é conveniente usar máscara. Sabe aquele ditado: dize-me com quem andas que saberei quem és? Pois é, eu só me relaciono presencialmente, até o momento, com pessoas que têm sua vacinação em dia, mas aqui mesmo onde moro, há uma família de vizinhos que não se vacinou, não usa máscara e acredita que tomando o remedinho (que não serei eu que falarei o nome), estão todos protegidos. O que eu faço sabendo disso? Não me aproximo deles e cuido que esteja com a minha máscara bem colocada, para o caso de ter que ficar com eles, por exemplo, num elevador. Assim faço com os que não conheço. Como estão se comportando? Não sei".
A especialista ainda acredita que a desobrigação do item em locais fechados é um erro. "A liberação das mesmas nas escolas, por exemplo, é um risco. As crianças não estão vacinadas e a maioria evolui de forma assintomática, mas transmite. Todo cuidado é pouco. Falando nisso, vejo com frequência reportagens falando que as crianças estão merendando na sala de aula. Erro. Deveriam estar merendando num ambiente aberto. Elas estarão sem máscaras no momento de comer. Vai aí a dica".
Por outro lado, o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo, disse que a flexibilização das medidas restritivas são condizentes com os índices de covid-19 no município.
"Nesse momento eu acho que nós temos segurança sim para liberar o uso de máscara em ambiente externo. Temos uma redução de transmissão muito importante na cidade do Rio de Janeiro e com um número grande de pessoas vacinadas. Então, isso dá um pouco mais de tranquilidade em relação a esse baixo risco de transmissão, principalmente em locais abertos, ventilados. Principalmente, considerando que a circulação do vírus já é bem pequena na cidade".
Apesar de concordar com as medidas de relaxamento, Chebabo recomenda que pessoas com alto risco de evolução para uma doença mais grave devem utilizar a máscara em qualquer circunstância.
"A gente está passando por uma fase que a gente saiu do cuidado coletivo para o cuidado individual. Aquelas pessoas que têm risco maiores de evoluir para uma doença mais grave ainda deve manter a utilização de máscara mesmo em ambientes externos e evitar aglomerações. Aquelas pessoas que já são imunossuprimidas, pacientes muito idosos em que o risco de contrair uma infecção para essa pessoa é um risco elevado de complicação, devem evitar frequentar lugares com aglomerações e manter a máscara em qualquer tipo de ambiente mesmo que não for mais obrigatório".