Projeto Museu Nacional Vive planeja receber visitantes no Sete de Setembro de 2022Marcos Porto/Agencia O Dia

Rio - Uma cerimônia marcou o início das obras da fachada e do telhado do bloco 1 do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, nesta sexta-feira (12). A celebração, dentro da estrutura desnuda do palácio, com vergalhões e tijolos aparentes, reuniu representantes da UFRJ, da Prefeitura do Rio, da Unesco e do Instituto Cultural Vale, que compõem a iniciativa do “Projeto Museu Nacional Vive”.


A raiva e o luto pela perda de 85% do acervo nacional durante o incêndio da noite do dia 2 de setembro de 2018 foram transformados em luta para reerguer o patrimônio e devolvê-lo à sociedade. A previsão é de que no bicentenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 2022, as obras no bloco 1 do prédio estejam concluídas e que o palácio possa ser aberto à visitação.

“Não é sem uma imensa emoção que me manifesto. Após o incêndio, a emoção era de intensíssima raiva. Depois, uma emoção de tremendo luto e agora se transmutou para uma emoção de luta ferrenha pela recomposição dessa instituição que é uma casa da nação, mas também uma casa de cada um de nós”, declarou durante o evento o professor Luiz Fernando Dias Duarte, da Associação dos Amigos do Museu Nacional.

A obra completa do paço deve terminar em 2026. Durante a apresentação, o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, classificou o incêndio como um dos momentos “mais tristes da história cultural e científica do país”. E afirmou que a inauguração da obra da fachada marca uma virada de página.

O Projeto Museu Nacional Vive já arrecadou R$ 244 milhões, mais de 60% da meta de arrecadação para sua reestruturação total. Kellner anunciou que um Centro de Visitação para estudantes será aberto o mais rapidamente possível para expor coleções doadas e próprias, restauradas pelo museu.

Serão quatro circuitos: Histórico; Universo e vida; Ambientes brasileiros; e Diversidade cultural. O vice-presidente executivo da Vale, Luiz Eduardo Osório, atendeu um pedido feito durante a apresentação e anunciou a dotação de R$ 500 mil reais para abrir a exposição para crianças.

O Centro de Visitação será no Campo de Pesquisa e Ensino do Museu Nacional, uma área de 44 mil m², construído em um terreno doado pela União próximo ao Maracanã. “Só não está aberto porque é uma estrutura vazia, mas com esse aporte, acredito que no início do ano que vem esteja funcionando”, acrescentou Luiz Eduardo Osório.

85% do acervo perdido

O diretor do Museu Nacional disse que o maior desafio para o processo de reconstrução é o acervo. Após o incêndio, o primeiro esforço foi recolher as peças e estabilizar. Agora o momento é de patrimoniar e restaurar o que foi salvo. O Museu Nacional acumulava mais de 20 milhões de exemplares e perdeu 85% do patrimônio. Estima-se que entre 20 e 50 mil exemplares sejam recuperados.

“Precisamos de ajuda internacional. Precisamos de 10 mil peças. Contamos com doações nacionais e internacionais”, disse Kellner. “Temos a nossa Luzia. Essa é uma grande guerreira que superou essa tragédia, que foi o incêndio do museu”, lembrou. O crânio do fóssil humano mais antigo do Brasil foi encontrado por pesquisadores nos escombros após o incêndio.

UFRJ prioriza combate a incêndios

A reitora da UFRJ Denise Pires de Carvalho destacou que mais do que prevenir, a universidade prioriza ter projetos de combate a incêndios em seu patrimônio.Para cuidar dos demais prédios tombados sob a responsabilidade da universidade, a reitora informou que foi criada uma diretoria de combate a incêndio.

“Como você impede um ar-condicionado de pegar fogo? O que temos que ter é o combate rápido para que o incêndio não se espalhe. Nos países mais desenvolvidos há mecanismos de água que sentem a fumaça. Vamos instalar esse sistema no Museu Nacional”, afirmou.

Denise afirmou que projetos de combate a incêndios estão sendo feitos e cadastrados no Corpo de Bombeiros. Já foram cadastrados projetos para o IFCS e para a Escola de Música. Um projeto está em curso para o prédio da Faculdade de Arquitetura da UFRJ. “Aprendemos, infelizmente com a perda do nosso museu”, lamentou.

Comemoração do bicentenário da Independência

O secretário Municipal de Planejamento Urbano do Rio, Washington Fajardo, afirmou que a Prefeitura prepara um plano de conservação da Quinta da Boa Vista, onde fica o palácio. “Queremos celebrar o bicentenário da Independência com o museu no ano que vem. Ciência e Cultura não serão mais renegados nessa cidade”, afirmou.

O paço que abriga o Museu Nacional abrigou Dom João VI, Dom Pedro I e Dom Pedro II durante o Império. Além da Imperatriz Leopoldina. O Jardim das Princesas, que não era aberto à visitação, poderá ser visitado pelo público no ano que vem, afirmou o diretor do museu. A área não foi danificada pelo incêndio.

O palácio, hoje reduzido às estruturas, também sediou a primeira plenária da constituinte republicana brasileira entre 1889 e 1891. No Carnaval do ano da tragédia, em 2018, o museu foi enredo da Imperatriz Leopoldinense: “Uma Noite Real No Museu Nacional”. A escola celebrava o bicentenário da primeira instituição científica do Brasil.

No bicentenário da Independência, o projeto Museu Nacional Vive pretende receber visitantes para uma passeio de forma guiada por uma sala do museu e pelo Jardim das Princesas.