Discussão pretende estabelecer termo de cooperação técnica e financeira entre a Alerj e UFRJEstefan Radovicz / Agência O Dia
A presidente da Comissão, vereadora Tainá de Paula (PT), ressaltou a importância da proposta para o Rio, mas apontou a necessidade da elaboração de um substitutivo para mudanças no texto, para que as obras do espaço não ultrapassem os limites da UFRJ e não provoque desmatamento da região. A parlamentar também defendeu o uso do estabelecimento para outros fins, além do cultural.
"A nossa primeira pauta é a delimitação, entendendo que é necessário diminuir a área para que possamos de fato aplicar uma área específica do equipamento cultural. Não é necessário nós derrubarmos árvores, atravessarmos o limite da própria UFRJ para uma área que sequer será de uso exclusivo do equipamento. O equipamento consegue ser construído na área que estamos propondo. O outro ponto é ampliar o uso, para além do uso cultural. É importante garantir um centro multimeios, um centro de tecnologia, ampliar as possibilidades do uso ali naquela área", argumentou a presidente.
Durante a audiência, não houve consenso sobre as áreas de tráfego e de influência para carga e descarga e entrada de carros e ônibus. O assunto deve voltar à discussão antes da votação. A vice-presidente da Federação das Associações de Moradores do Município do Rio de Janeiro (FAM-Rio), Regina Lúcia de Abreu, afirmou apoiar a reabertura do espaço, desde que os moradores de Botafogo consigam trafegar sem transtornos.
"A universidade está no bairro de Botafogo, um bairro de 98 mil pessoas e que já está absolutamente saturado. Então qualquer grande intervenção abala, atinge e degrada a qualidade de vida. Nós apoiamos e apoiaremos a volta do Canecão, mas nós queremos ser ouvidos e respeitados. Queremos que os moradores possam passar ali e não ficar presos no engarrafamento", declarou a vice-presidente.
Segundo o secretário municipal de Planejamento Urbano, Washington Fajardo, o projeto é simples e pretende, além de autorizar o local a funcionar como espaço cultural, promover poucas mudanças na estrutura do estabelecimento.
"O debate é sempre importante, é fundamental. Entretanto, se trata de um projeto de lei muito simples e que tem como objetivo permitir que naquele terreno da UFRJ possa novamente ter um espaço cultural. Então, é um projeto de lei que trata simplesmente de uma possibilidade de um pouquinho maior de altura, estamos falando de 3 ou 4 metros, possibilitar o uso cultural e você pode ver que o PL é até curtinho", ressaltou o secretário, que teve o argumento reforçado pela reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho.
"O PLC trata apenas de autorizar o funcionamento do equipamento cultural ali. Uma vez autorizado, nós vamos partir para o projeto do que nós queremos que seja: um equipamento cultural com uma sala de 1,5 mil lugares, que comporte ópera, musicais, mas também salas associadas onde possa haver exposição e áreas externas onde o público possa também visitar."
Caso a proposta seja aprovada ainda em 2021, a UFRJ vai fazer um chamamento público para atrair a iniciativa privada para financiar o projeto. O vereador Tarcísio Motta (PSOL) demonstrou preocupação com a possibilidade da privatização de espaços que pertencem à instituição.
"Seguimos com o debate sobre o risco da privatização de espaços da própria universidade, de espaços públicos. Esse debate sobre como a gente garante que aquele equipamento cultural seja um equipamento público, de gestão pública, é muito importante para mim e para nossa Comissão de Cultura", disse o parlamentar.
O Canecão
O Canecão foi inaugurado em 23 de junho de 1967, como uma cervejaria. A transformação em casa de espetáculos se deu dois anos depois, com show de Maysa, dirigido por Bibi Ferreira. Pelo palco, passaram artistas nacionais e internacionais consagrados como Ellis Regina, Chico Buarque e Elymar Santos, que chegou a pagar para se apresentar no local, até a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguir o direito de retomar o lugar. A universidade recebeu o terreno da União nos anos 1960.
Cobiçado por músicos, o espaço de 116 mil metros quadrados, entre a Avenida Venceslau Braz e a Rua Lauro Muller, está fechado desde outubro de 2010. O encerramento ocorreu após uma briga judicial de quase 40 anos entre a UFRJ e o antigo inquilino, o empresário Mário Priolli. A instituição argumentava o não pagamento do aluguel pelo ex-dono. Desde então, nada foi feito no local. Em junho de 2019, a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) aprovou por unanimidade, o destombamento do Canecão. A casa de shows era tombada há 20 anos.
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