Chacina no Complexo do Salgueiro em São Gonçalo, nesta segunda feira (22).FOTOS Marcos Porto

Rio - Um parente de um dos oito pessoas encontrados mortas por moradores em uma área de mangue no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, horas depois de uma ação da Polícia Militar, contou que funcionários do Instituto Médico Legal (IML) o informaram que o reconhecimento do corpo teria que ser feito do tórax para baixo, uma vez que os rostos das vítimas estavam irreconhecíveis e com sinais de tortura. 
"Informaram que era melhor não ver o rosto porque estava irreconhecível, esfaquearam tudo, arrancaram o olho. Para fazer o reconhecimento, tivemos que fazer da parte do tórax para baixo, reconhecendo as tatuagens. Eu fiz o reconhecimento porque no braço dele tem o nome da mãe dele. Através do braço que eu reconheci que era ele", informou um rapaz, que não quis se identificar.
Segundo o relato do familiar, as vítimas não morreram durante confronto com a Polícia Militar, conforme foi informado pela corporação. "É uma situação muito triste, independente de qualquer coisa, de ser traficante ou não, ninguém merece ter uma morte desse jeito. Sei que é doloroso para a família do policial quando ele morre, mas não é por causa disso que o resto merece isso. Se eles mataram, tinham que ser presos e julgados pelo o que fizeram, e não o que fizeram lá. Teve troca de tiros? Teve, mas não foi na hora que eles morreram".
"Quando a gente chegou lá, a cena era de terror. Tem gente que não tem como reconhecer o rosto, que está todo desfigurado de faca. Como podem dizer que morreram em uma troca de tiros se o rosto está todo desfigurado de faca? Pessoas inocentes também foram sequestradas e arrastadas para dentro do mato, para juntar com os bandidos e mostrar que também eram", continuou o relato.
Questionado se a vítima reconhecida por ele tinha envolvimento com o tráfico local, ele confirmou, mas pediu justiça: "A gente sabe que quando a pessoa tem envolvimento com a vida errada uma hora ou outra isso acaba acontecendo. Só que a gente não queria que tivesse acontecido dessa forma. Se chegasse lá e visse que ele tinha tomado um tiro, a gente ia se conformar e tá tudo certo, mas não foi um tiro. Eles foram torturados, tiveram seus olhos arrancados, tiveram seus dentes arrancados, dedos cortados e decepados. Isso não foi uma troca de tiros".
"A gente tem certeza que tem mais corpos lá. A área é de difícil acesso e é complicado. Muita gente sem dente, tinha gente com o olho furado de faca, tinha gente degolada. Isso é digno de uma chacina, de uma exterminação. Até quando vamos viver com isso? Isso está desumano, a população pede paz. A comunidade carente pede paz", finalizou.
Em nota, a Polícia Militar confirmou que houve confronto nas "proximidades de uma área de mangue com mata", após policiais do Bope serem atacados por criminosos, mas que não houve "detidos ou relatos de feridos". O resultado desse confronto teria sido apenas apreensões: duas pistolas, 14 munições calibre 9 mm, 56 munições de fuzil calibre 762, cinco carregadores (02 para fuzil e 03 para pistola), um uniforme camuflado, 813 tabletes de maconha, 3.734 sacolés de pó branco e 3.760 sacolés de material assemelhado ao crack.
Procurado pelo DIA, o Ministério Público do Rio informou que "a 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Niterói e São Gonçalo está acompanhando as ações e medidas cabíveis serão tomadas".
Em nota, a Polícia Civil informou que peritos afirmaram que não há nenhuma indicação que confirme a versão de que os mortos teriam sido torturados até o momento.