De olho do Carnaval 2022 carnavalescos e escolas de samba do Rio estão a todo vapor
Com cenário de baixa circulação do coronavírus na capital carioca, que atualmente está na bandeira verde, agremiações acreditam que desfiles acontecerão em fevereiro
Abre-alas no desfile da Portela em 2020 - Fernando Grilli/Riotur
Abre-alas no desfile da Portela em 2020Fernando Grilli/Riotur
Rio - O Carnaval 2022 do Rio está confirmado, mas sujeito às condições da transmissão do coronavírus. Mesmo em meio a um cenário de incertezas, as escolas de samba cariocas estão animadas para os desfiles, que acontecerão nos dias 27 e 28 de fevereiro, e já começaram os preparativos. Temendo alguma mudança de data, algumas agremiações decidiram fazer mais para frente o acabamento das alegorias que podem estragar, já que se houver alguma restrição nos próximos meses a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) pode adiar a festa para julho.
"O clima na escola depois de um ano e meio parados é bem positivo. Estamos retornando gradativamente as atividades e estamos fazendo ensaios, tudo de acordo com os protocolos. Os preparativos para o Carnaval estão em plena atividade no barracão. Todas as alegorias já estão sendo produzidas e as fantasias estão num processo bem adiantado. Por enquanto, não estamos preocupados com o cenário do futuro, até porque o cenário atual é positivo", afirma Fabio Pavão, vice-presidente e diretor de Carnaval da Portela.
Pavão diz que os desfiles são viáveis, assim como qualquer outro evento que já está acontecendo no estado e na cidade. "O desfile de escola de samba é semelhante aos eventos que já vêm sendo realizados como corridas, shows e jogos de futebol. Ainda que a situação mude, o desfile de escola de samba é absolutamente possível manter o controle e os protocolos necessários, diferente, por exemplo do Carnaval de rua, onde não é possível manter qualquer controle".
Ele ressaltou ainda que nada, além do surgimento de uma nova variante que eventualmente fuja do controle, justifica o cancelamento do Carnaval. "Nós acreditamos na ciência e nos dados concretos que temos hoje e os dados dizem que há possibilidade de seguir com os desfiles. Fazer distinção entre desfile de escola de samba com qualquer outro evento que já está acontecendo por aí é puro preconceito. Quanto a imprevisibilidade da situação, esta é uma preocupação da humanidade e não só para o Carnaval. Em caso de um possível adiamento é uma questão que deve ser vista mais para frente", ponderou.
Na Grande Rio, agremiação de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, os integrantes estão animados. É o que garante o diretor de Carnaval Thiago Monteiro.
"O clima na Grande Rio hoje é de trabalho. Estamos fazendo o nosso Carnaval com o cronograma que prevê o desfile em fevereiro. Neste exato momento, o que está acontecendo no Rio de Janeiro e no Brasil é um panorama de retorno a todos os tipos de eventos culturais, inclusive voltando a gerar emprego e renda a milhares de trabalhadores, contexto no qual as escolas de samba se incluem".
Mesmo animados, Thiago afirma que a escola vai acatar a decisão de um possível adiamento e que isso não acarretaria em prejuízo. "É claro que não estamos alheios ao que vem acontecendo no mundo e que, se houver qualquer tipo de medida sanitária por parte das autoridades, nós acataremos, exatamente como fizemos ao longo de todo esse período. Isso não acarretaria nenhum prejuízo ao nosso desfile, já que se trataria de uma interrupção para o retorno em outra data.
Rosa Magalhães, carnavalesca da Imperatriz Leopoldinense, disse que este é um momento favorável, mas ressaltou que cumprirá com o que disserem as autoridades. "Temos que pensar positivo. Por enquanto está tudo saindo conforme o cronograma da escola. Estamos trabalhando nas alegorias e fantasias da maneira que está sendo possível, até porque a verba está apertada. Mas estamos trabalhando e creio que se a população continuar se vacinando contra a covid e também contra a gripe vai ser possível voltarmos a andar nas ruas e a viver e também fazer o Carnaval. Claro que estamos fazendo tudo conforme determinam as autoridades".
Na São Clemente, a estratégia adotada foi deixar fantasias prontas e as alegorias adiantadas até o 'esqueleto'. O acabamento final só será feito quando a decisão for definitiva. A escola fará uma homenagem ao ator Paulo Gustavo, que morreu em maio, com o enredo "Minha vida é uma peça!".
"A indecisão é grande. Por enquanto estamos fazendo ensaio de rua, por se tratar de local aberto. As alegorias vão ser aprontadas até a madeira e ferro, a decoração não será feita porque se for adiado para julho a gente perde tudo. As fantasias estão sendo feitas e ficando prontas, mas isso dá para envelopar e guardar. O samba e o enredo estão escolhidos e é isso que dá pra fazer por enquanto. O resto estamos na dependência da prefeitura", conta Renato Gomes, presidente da agremiação.
Renatinho afirma entender a situação e que a vida tem que estar em primeiro lugar. "O Carnaval é a maior festa do povo, mas a saúde e as pessoas são mais importantes. Se é para aguardar, nós vamos aguardar. Não podemos ultrapassar os limites. Vamos ver o que o prefeito vai decidir".
Por meio de nota, a Mangueira disse apenas trabalha com foco em fevereiro e que está "seguindo normalmente com o trabalho, na construção do desfile para 2022 ".
Liesa segue confiante
O presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, garantiu que terá Carnaval e que os preparativos estão em andamento e que a organização do evento está disposta a seguir algumas exigências. "Os preparativos estão a todo vapor. Nos barracões, as escolas estão trabalhando para o espetáculo acontecer e o cenário é positivo. O Rio de Janeiro está com a maioria da população vacinada e os casos de covid caíram, o cenário é melhor do que imaginávamos há uns meses atrás. Se tiver que exigir o passaporte da vacina, nós faremos. Só não vamos aceitar reduzir o público e nem qualquer outra coisa que comprometa o espetáculo".
Apesar de confiante, Perlingeiro disse que estão preparados para um possível adiamento, embora acredite não ser necessário. "A gente está trabalhando para os desfiles acontecerem nos dias 27 e 28 de fevereiro, mas quando lá atrás firmamos os contratos e a situação da pandemia não era tão boa, nós colocamos a hipótese de adiamento. Não creio que isso vá acontecer olhando o cenário de hoje, mas estamos prontos para isso. No mais estamos trabalhando com o fato de que o Carnaval acontecerá em fevereiro".
O presidente da Liesa afirmou que o público pode esperar um espetáculo grandioso e confirmou que os ensaios técnicos começaram em janeiro, na Sapucaí. "Será um espetáculo lindo, mais elegante, mais robusto. Teremos nova pista, nova iluminação e a partir de 15 de janeiro, se Deus quiser, começam os ensaios técnicos".
Gabriel David, diretor de Marketing da Liesa, disse que segue confiante e que está em contato com as autoridades do estado e do município.
"Desde que começamos a discutir a realização do Carnaval 2022, ainda no início deste ano, estivemos atentos à pandemia e aos números de infecções e óbitos em decorrência da Covid-19. Também mantivemos contato com autoridades do estado e do município sobre o assunto. Agora, a três meses da festa, não é diferente. Seguimos conectados ao tema e, ainda assim, confiantes, até aqui, de que a vacinação e os índices do Rio poderão permitir a realização do evento".
Mais receosos, os principais blocos de rua do Rio de Janeiro, acreditam ser muito cedo para tomar qualquer decisão em relação ao Carnaval. Na segunda-feira (29) a grande maioria dos grupos que se pronunciaram disseram que que aguardarão orientação do Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19 da prefeitura do Rio de Janeiro.
Estado e município alinhados
O Governador Cláudio Castro afirmou nesta quarta-feira (1) que, diante do atual cenário da pandemia de covid-19 no Rio de Janeiro, ainda não é possível falar sobre o cancelamento do Carnaval na capital carioca. Ele disse ainda que as secretarias Estadual e Municipal de Saúde têm trabalhado juntas para decidir sobre o evento.
"Hoje, na radiografia de hoje, não dá para falar em cancelamento, mas já vem sendo estudado a radiografia de agora e a projeção dela. Então se a Secretaria de Saúde dizer que não pode ter, não terá. Se a Secretaria orientar que pode ter, então terá. A decisão será sempre técnica. Eu e o prefeito Eduardo Paes estamos muito alinhados nisso. Nós vamos ouvir as autoridades sanitárias, vamos ouvir a ciência e vamos tomar a melhor decisão", concluiu Castro.
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