Rio - Depois de Preta Gil anunciar durante o "Show dos Famosos", da TV Globo, que não fará o já tradicional 'Bloco da Preta' em 2022, por conta da pandemia da covid-19, O DIA procurou os principais blocos carnavalescos do Rio para saber se, à exemplo da cantora, pensam em adiar a folia por mais um ano. A grande maioria dos grupos que se pronunciaram acreditam que ainda é cedo para uma decisão, mas afirmaram que pretendem seguir o que disserem as autoridades de saúde do município e especialistas.
Com o Carnaval no Rio atualmente 'confirmado' pelo prefeito Eduardo Paes e pelo governador Claudio Castro, a Riotur recebeu 620 pedidos de desfile de 506 blocos. A lista de inscritos foi divulgada no dia 19 de outubro, e a lista final de blocos autorizados sairá no fim de dezembro.
A Sebastiana, Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade, considera que uma decisão neste momento é precoce e que aguarda orientação Comitê Especial de Enfrentamento à Covid-19 da prefeitura do Rio de Janeiro.
"A Sebastiana não tomará nenhuma decisão no momento. Nós vamos aguardar, depois do réveillon, conforme as coisa andarem. O que vai pautar a nossa decisão são os dados científicos do Comitê Científico do Rio de Janeiro. Se eles disserem que tem condição de fazer o Carnaval, nós faremos. Se o comitê disser que não pode fazer o Carnaval porque tem risco, nós cancelaremos. Não seguiremos o anúncio da Preta, é prematuro e ainda tem muita água para rolar. Quem a pauta a Sebastiana, e deveria pautar todos os blocos não é a atitude de um ou de outro, mas sim o Comitê Científico", afirmou Rita Fernandes.
Fazem parte da Sebastiana: o 'Bloco da Ansiedade', 'Bloco do Barbas', 'Bloco das Carmelitas', 'Escravos da Mauá', 'Gigantes da Lira', 'Imprensa que eu gamo', 'Meu bem, volto já', 'Que merda é essa?', 'Simpatia é quase amor', 'Suvaco do Cristo' e 'Bloco Virtual'.
Pedro Ernesto, presidente do mais antigo bloco do Rio, o Cordão do Bola Preta, afirmou que seguirá todas as determinações das autoridades de Saúde.
"Faltam ainda quase três meses para o Carnaval, já que será no fim de fevereiro, pegando o início de março, então ainda é muito cedo para falar qualquer coisa. Mas, se as autoridades dizem que há condições para fazer o Carnaval, nós faremos. Para esses megablocos como o da Preta, Ludmilla e Anitta, estamos falando de shows com vários artistas famosos e convidados. Mas, para nós, entidades carnavalescas tradicionais, estamos falando de tradição, carregamos a responsabilidade grande de manter vivo o carnaval de rua do Rio. Desfilar nas ruas é uma questão de sobrevivência para os blocos tradicionais que têm resistido ao longo do tempo"

Para ele, o réveillon vai ser um grande teste e a vacinação é fundamental para conter o número de casos no Rio. "Os cariocas estão, a grande maioria, vacinados e o controle deve ser rígido para quem vem de fora do Rio e outros países. Se a gente conseguir passar bem por este grande evento, acredito que podemos seguir com os preparativos para o Carnaval. Vamos torcer para que dê tudo certo e acreditar na eficácia da vacina. Os eventos no Rio estão liberados e não tem havido aumento número de casos, isso prova que a vacina tem sido eficiente".
Já Vagner Fernandes, presidente do Timoeiros da Viola, disse que apoia a decisão da Preta Gil e que o bloco tradicional de Osvaldo Cruz, zona Norte do Rio, não irá às ruas em 2022. A ideia é fazer uma live ou show fechado, com limitação de público para homenagear Paulinho da Viola, padrinho do bloco.
"O Timoneiros da Viola não sairá. Ano que vem o bloco completa uma década. O intento era celebrar presencialmente, na rua, esses dez anos anos e dar início às comemorações dos 80 do Paulinho da Viola, padrinho e cofundador do bloco, aquele que nos inspirou. Estamos discutindo se faremos uma live ou uma apresentação em local fechado com limitação de público, conforme as autoridades sanitárias orientam. Eu fecho 100% com a Preta. O momento é extremamente delicado".
Por meio de nota, o Monobloco disse que: "É precipitado qualquer comentário em relação ao Carnaval 2022. Estamos torcendo, assim como todos, para que os índices de contágio permaneçam baixos".
Posição da Prefeitura do Rio
Nas redes sociais, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), afirmou que é possível cancelar o Carnaval e o Ano Novo caso o cenário epidemiológico seja de risco. Na mensagem, Paes deixou claro que as vacinas são as responsáveis para que a situação do momento seja de maior tranquilidade.
"Qualquer evento ou festividade que irá, em tese, ocorrer daqui a semanas ou meses, só vão ser realizados caso haja condições seguras para tal. Eu garanto que o Rio está pronto para realizar os principais eventos de 2022 que são muito importantes para nossa cultura, para nossa economia e a vida da nossa cidade. Ainda assim, eu quero lembrar que ter planejamento de um evento não significa necessariamente que ele vai ser realizado. Afinal, é plenamente possível cancelar o que foi planejado", pontuou. 
Especialista alerta para riscos
Para Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), tudo depende das taxas de transmissão do vírus. Mas, ele afirma que é um risco manter toda a organização para o Carnaval, já que a qualquer momento a situação pode mudar.
"Não sabemos como estará a pandemia em março. É difícil fazer previsão para um mês, que dirá para três. Então, poderemos estar bem controlados, com a vacina segurando a proteção de todos, cobertura vacinal elevada e doses de reforço para todos e estarmos em uma situação de baixa circulação do vírus que possibilite até a realização do Carnaval. Mas, pode acontecer o contrário termos uma grande circulação e uma nova onda de contaminação e temos que restringir muito, quanto mais em se tratando de uma festa dessa magnitude".
Para o especialista, com um cenário imprevisível, o mais indicado seria o cancelamento de um evento como o Carnaval. "Frente à imprevisibilidade desse cenário epidemiológico, eu acho mais prudente ser mais conservador neste momento e não ter Carnaval, pelo ou menos os blocos e grandes aglomerações. É um investimento grande que se faz para estas festas e talvez tenha que ser cancelado tudo por questões sanitárias e inviabilizar as festas.
Para Kfouri, caso a situação da pandemia no Rio permaneça como está, atualmente a cidade está em bandeira verde, os riscos seriam pequenos ao se realizar um evento grande. "Se estivermos como hoje, com uma baixa transmissão do vírus o risco é pequeno. O risco é baseado nas taxas de transmissão, mas é difícil supormos como estaremos até o Carnaval".
Bloco da Preta arrasta multidão
Neste domingo (28), Preta Gil jogou um balde de água fria em quem pensava que ia poder aproveitar a festa no "Bloco da Preta". Foi durante o programa de Luciano Huck, na TV Globo, que a artista anunciou que não colocaria seu bloco na rua, no Rio de Janeiro. A folia promovida pela cantora no Centro da cidade atrai milhares de pessoas. Em seu último desfile, em 2020, o Bloco da Preta arrastou cerca de 320 mil foliões pelas ruas da capital.
A cantora Preta Gil comandou uma multidão de mais de 320 mil pessoas, em 2020, no Centro da Cidade - Felipe Panfili / Divulgação
A cantora Preta Gil comandou uma multidão de mais de 320 mil pessoas, em 2020, no Centro da CidadeFelipe Panfili / Divulgação
A revelação foi feita enquanto Preta elogiava a performance de Mariana Rios no "Show dos Famosos". A artista homenageou Katy Perry com uma fantasia que deixou Preta ansiosa para o Carnaval.
"Eu só vou botar meu bloco na rua em 2023. Em 2022 não vai ter bloco da Preta, mas quando eu voltar vou pedir para o pessoal fazer um figurino igual para mim. Tem como, gente? Amei essa roupa, amei todo o look", disse ela.
Recentemente a madrasta da cantora, Flora Gil, chegou a falar sobre o assunto. "Conversei esses dias com Preta (Gil) que vem fazendo há anos o bloco no Rio - Bloco da Preta -, e ela me disse que não tem coragem de promover uma festança em meio a tantas tristezas, morte de amigos e notícias que não param de chegar sobre covid-19. E mesmo depois da vacina, em alguns países, o mar não está pra peixe", disse Flora na ocasião.