Rio,07/12/2021-REALENGO, rapaz solto apos ficar 20 dias preso em Benfica. Na foto. Alberto Meyrelles Junior, com seus amigo e familiares.Foto: Cleber Mendes/Agência O DiaCléber Mendes

Rio - Horas após deixar o presídio de Benfica, na Zona Norte do Rio, Alberto Meyrelles Santa Anna Júnior, de 39 anos, demonstrava alívio com o fim do pesadelo. Segundo o estivador, ele não deseja o que lhe aconteceu nem para o seu pior inimigo. Alberto Júnior foi preso injustamente no último dia 17 com base no reconhecimento de uma foto 3x4 de uma CNH sua que havia sido roubada no dia do crime do qual é acusado.

"Tentei manter a calma durante esses dias, mas quando foi chegando no domingo eu comecei a pensar que não sairia de lá tão cedo. Eu pensei: 'vai chegar segunda e eu vou dormir o dia todo'. Quando acordei veio a notícia de que conseguiram o alvará de soltura e isso me trouxe esperança, me animou. Agora eu pretendo processar o Estado", disse Alberto Júnior, que deixou a prisão por volta das 23h desta segunda-feira.
O estivador relatou que os dias foram difíceis, mas o sentimento de estar novamente nas ruas é um conforto para seu coração. "A minha sensação depois de ter saído da prisão foi de alívio, porque aquilo lá eu não desejo nem para meu pior inimigo. Ninguém merece aquilo. Ninguém!".
Neste domingo, a desembargadora Kátia Maria Amaral Jangutta, da 2ª Câmara Criminal do Rio, determinou a soltura dele, após um pedido de habeas corpus feito pela Defensoria Pública do Estado. De acordo com o empresário Alberto Meyrelles SantAnna, de 60 anos, houve um problema no sistema de liberação e por isso o alvará de soltura do seu filho demorou tanto para ser cumprido. 
"Cheguei lá por volta das 7h30 e só fui embora 21h, porque parece que deu problema lá no sistema TJRJ e por isso ainda não tinha saído o alvará. Como não tinha mais nada a ser feito, fomos embora. Jantei, porque não tinha comido nada o dia inteiro, e fui dormir. Acordei com minha nora ligando dizendo que o Júnior havia saído. Fui direto buscar meu filho e ele disse que foi solto às 23h. Ele disse que não sabia como iria voltar para casa, porque não tinha dinheiro e documento. O rapaz da portaria ofereceu o telefone dele para ele ligar e dar notícia para a esposa. Meu filho foi recebido em casa com uma festinha. Apesar de toda tristeza que passamos esses dias, agora estamos felizes e aliviados que ele está na rua", disse o empresário, que sofreu uma taquicardia na semana passada.
Alberto Júnior vai responder o processo em liberdade. A Justiça do Rio marcou uma audiência para o próximo dia 14 de dezembro, a primeira de instrução.
Entenda o caso
O estivador trabalhava de carteira assinada há 20 anos no Cais do Porto. Ele foi preso no último dia 17 enquanto seguia de casa para a de sua mãe, há uma distância de cerca de 100 metros. Ao chegar, foi abordado e preso por policiais civis em uma viatura descaracterizada. Em agosto, a reportagem de O DIA mostrou que ele vem tentando provar sua inocência desde que teve a prisão preventiva decretada. O estivador teve a carteira roubada em um assalto que aconteceu no mesmo dia do crime de que é acusado de ter cometido.

Segundo o inquérito policial, o documento de Alberto foi encontrado em um carro Toyota Corolla, mesmo modelo de veículo utilizado pelo grupo que o havia assaltado. A carteira de habilitação foi, então, apresentada pela polícia à mulher vítima do outro roubo, que o identificou como autor do crime apenas pela fotografia da CNH. Inicialmente, ela havia descrito o assaltante como uma pessoa "de cor negra, altura aproximada de 1,70m, cerca de 25 a 30 anos, gordo, sem barba, cabelo crespo". O acusado tem 1,80m e 39 anos.

Na época, ele registrou o assalto e chegou a mencionar o veículo e o extravio da CNH no boletim de ocorrência. No entanto, não houve desdobramentos na investigação do caso. Mas, quase sete meses depois, em 6 de novembro de 2019, foi instaurado inquérito para apurar as circunstâncias do assalto sofrido pela mulher e, por conta do reconhecimento fotográfico, Alberto passou a constar como suspeito.

O caso teve novo desdobramento em outubro de 2020, quando o Ministério Público do Rio de Janeiro (MRPJ) ofereceu denúncia e requereu sua prisão preventiva, pedido que foi acolhido pelo juízo da 1ª Vara Criminal de Bangu, com base, mais uma vez, apenas no reconhecimento feito através de imagem 3x4. A Justiça já havia negado seis pedidos de soltura no processo.