Yago Corrêa foi preso no domingo ao sair comprar pão no JacarezinhoReprodução

Rio - Um jovem estudante de 21 anos foi preso, na noite de domingo (6), por policiais militares no Jacarezinho, Zona Norte do Rio. Yago Correa havia saído de um churrasco em que estava com amigos para comprar pão quando foi preso por dois PMs na comunidade por volta de 19h40. Irmão mais velho do estudante, Vinícius Corrêa usou as redes para pedir ajuda para conseguir a soltura do caçula.
"Ontem ele saiu para comprar pão de alho para um churrasco de amigos que ele estava na rua Amaro Rangel, ao chegar no local teve uma correria e ele foi preso injustamente pelos policiais que estão atuando na nossa comunidade, ele está sendo acusando de associação ao tráfico de drogas e quem o conhece sabe que o Yago não é disso", escreveu.
Segundo o registro de ocorrência, Yago foi preso junto com um adolescente, que estava com uma bolsa com 30 gramas de cocaína e 150 gramas de maconha. No entanto, familiares dizem que o jovem não estava com o adolescente, e que foi preso porque correu quando os policiais se aproximaram. As testemunhas que constam no indiciamento da Polícia Civil são os próprios policiais militares que realizaram a abordagem, lotados no Batalhão de Choque. 
A Polícia Civil, inicialmente, pediu a conversão da prisão em flagrante, em preventiva. Mas reviu a decisão após reconhecer que há "dúvida razoável" sobre a prática de crime por parte de Yago. A audiência de custódia está prevista para amanhã (8) entre 13h e 18h.
Em despacho enviado à Justiça nesta segunda-feira, o delegado adjunto da 25ª DP (Engenho Novo) reconhece que há "dúvida razoável" na imputação de crime de associação ao tráfico contra o jovem. Os policiais disseram em conversa informal que Yago "talvez estivesse no lugar, errado na hora errada".
O jovem afirmou em delegacia que não conhecia o adolescente detido com drogas e afirmou que estava comprando pão para um churrasco, quando foi abordado pelos policiais. A versão foi corroborada por familiares que procuraram a delegacia e por amigos que estavam na confraternização e foram chamados para depor.
Um dos policiais que participou da ocorrência afirmou em depoimento que "quando em patrulhamento pela rua Amaro Rangel, num beco, avistou, numa distância de cerca de 5 metros, dois elementos em pé e parados, um sem camisa portando uma necessaire e um outro junto ao primeiro, trajado com uma camisa do Flamengo. No momento em que visualizaram os policiais, os dois se evadiram, porém logo foram alcançados e abordados". 
O delegado responsável pelo caso reviu a decisão e encaminhou o pedido de soltura e a instauração de inquérito para "evitar injustiças".
"Logo após o término do procedimento surgiram fatos novos relevantes que geraram uma dúvida razoável em favor da não imputação pela prática de tráfico de drogas e associação ao tráfico ao referido nacional", diz o texto.
A polícia alegou que ligou um sinal de alerta pela forma que Yago se comportava na delegacia e pela procura dos parentes.
"Antes que haja qualquer questionamento sobre a percepção/instinto/impressão (ou qualquer outro nome que queira ser dado) aqui alegada, em uma central de flagrantes diuturnamente são apresentadas inúmeras ocorrências, flagrantes e confusões de todos os tipos possíveis e, mesmo assim, vários padrões sempre se repetem (desde apresentação da ocorrência até padrões comportamentais dos envolvidos), por isso mesmo quando existe algum fato que foge ao padrão, mesmo que seja algo subjetivo (muita das vezes até extremamente sutil – como a própria forma que o conduzido fala, se comporta e seus familiares) é preciso “acender um sinal amarelo” de imediato para evitar uma injustiça", diz o despacho.
Por fim, o delegado adjunto da 25ª DP pede a soltura de Yago: "Assim sendo, considerando que o auto de prisão em flagrante em relação à Yago Corrêa de Souza foi remetido à Justiça, represento ao Exmo. Juiz do Plantão Judiciário pela soltura de Yago C. para instaurando Inquérito Policial para melhor apuração e investigação dos fatos, para que não haja risco de ser feita qualquer injustiça".
A comunidade do Jacarezinho foi escolhida para receber o programa "Cidade Integrada" do governo do Estado. No último dia 19, houve uma operação com 1.200 policiais na favela com as polícias civil e militar para implementação do projeto que promete não repetir as UPPs e levar infraestrutura, educação, trabalho e segurança para as comunidades.
Procurada, a Polícia Militar informou que não identificou as pessoas envolvidas na ocorrência. "Equipe do Batalhão de Polícia de Choque em patrulhamento pelas imediações da Travessa Amaro Rangel e vielas da comunidade do Jacarezinho se deparou com dois indivíduos – um deles carregando uma bolsa - e que tentaram fugir ao avistarem os policiais. Eles foram capturados em posse de material entorpecente. Os dois indivíduos, um homem e um adolescente, foram conduzidos à 25ªDP para o registro da ocorrência. Nesta ação foram apreendidos 32 pinos de cocaína, 32 papelotes de skunk e 58 papelotes de maconha", diz a nota.
Já a Polícia Civil não retornou à reportagem até a publicação deste texto.