Betina, 10 anos, quer voltar logo para as aulas presenciaisReprodução / Marcelo Santos

Rio - O Conselho Superior (Consup) do Colégio Pedro II aprovou nesta sexta-feira (11) a adoção do modelo semipresencial, previsto na Portaria do dia 20 de dezembro como o "Plano B". Com isso, haverá uma divisão em 50% dos estudantes das turmas, em grupos A e B, com alternância da presença semanal de cada um dos grupos no turno dos estudantes. Sendo assim, as aulas retornam dessa forma a partir da próxima segunda-feira, dia 14.
A decisão foi tomada durante uma reunião do Consup que durou cerca de cinco horas. Foram 12 votos a contra o retorno pleno e 5 a favor. Sendo assim, ficou decidido que o modelo semipresencial deve ser adotado por conta dos sete dias ininterruptos de bandeira amarela/vermelha no Rio de Janeiro em relação à covid-19. A Portaria de número 2.389 já previa a transição do Plano C (totalmente remoto) para o Plano B (semipresencial). A carga horária máxima será de 4 horas diárias.
No último domingo (6), a reitoria do Pedro II solicitou ao Consup a implementação do regime híbrido, o que foi confirmado hoje. Já na quarta-feira, o reitor Oscar Halac assinou uma nota conjunta em favor da retomada plena das atividades presenciais.
Insatisfação se mantém
A decisão anunciada hoje desagradou Paula Du Bocage, mãe da aluna Betina, de 10 anos. Ela acredita que os alunos não estão sendo levados em conta pelo conselho do colégio. Paula também comentou sobre o novo modelo adotado.
"Pouco se fala nas crianças, isso que é o mais deixa nosso coração apertado. Eles discutem e brigam por tudo, mas não tocam na preocupação com as crianças. Acho que essa questão do 50% é mais uma forma de enganar a opinião pública. Na verdade, elas voltam, mas nem é o horário inteiro. Quem tem criança para levar, vai ter uma logística muito complicada. Não estamos felizes com essa resolução, esperávamos que fosse 100%", reclamou a mãe.
Sua filha, Betina, foi se vacinar com um cartaz escrito "Viva o SUS! Lugar de criança é na escola. Quero aula todo dia! Volta CPII". Além disso, a menina de 10 anos escreveu uma carta ao reitor do Colégio Pedro II, Oscar Halac.
"Quando vejo todos os colégios reabrindo, vejo meus amigos e primos voltarem para a escola, fico bastante chateada. Minha mãe conversou comigo e me explicou que a gente precisava confiar na escola, precisava acreditar, porque tudo voltaria ao normal. O tempo todo esperando e a vida ia voltando para os outros colégios, e o meu, nada de voltar. Durante essa espera toda, eu precisei de acompanhamento psicológico para me ajudar a passar por esse momento tão difícil e desgastante", disse Betina em um trecho.
Um professor, que preferiu não se identificar, informou que durante seu plantão de cinco aulas para cinco turmas diferentes, somente um aluno compareceu. Ele ficou feliz com o apoio dos colegas para o retorno presencial, mas ainda não sabe como será o retorno.
"Achei positivo que a comunidade escolar, principalmente os professores, estão pressionando para voltar. De repente, fica uma impressão para a sociedade que os professores estão fazendo corpo mole. Isso nunca aconteceu. Quanto à questão do 50%, não sei como poderia ser implementando nessa segunda-feira. Onde eu trabalho, por exemplo, algumas partes ainda estão em obra", contou o professor.
Ele também deixou clara a sua preferência pela volta 100% presencial. "Como também trabalho na rede particular, acredito que esse retorno gradual não faça muito sentido. É possível avisar sexta que na segunda-feira volta 100%. Claro, não vai ser perfeito como o ritmo normal, mas o negócio é voltar. O pessoal está planejando devagar, mas pelo menos está mais rápido do que semana passada. O quadro vai mudar antes do que estávamos imaginando".
Antes da mudança, os alunos estavam indo à instituição a cada quinze dias em horários de contraturno. Isso porque, no dia 2 deste mês, o Consup decidiu adiar a volta que havia sido marcada para o segunda-feira, 7. Além disso, anunciaram uma nova reunião dia 25 para decidir as condições do ensino. Essa medida desagradou aos pais, professores e alunos.
Lívia Marinho, 17 anos, está no 2º ano do ensino médio e participa do grêmio estudantil do colégio. Ela também não concorda com as atitudes que o colégio têm tomado até o momento.
"Estávamos tendo mais uma aula de apoio do que aula de verdade. Pouquíssimos estudantes aderiram, porque muitos tinham atividades extracurriculares ou trabalho no contraturno. Iam quatro ou cinco alunos em cada turma. Agora, a pressão aumentou. Essa liberação do novo ensino híbrido, que também foi mal planejado, foi uma maneira de conter a opinião pública. Os alunos estão defasados, com dois anos de matéria acumulada que não conseguimos assimilar ou aprender. Precisamos do 100% presencial. Nos últimos dois anos, me sinto abandonada como aluna", reclamou.
Novos protestos no fim de semana
Os alunos do Pedro II marcaram um novo protesto pela volta das aulas presenciais. O ato acontece neste sábado (12), no campus de São Cristóvão, em frente a reitoria, às 10h. Ainda, na segunda (7), estudantes do colégio e do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) foram para Cinelândia, no Centro, e no campus do Maracanã para reclamar de demora na volta às aulas.
Diferentemente dessas instituições, escolas municipais, estaduais e particulares começaram o ano letivo presencialmente nesta segunda (7).