Luiz Alberto do Cabo, 48, foi morto enquanto dormia. Foto feita pela Polícia Civil mostra como corpo foi encontradoDivulgação
Major colocou arma na mão de marido morto e fez disparo pela janela
Oficial que simulou suicídio do marido relata rotina doméstica de terror. Confira na íntegra o depoimento em que ela assume o crime
Rio - Em seu segundo depoimento, no qual assume o homicídio do marido, a major Fabiana Pereira Ribeiro, 41, descreveu uma rotina doméstica de terror. Nem as crianças, de três e oito anos, escapariam da agressividade de Luiz Alberto Cabo, 48, que tomaria remédios tarja preta e anabolizantes, sem prescrição, segundo a oficial. O crime ocorreu na manhã do dia 28 de fevereiro, mas a policial só assumiu o homicídio cinco dias depois. O DIA teve acesso ao relato e destacou os principais trechos.
Major relata uso de remédios e problemas psiquiátricos de marido
"QUE LUIZ ALBERTO possuía claramente problemas psiquiátricos, porém não diagnosticados, pois recusava-se a ir a qualquer tipo de médico. QUE também não aceitava nenhum apoio psicológico. QUE LUIZ ALBERTO possuía comportamento violento e agressivo com a declarante e com seus filhos, apresentando sempre problemas de humor, alternando em poucos momentos de euforia e na maior mau humor e extrema irritação.
QUE LUIZ ALBERTO recusava qualquer vida social, inclusive recusava qualquer atividade social relacionada aos filhos. QUE LUIZ ALBERTO utilizava medicações tarja preta por conta própria, comprando grande quantidade de medicação em fontes que a declarante não conhece. QUE LUIZ ALBERTO também utilizava esteroides anabolizantes por conta própria, o que aumentou ainda mais seu nível de agressividade diária com todos"
Agressões em pós-operatório
"QUE há cerca de 5 meses as agressão passaram a ser diárias, tanto contra a declarante, como contra seus filhos, na forma de xingamentos, ameaças e espancamentos. QUE a declarante acredita que após uma cirurgia plástica que realizara neste período, o ciúmes e desejo de posse de LUIZ com a declarante aguçou demais.
QUE LUIZ ALBERTO chegou a espancar a declarante ainda no período de pós-operatório com os pontos cirúrgicos ainda no local. QUE LUIZ ALBERTO vistoriava diariamente o telefone celular da declarante a procura de mensagens de supostos amantes, os quais nunca existiram. QUE ele também checava diariamente as mensagens no e-mail da declarante"
Agressões na frente do filho, que também seria espancado
"QUE em uma das últimas agressões, LUIZ ALBERTO espancou tanto a declarante, que ela acreditava que iria morrer, socando demais seu rosto. QUE neste dia ele chegou a levá-la para a parte externa da residência dizendo que iria matá-la. Nesta ocasião a declarante começou a gritar pedindo ajuda. Ocasião que por desespero ela chamou por seu filho T. de 8 anos de idade, e este não apareceu.
QUE após cessada a agressão, T. disse a declarante que ficou parado na escada com medo de ir para a parte externa na residência e seu pai o agredir. QUE LUIZ ALBERTO também agredia a T. constantemente, chegando a colocar sua mão contra a parede e desferir socos em suas mãos a ferindo. QUE LUIZ ALBERTO por qualquer motivo batia em T., também na forma de tapas, socos e chineladas.
QUE recentemente LUIZ ALBERTO também passou a agredir a filha do casal de nome B. de 3 anos de idade, na forma de tapas. QUE LUIZ ALBERTO ameaçava constantemente a declarante de todas as formas, chegando a dizer que mataria a declarante e seus pais, caso ela procedesse criminalmente contra ele. QUE os pais da declarante são idosos e acometidos por doenças crônicas, o que causava mais temor ainda a declarante".
Briga em restaurante, coronhadas, socos nos olhos e ameaça de morte
"QUE no início do mês de fevereiro do corrente ano, LUIZ ALBERTO e a declarante foram comer fora, o que era raro demais, já que LUIZ ALBERTO jamais aceitava sair de casa. QUE foram para a Barra da Tijuca, para um restaurante de nome XXXX, em ocasião que LUIZ ALBERTO iniciou uma discussão alegando que a declarante possuía um amante. QUE a declarante tentou conciliar a situação e foram embora. QUE no interior do veículo LUIZ ALBERTO iniciou uma sessão de espancamento, a coronhadas na cabeça da declarante e socos em seu rosto, ferindo a declarante em seus olhos.
QUE em seguida disse a declarante que iriam para o morro do Vidigal e ele a jogaria lá de cima. QUE reforçou que a jogaria nas pedras e ninguém a encontraria tão cedo. QUE novamente ameaçou matar a família e os filhos da declarante, caso comentasse o ocorrido com alguém. QUE a declarante ficou uma semana sem ir trabalhar com muita vergonha do fato, não comentando com ninguém".
Marido estaria deprimido e agressivo na noite que antecedeu o crime
"QUE em 27FEV2022 LUIZ ALBERTO no período apresentou-se bastante depressivo. QUE no período da tarde a declarante foi a uma festa infantil com seus filhos. QUE LUIZ ALBERTO recusou ir a festa. QUE ao retornarem a declarante encontrou LUIZ ALBERTO sentado no sofá da sala, com aspecto de estar aborrecido e contrariado. QUE a declarante deu banho nas crianças e ao final o chamou para subir para o quarto, para todos juntos assistirem TV. QUE LUIZ ALBERTO sequer respondeu a declarante.
QUE a declarante deixou sua filha no quarto da criança e ficou jogando no telefone celular com seu filho. QUE após algum tempo surgiu LUIZ ALBERTO, o qual foi para o banheiro tomar um banho, dirigindo-se em seguida para a cama do casal. QUE a declarante lhe entregou o controle da TV e este sequer respondeu. QUE a declarante pediu para o filho entregar o controle, LUIZ ALBERTO disse "DIZ PARA ESSA PIRANHA ESCROTA QUE EU NÃO SOU SURDO NÃO!", na presença do filho do casal.
QUE a declarante voltou a jogar com seu filho. QUE após o período de 10 minutos, LUIZ ALBERTO levantou-se da cama com o travesseiro na mão, saindo do quarto. QUE a declarante continuou com seu filho. E dormiram por algum tempo. QUE a declarante foi acordada por LUIZ ALBERTO a sacudindo e gritando "LEVA O T. PARA A CAMA DELE E SAI DA MINHA CAMA!". QUE a declarante levou T. para seu quarto e retornou ao quarto do casal, perguntando a LUIZ ALBERTO o que estava acontecendo.
QUE LUIZ ALBERTO disse que iria levantar e-mails antigos da declarante de anos anteriores, para saber se ela tinha algum amante; e começou a xingar a declarante na forma "PUTA MENTIROSA!" e disse que iria destruir a vida da declarante; e estragar a vida da declarante na Polícia. QUE ainda disse que jamais a declarante iria ver seus filhos mencionando-os na forma "O RETARDADO" e a "PIRANHINHA", fazendo menção a T. que é acometido por Deficit de Atenção e a filha de 3 anos do casal. QUE em seguida disse para a declarante ir embora da residência dia seguinte. QUE iria reunir todos na casa, os pais e empregados e dizer a todos quem a declarante era. QUE era para a declarante ir embora com a roupa do corpo; e jamais veria seus filhos de novo; e que a destruiria. QUE em seguida disse que queria ver a declarante MORTA. QUE LUIZ ALBERTO então deitou-se.
Major diz que atirou em marido enquanto ele dormia e fez segundo disparo pela janela
"QUE LUIZ ALBERTO sempre dormia com uma pistola cal.45 com 4 carregadores reserva ao lado da cama. QUE a declarante foi ao banheiro do quarto, buscou sua arma no "closet". QUE a declarante estava receosa demais de LUIZ ALBERTO a matar. QUE a declarante então dirigiu-se a cama e disparou contra a cabeça de LUIZ ALBERTO, o qual estava deitado e acordado na cama, há poucos centímetros de sua arma, ao alcance de sua mão. QUE em seguida disparou a arma novamente nas mãos de LUIZ ALBERTO em direção a janela da casa. QUE a declarante esclarece ainda que entendeu que LUIZ ALBERTO iria matá-la naquela noite, em virtude de ter falado novamente que queria vê-la MORTA.
QUE após o disparo a declarante foi para a sala verificar se seus filhos acordaram e ligou para o telefone 190 pedindo auxílio. QUE em alguns instantes surgiu no local uma guarnição PMERJ, onde a declarante por muito medo, disse que LUIZ ALBERTO havia cometido suicídio. QUE as armas de LUIZ ALBERTO eram "frias" (sem registro), então a declarante temerosa pegou a arma que estava ao lado do corpo e a guardou no escritório. QUE no mês de setembro do ano de 2021 LUIZ ALBERTO apontou uma de suas armas de fogo contra a declarante e disparou, porém a munição falhou e não percutiu.
QUE LUIZ ALBERTO tirou fotografia da munição e a possui em seu telefone celular; e a exibia para a declarante a todo o tempo. E nada mais disse". O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil. A major não foi presa porque não houve flagrante. Ontem, ela foi afastada oficialmente das suas funções.
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