Ato na estação da Magarça interdita trânsito em Guaratiba, Zona Oeste do RioFabioCosta

Rio - Um protesto de passageiros impediu os veículos de circularem por cerca de cinco horas na manhã desta sexta na estação Magarça, em Guaratiba, na Zona Oeste. Os usuários desembarcaram por volta das 7h alegando a precariedade do transporte e ocuparam as pistas da Avenida Dom João VI, no sentido Barra da Tijuca. A via foi liberada no início da tarde, por volta do meio-dia.
Após negociação com agentes da Polícia Militar e da Guarda Municipal, os manifestantes liberaram uma faixa da via às 8h para passagem de carros, motos e caminhões. Mas, bloqueiam a passagem de ônibus e articulados BRT. Às 9h30, a interdição na via permanecia, provocando congestionamento. O Centro de Operações Rio sugere como caminhos alternativos a Avenida Cesário de Melo e Avenida Brasil. O trânsito só foi liberado por volta de meio-dia.
A cozinheira Janete Gomes de Oliveira esperou por cinco horas na estação para conseguir pegar o BRT para a Barra da Tijuca, onde trabalha. Ela avalia que nos últimos meses o serviço piorou. A passageira elogia o sistema como uma boa opção de transportes, mas cobra melhorias. Janete criticou a extensão que o protesto tomou.
"Toda tarde quando eu volto do trabalho, o BRT quebra. A gente enfrenta muita fila. Está demorando demais todos os dias. A gente só queria um pouco de respeito porque pagamos uma passagem cara e estamos com um meio de transporte muito ruim. O BRT é bom, mas está faltando uma boa administração. Que o prefeito pudesse dar atenção, principalmente aqui na Zona Oeste", criticou.
A cozinheira disse não saber que liderou a manifestação e disse que poderia ter sido encerrada após as autoridades terem tomado consciência. "A manifestação é válida, mas já poderia ter dado um fim. Já tem gente com fome, querendo ir ao banheiro. Até as 9h, teria sido o suficiente. Quando perde a razão, perde o direito. Já chegou o limite. A gente tinha que reivindicar, já chegou no ouvido do prefeito, já chega. Quero trabalhar", afirmou. 
Ao comentar as crises sofridas no sistema BRT intensificadas após a empresa pública de transportes Mobi Rio assumir a administração do modal, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), falou na manhã desta sexta-feira (11) que sofre sabotagem de empresários de ônibus, a quem ele diz estar enfrentando. As declarações foram dadas em entrevista ao programa 'Bom Dia, Rio' da TV Globo.
O prefeito Eduardo Paes afirmou que empresários do setor resistem às mudanças implementadas por sua gestão, que transferem o poder de controle do sistema dos empresários para a prefeitura.
"Outro dia, chegou aos meus ouvidos uma história de que uma grande fornecedora de ônibus, com a licitação acontecendo na próxima quarta, pode alegar que a guerra na Ucrânia pode criar um problema no preço do ônibus. Reparem na licitação da bilhetagem: por que não apareceu ninguém? Tinha três empresas na porta. É óbvio que há sabotagem - você está mexendo com interesses econômicos das empresas de ônibus, que estão aí há muito tempo", afirmou o prefeito.

Eduardo Paes também afirmou que a prefeitura está com dificuldades de comprar mecânicos para reparar os ônibus porque os funcionários estão sendo contratados com preços mais vantajosos pelas empresas de ônibus que operavam o BRT, que por sua vez, se dizem sem dinheiro, o que para o prefeito representa uma contradição.
"As empresas do sistema anterior, que dizem não ter dinheiro, estão contratando mecânicos nossos. É óbvio que estou sendo sabotado. Mas o problema não sou eu. O prefeito tem carro. O problema é a população", disse.
A dificuldade de alugar ônibus no mercado, medida que aliviaria a crise no sistema também foi citada pelo prefeito. A licitação para compra de ônibus será realizada na próxima quarta-feira. Os veículos estão previstos para chegar no segundo semestre deste ano.
"Temos dificuldades neste momento para alugar ônibus. Estamos desmontando um sistema que domina não apenas o Rio, mas o Brasil. Então, o sujeito que é sócio de uma empresa aqui é sócio de uma empresa em São Paulo, no Acre, em Salvador. Na greve que tivemos, conseguimos quase 200 ônibus para alugar. Hoje tem, no máximo, de 36 a 40 para alugar", disse Paes.
O prefeito reconhece, que por ser um setor concentrado, o município precisa alugar veículos dos mesmos empresários a quem está enfrentando, por falta de opção. "Se não alugarmos os ônibus desses empresários, vamos alugar de quem? O sujeito que é sócio ou dono da empresa aqui também é sócio ou dono das empresas em São Paulo. Para se ter uma ideia: tem gente que tem empresa concessionária e é dono da empresa que faz ônibus"
Eduardo Paes pediu compreensão. Paes afirmou que reconhece que a qualidade do sistema BRT está precária, mas diz que vai resolver o problema. 
"No caso dos transportes, há uma crise institucional, reputacional. Os escândalos todos recentes fizeram com que medidas judiciais fossem tomadas contra as empresas de ônibus - por exemplo, você não tem aumento de tarifas há quatro anos, proibido por decisão judicial. Por exemplo, hoje o diesel está aumentando 25%. Isso não é repassado, você tem, de fato, um gasto maior. Mesmo que os empresários de ônibus fossem a Madre Teresa de Calcutá, o que não é o caso, ainda haveria muita dificuldade. Então, vivemos uma crise profunda no modelo, institucional", disse.
Nas redes sociais, o prefeito do Rio acusou a emissora Record de ter incitado o protesto nesta sexta-feira. Em dois vídeos, Eduardo Paes mostra um homem, que estaria em uma motocicleta da emissora, chegando à estação Magarça e convidando passageiros a começar a manifestação. No post, ele sugere que o esse suposto funcionário da emissora seria ex-assessor do governo de Marcelo Crivella (Republicanos).

"Depois do 'motoqueiro fantasma' da Record, agora temos também uma nova liderança do 'protesto' que paralisou o BRT: um Guardião do Crivella. Volto a perguntar: qual o interesse dessa gente? O que a turma do Crivella quer?", questionou.



Procurada por O DIA, a Record TV Rio afirmou que a emissora repudiu as declarações de Paes durante o programa 'Balanço Geral Rio'.
A Mobi-Rio informa que pela manhã desta sexta-feira 185 articulados estavam operando, descontados os que tiveram alguma pane. A equipe de manutenção está sendo reforçada nas garagens. Também está sendo implantado em fase de teste o "mecânico motociclista", que transporta um kit de socorro aos articulados, afirmou em nota.