Devem procurar uma unidade de saúde quem apresentar três semanas consecutivas de tosseDivulgação
Apesar do número de casos diagnosticados e notificados ter sofrido redução em 2020, reflexo do primeiro ano mais crítico da pandemia, o número de óbitos tem aumentado. Em 2020, foram registrados 765 óbitos no estado. Em 2019, 659 mortes. Em 2021, 805. "Provavelmente mais pessoas morreram de tuberculose porque menos gente foi diagnosticada e tratada em comparação com 2019", afirma Marneili Martins, gerente de Tuberculose da SES.
No período, o Rio de Janeiro foi o estado com a maior proporção de casos (23,4%), seguido de São Paulo (16,8%) e Rio Grande do Sul (9,5%). Entre as capitais brasileiras, as maiores proporções foram identificadas nas cidades do Rio de Janeiro (14,8%), São Paulo (7,0%) e Manaus (6,0%).
No que diz respeito à proporção de casos de tuberculose drogarresistente notificados, segundo sexo e faixa etária no Brasil em 2019, os indicadores revelam maior proporção em indivíduos do sexo masculino em todas as faixas etárias, com maior concentração entre homens nas faixas etárias economicamente ativas de 30 a 39 anos e 40 a 49 anos, cada um correspondendo a 15,9%.
Entre os casos de tuberculose notificados no país de acordo com a autodeclaração de raça ou cor de pele, as maiores proporções foram observadas entre os pardos (50,7%), brancos (30,3%) e pretos (16,6%). Na variável escolaridade, houve predomínio de casos de tuberculose drogarresistente entre aqueles com 4 a 7 anos de estudo (39,4%), seguido daqueles com 8 a 11 anos (24,4%) e 1 a 3 anos (13,4%).
Os indicadores também revelam uma proporção de 52,4% de sucesso terapêutico (tratamento completo + curado) entre os casos novos de tuberculose drogarresistente no Brasil em 2019, seguida por 28% de abandono, 5,7% de falência e 5,6% de óbito por tuberculose. O Estado de Goiás e Rondônia apresentaram as maiores proporções de abandono. Já as maiores proporções de sucesso terapêutico foram reportadas nos estados do Amapá, Acre e Mato Grosso do Sul.
A tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível, causada pelo Mycobacterium tuberculosis, que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e sistemas. A doença ainda persiste como um grave problema de saúde pública no Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 465 mil pessoas foram recentemente diagnosticadas com tuberculose resistente aos medicamentos em 2019. Destas, mais de 60% não conseguiram obter acesso ao tratamento.
Municípios recebem R$ 19,5 milhões para garantir suporte social
Entre as ações da SES dentro do Plano Estadual de Enfrentamento à Tuberculose está a transferência de recursos do Fundo Estadual de Saúde, no valor de R$ 19,5 milhões, para Fundos Municipais de Saúde, direcionados à implementação de iniciativas de segurança alimentar e nutricional e suporte social para pessoas diagnosticadas com a doença. Os repasses são destinados ao pagamento de auxílio alimentação no valor de R$ 250, conforme pactuado na Comissão Intergestores Bipartite (CIB), a cada paciente em tratamento. E poderá ser viabilizado através de vale-alimentação, cestas básicas, restaurantes populares ou cartão alimentação.
"A garantia do direito à alimentação para as pessoas acometidas por tuberculose é fundamental. Há evidências de que o comprometimento do estado nutricional e a desnutrição destacam-se como fatores de risco para o desenvolvimento e o agravamento da doença. O benefício é destinado a todos os usuários com diagnóstico da doença notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que estão sendo acompanhados pelos programas de controle da tuberculose, seja por unidades municipais, estaduais ou federais, a nível ambulatorial", detalha Marneili Martins, gerente de Tuberculose da SES.
Pacientes sofrem preconceito
Estigma e preconceito rondam os tísicos, como ficaram conhecidos os tuberculosos. Isso porque entre os fatores da disseminação da doença estão a pobreza, a desnutrição, as más condições sanitárias e a alta densidade populacional. Além disso, a Aids e a tuberculose costumam afetar os mesmos grupos, reforçando o estigma. Entre as vítimas fatais de tuberculose em 2014, 12% possuíam as duas doenças, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Isso acontece, principalmente, porque o sistema imunológico fica debilitado e não é capaz de defender o corpo contra o agente causador da tuberculose, o bacilo de Koch.
Uma das vítimas do preconceito, a agente comunitária de saúde (ACS) Rita Smith, de 59 anos, conseguiu mudar o rumo da sua história de dor e sofrimento e usou a sua experiência de luta no convívio com a doença para mudar a realidade de moradores da sua vizinhança que, na ocasião, era conhecida como o maior foco de tuberculose do país: a Rocinha. Ela perdeu a mãe para a tuberculose, em 1984, contraiu a doença logo depois e enfrentou um longo calvário até entrar para a equipe de agentes comunitários, em 2003. Rita passou, então, a atuar na linha de frente de combate à doença e se engajou em movimentos para conscientizar os moradores.
"A tuberculose é a doença da precariedade, da insalubridade, da vulnerabilidade social. Sou alcoólatra, era usuária de drogas e perdi a minha mãe para a tuberculose. Fui no fundo do poço, enfrentei o preconceito por ser homossexual, abandonei o tratamento duas vezes, mas quando me ergui, visualizei a importância da minha experiência para mudar a realidade das pessoas", relata Rita, que hoje é agente comunitária aposentada.
Na época em que Rita começou a atuar, a Rocinha estava enfrentando seu pior momento com a doença. Em 2001, chegou a registrar 455 casos por 100 mil moradores. Na ocasião, graças à atuação de equipes de saúde das três esferas públicas no local, a taxa de recuperação chegou a 93% dos casos. Dados de 2021, ainda sujeitos a alterações, mostram que a incidência de casos da doença no estado está em 74,07 por 100 mil habitantes, e a de mortalidade, 4,6 por 100 mil habitantes.
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